Não
é qualquer pessoa que pode ocupar um governo ou exercer o papel de liderança.
Assim como não é qualquer homem e mulher que podem ter um (a) filho (a). Há
pessoas que não podem ser o que são nem estar no lugar institucional em que se
encontram. Simplesmente porque não gostam do que fazem, odeiam os ônus de ser
governo ou de ser pai e mãe. Não têm capacidade de fazer o que deve ser feito,
principalmente nas situações mais difíceis, que requerem decisões firmes e
rápidas. Refiro-me a pessoas, mas o termo correto para me referir à realidade
baiana não é este. Talvez, fosse “cultura”. Porque a nossa cultura baiana
degrada antecipadamente qualquer governo, qualquer ação política de estado, na
medida em que julga os fatos e fenômenos a partir da conservação indefinida do
grupo que governa no poder do estado e não o bem-estar da população a qual
deveria servir.
Nossa
cultura política nunca entendeu, por razões diversas, que governar é servir, é
trabalhar para que a população do estado federativo seja mais feliz. E ser mais
feliz, nesse caso e concretamente, é ter acesso a uma educação pública de
qualidade, a um sistema de saúde eficiente, a uma proteção do estado, cujo
braço armado – as polícias e seu direito exclusivo de matar – seja exercido em
nome da vida, do direito, da verdade e da justiça. Ser feliz para a população
diante do estado é também ter direito a saneamento básico, transporte coletivo
de qualidade, assistência social, acesso a praças, parques, campos de futebol,
quadras de esporte (Vôlei, futebol, basquete, tênis), bibliotecas, teatros, enfim,
o mínimo necessário que o estado deve garantir para que as pessoas,
principalmente as mais pobres, possam usufruir dos bens coletivos com
satisfação. Entretanto, como nossa cultura política nunca entendeu isso, a
nossa população vive triste, esquecida, abandonada em fins de mundo construídos
pelos poderes não estatais que governam soberanos sob o signo da imposição de
pessoas e pequenos grupos que exercem a violência como forma predominante de
coerção, inclusive a própria banda podre da polícia.
Com governantes
frágeis, mais preocupados com a próxima eleição do que o planejamento,
acompanhamento e a conclusão de obras e projetos cruciais para o
desenvolvimento do estado, o estado enfraquece seu poder, que deveria ser
exercido com firmeza para a felicidade da população, e permite que um grande
mosaico de terror, desesperança, mesquinhez, má vontade, ignorância, sujeira,
violência e mau gosto se instaurem como alternativa de um poder que, em sua
diretriz, não se alterna. Na Bahia, a saída do antigo PFL foi um aceno de nós,
povo, para a alternância do poder rumo à esperança que cultivamos. Esperamos o
primeiro mandato petista e não chegou a nova história que desejávamos. O
segundo mandato petista começou e ainda não percebemos elementos concretos de
felicidade para nós. Esse estado já estava falido pelo modo como é operado pela
cultura política e social que preside o nosso olhar, o nosso fazer, o nosso
ser. E o outrora Partido dos Trabalhadores, colaborou ainda mais para que este
lamentável conjunto de desvalores fortalecesse sua instituição. A noção de
cidadania da Revolução Francesa é ainda uma miragem em nosso território e a
construção do nosso espaço se dá pela via do interesse e do poder econômico, em
detrimento do combalido poder popular.
A
praça não é de povo algum, nem a de Castro Alves, nem a de Paripe. As calçadas
não são para os pedestres, e os parques não são dos moradores e transeuntes,
senão dos marginais. As obras não são do governo, mas dos interesses de
empreiteiros e políticos no desvio de verbas; as escolas não são do interesse
dos estudantes, pais de alunos (as), professores (as), e de diretores e
diretoras-educadores (as), mas do desinteresse geral. Os projetos culturais não
aparecem como elementos fortes de influência na formação da personalidade de
crianças, jovens e adolescentes. Nem as igrejas, que antes exerciam forte
influência em parcelas da juventude, não conseguem mais, depois que renunciaram
sua ação escatológica (entendida como o esforço de entender os últimos eventos
e sucessos do ser humano), motivar a juventude a participar da construção de um
mundo diferente deste nosso, mesmo porque, penso que a igreja aposta no evento
apocalíptico permanente como forma de manter o seu status e seu poder.
As religiões na Bahia, apostam mais no inferno aqui no mundo, do que na
transformação do mundo num Reino de Deus. O inferno rende mais fiéis que o céu.
O céu pode esperar.
E
nossa cultura patrimonialista, religiosa, que apresenta um deus num instrumento
de tortura apontando para o inferno como arma ideológica, e não um Deus humilde, corajoso, como símbolo
de libertação plena, junta-se a governantes mambembes, cujo tema da felicidade
da população passa distante de seus interesses de poder e ideológicos,
preocupados apenas em assegurar-se hegemonicamente no mundo, perpetuando o seu
legado de desprezo pelo que é essencial na política e na religião: a felicidade
das pessoas. Governam, portanto, mais a dor, que o prazer e a alegria que se
realizam, predominantemente, no acesso do povo aos bens produzidos pela humanidade.
Joselito da Nair, do Zé, de Ana Lúcia, de Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel
Joselito da Nair, do Zé, de Ana Lúcia, de Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel