Martinho da Vila afirma que já teve mulheres de todas as cores, de várias idades e de muitos amores. Acredito. Martinho é uma pessoa cheia de prosas, de rimas e de sambas. Uma pessoa assim atrai e diverte, principalmente mulheres de todas as cores. Eu, em minha humilde atuação neste cenário, já tive algumas também, mas não de todas as cores. As louras parecem não gostar muito de pobre, o que é meu caso, e creio que assim o será para toda a vida, o que não muda em nada minha alegria de viver minha pobreza suprema e bela, sem as louras. Isso não significa que defendo a pobreza extrema. Observem que falei em “pobreza suprema” e não pobreza extrema. Essa pobreza última é triste, feia e dolorosa. Essa pobreza nos deixa um pouco non sense, e retira da nossa vida o próprio sentido que a vida tem. Essas vidas supremas e extremas se batem e se encontram em Recife, Pernambuco, no Poema de João Cabral de Melo Neto, “Morte e Vida Severina". Entretanto, em meu trajeto de pobreza, eu tive minha família. E meus pais contavam histórias. E nós vivemos nossas próprias histórias de modo único e singular, histórias que rememoramos da grande riqueza que havia em nossa pobreza e que os mais jovens nem imaginam em sua relativamente e comparativamente abastada vida de classe emergente.
Mas voltando às “mulheres de todas as cores”, confesso que também "as tenho", de todas as cores. Eu aprendi a ser homem com mulheres, a começar por minha mãe. Desde cedo percebi que as mulheres eram mais firmes e mais inteligentes que nós, os homens. Os homens com os quais convivi geralmente eram falastrões – acho que aprendi alguma coisa com eles nesse sentido – e cheios de si. Acreditavam-se heróis e poderosos, senhores do seu destino e dos destinos de suas mulheres, filhos e filhas, entre outros que estavam nos limites de sua “irresistível atração gravitacional”. Eu tenho um amigo em Jacobina, cheio de tiradas recheadas de humor. Adoro conversar com ele à Beira Rio. Ele diz que quando lava suas cuecas está lavando seus “porta-joias”, e que, em relação às mulheres com as quais namora trabalha com sua famosa “lista de espera”. Reflete, assim, essa nossa vocação masculina para a hipérbole. Algumas mulheres já estão apreendendo essa linguagem. Conheço uma pessoa que só “desce” “toda trabalhada na elegância” e não "trabalha" (estabelece relações amorosas) com determinada faixa etária de homens, velhos, por sinal. Mas independente das mulheres dominarem ou não este discurso, elas acertam seus alvos contando com os recursos e os contextos que compõem a realidade e o objeto-alvo de seus interesses.
Meu pai parecia um leão enjaulado, com a gente dentro da jaula. Mas minha mãe, agia como uma domadora silenciosa, perseverante, perspicaz e empoderada, cheia de fé e esperança no caminho que escolheu para trilhar, no lugar que escolheu para chegar. Hoje eu percebo isso com mais nitidez. Aquela fera de araque, que o contexto cultural produzia em muitos homens daquele tempo, não assustava a "bela". O milagre feminino da vida fazia o leão acalmar sua fúria e sua fome, e atravessava o tempo, todos os dias, para chegar ao lugar impossível que a fé, a coragem e a esperança inabalável conduz. Minha mãe está comigo para sempre, e, talvez, ainda depois, como diria o poeta. Se a “mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor”, uma mulher madura, senhora do seu caminho, tece a história do mundo a partir dos pequenos e vastos espaços em que ela se faz presente. Não uma mulher senhora no sentido de dominar e controlar todos os passos, como sonham os homens, mas no sentido de saber que todos os passos dados, não a demoverão de seu caminho escolhido, sejam tais passos bem ou mal sucedidos.
Acredito piamente que nós, os homens, seríamos muito mais homens se escutássemos mais e prestássemos mais atenção ao que as mulheres fazem e seus métodos de viver. A inteligência, a elegância, a força, a perseverança e a perspicácia das mulheres, além do refinamento de suas estratégias e de outras virtudes não percebidas por este pobre e limitadíssimo mortal, são elementos cruciais para qualquer currículo escolar. Para formar humanos renovados que podem e devem melhorar esse pedaço paradoxal de mundo denominado historicamente de “Brasil”. Eu sou um exemplo vivo disso. Não que tenha aprendido tudo aquilo que deveria, talvez não tenha aprendido nem o mais essencial delas, mas aprendi muito com as freiras Irmã Amparo e Irmã Helena, entre outras freiras; com Fátima Leiro, com Lícia Maria, com Jacinta Marta, com Conceição Aquino, Com Janai da PJMP (Pastoral da Juventude do Meio Popular), com Lúcília e Dilma, com minha sogra Maria Lídia, com Dona Lizete do Calafate, Dona Maria da “Rua do Bode”, as “Batalhadoras do Calafate” e tantas outras mulheres que, cada uma a seu estilo, foram ensinando-me a ser mais gente e preparando-me para um futuro diferente nas relações entre os gêneros.
Hoje em dia aprendo muito com Mãe Stella, a Yalorixá do Ylê Axé Opô Afonjá. Sua maneira simples, direta, serena e calma de ensinar me faz crer muito mais em Deus e na Vida Suprema que nos rodeia a cada folha que cai em nosso chão. Aprendo muito com Malu Fontes, com seu estilo direto, agressivo, propício aos canalhas de plantão na política e nas mídias que utilizam suas imagens para ocultar a verdade, omitir-se, criar factóides, fabricar e eleger pseudos heróis para dirigirem a nação. Aprendo muito e sou provocado pela coragem e firmeza da Promotora Rita Tourinho, com a poesia de Adélia Prado e a poesia militante e encantadora de Elisa Lucinda. Aprendo com minha irmã, Itajacira Dórea e com minha mulher, Ana Lúcia, com a qual venho melhorando mais como homem, como irmão, como profissional, como amante, como educando permanente de minha senhora, com raros momentos de educador. Continuo, enfim, tendo e aprendendo com "mulheres de todas as cores, de várias idades, de muitos amores". E é assim que vou sendo educado e podendo, nesta breve vida que tenho, ser menos rude, menos violento, menos pobre e, portanto, mais rico de humanidades, mais sereno, mais homem.
Joselito da Nair, de Itajacira, de Fátima Leiro, de Conceição Aquino, de Irmã Amparo e Irmã Elena, de Mãe Stella, de Rita Tourinho, de Adélia Prado, de Lícia Maria, de Dona Lizete e de Dona Maria, de Lucília e Dilma, de Elisa Lucinda, de Malu Fontes, de tantas mulheres de todas as idades e cores e de Ana Lúcia, minha mulher suprema.
Muito legal. Gostei da sensibilidade. Abraão
ResponderExcluirObrigado Abrãao. E você só percebeu minha sensibilidade em função da sua sensibilidade renovadora. Penso que quando reconhecermos, não apenas com palavras, o sabor e o saber do feminino em nossas vidas, entenderemos sua fonte de poder e compartilharemos essa vida com mais justeza, com mais beleza, com mais encanto.
ExcluirUm abraço: Joselito
Itajacira (cira), de Jorge,Joselito, Ecinho,Tiago,Paulinho,Davi,Gui e de Paulinho neto, kkkkkkkk
ResponderExcluirQuero agradecer, vc ter lembrando de sua humilde irmã, em um de seus textos.
Ti amo.