Um governo é uma liderança
institucional. A liderança institucional nasce desde que é “eleita” para tal.
Um (a) coronel, um padre, um (a) médico (a), um (a) enfermeiro(a), entre
outras, são, naturalmente, lideranças institucionais. Mas não são,
institucionalmente, lideranças naturais. Como afirmava Raimundo Sodré com Jorge
Portugal, “[...] no cabo da minha enxada não conheço coroné.” Então há "coronés", padres,
enfermeiros e enfermeiras, médicos e médicas, governadores e governadoras que
não são lideranças naturais. São o produto de peças midiáticas com falácias
retóricas que buscam construir um imaginário ilusório que mal chega a alcançar
a opinião pública que tanto almejam como construção da hegemonia pela via ideológica.
Esse é o caso do atual Governo da Bahia.
Quando votei pela primeira e
única vez em Jacques Wagner esperava – de esperança – que ele e seu grupo tivesse
um projeto de governo, com linhas de ação claras na educação, saúde, habitação,
segurança, saneamento, infraestrutura, investimento, etc. Contudo, porém, mas,
sobretudo, entretanto, todavia, percebi, para minha tristeza e desilusão, que
não havia projeto algum! Só um pobre projeto de poder, eleitoral, periódico,
aleijado. O PT não mudou nada na Bahia, nem mesmo os representantes das DIREC’s
e de tantos outros órgãos da estrutura do estado baiano de coisas. Percebi
claramente que o PT não entende de administração, pelo menos na Bahia, mas de
eleição, de conversa fiada, de críticas a governos passados e a "heranças malditas" que o partido insiste ironicamente em preservar, de propagandas do que ainda não existe, de
promessas sobre o que não foi feito, ou foi muito mal feito. Fui vendo o
Partido dos Trabalhadores – que nos trazia esperança da ética prevalecer nos
assuntos de estado e de Governo, que faria o povo mais pobre e esquecido ter
acesso aos bens públicos como saúde, educação e segurança – perecer. Acreditei em "papá noé". E vi esse
mesmo Partido se partir ainda mais. Partir do seu “porto seguro” para navegar
nos mesmos mares que outros partidos, como o Pernicioso outrora PFL, navegavam,
em busca do poder eterno, mas sem a mesma convicção e competência.
Um governo assim não pode
ser uma liderança. Um governo que aposta no asfixiamento de uma greve de
professores que prejudica milhares de crianças, adolescentes e jovens baianos
não pode ser uma liderança. A corda que o governo Wagner teceu para enforcar os
professores e as professoras do estado baiano de coisas terminou por asfixiar
Ele mesmo e seu partido nesses 101 dias de greve que se passaram. A liderança esperada
não foi exercida por ninguém: nem por governador – que realmente governa a dor –,
nem por Ministério Público, nem pela Ah-sem-bleia Le-giz-inativa, nem pelo poder
jurídico. As lideranças institucionais provaram claramente que não são
lideranças naturais, que não têm capacidade de, no momento da crise, ter
coragem e defender a justiça e o direito. Aliás, justiça e direito que são
rapidamente defendidos quando se trata de greves da indústria civil pesada da
qual depende a construção do que o capital mais valoriza atualmente na Bahia: a
construção da Fonte Nova, que de nova só tem a aparência. A justiça e o direito não são para "sobrantes". "Sobrantes nem fazem protesto, nem são força política, são apenas votos.
Da mesma forma, Rui Oliveira não
deveria ser mais o porta-voz dos professores e das professoras da estragada rede
pública estadual de ensino que, de tão estragada, não pesca mais promessas intelectuais,
só estudantes mediocrizados por uma escola pobre para os “sobrantes” (Acácia
Kuenzer). Rui Oliveira, tal como os imperadores, reina absoluto desde quando eu estava iniciando minha carreira docente, demostrando claramente que a enfermidade democrática na
Bahia não é um sintoma apenas de partidos, mas de todos os setores: sejam eles
da sociedade política, sejam da sociedade civil. Que sindicato pobre é esse que
não consegue eleger ninguém diferente durante várias eleições? Que lideranças são essas
que não conseguem se mover, necessitando de uma “primavera árabe” em seu
processo político e eleitoral? Rui Oliveira deveria se tocar, como líder que se
supõe. Tanto tempo à frente de um sindicato é sinal de fraqueza do mesmo e não
de força. É sinal de que a renovação não existe, de que novas lideranças não
são estimuladas a participar, a não ser com o apoio explícito de um ou dois partidos
políticos controlando o comportamento de todos e de todas! É chegada a hora dos
interesses partidários e eleitoreiros mesquinhos deixarem de mão os movimentos sociais e
os sindicatos, para que eles se renovem e cumpram a sua função política,
cultural e social a contento.
Contudo, parece-me que o
governo da Bahia quer professores “sobrantes” mesmo! Professores e professoras
sobrantes para os sobrantes sociais e culturais, que mal sabem ler e escrever
ao final da educação básica da rede pública. Para esses sobrantes, professores
e professoras sobrantes também. Desrespeitados, mal pagos, ameaçados,
desprezados, desvalorizados, sem condições de participar de congressos,
seminários, encontros. Sem condições de adquirir livros, de pesquisar – e quando
pesquisam para mudar de nível é uma odisseia na "burrocracia" estatal – entre tantas
outras mazelas a que são expostos as professoras, os professores e seus sobrantes
alunos da educação básica pública do estado lamentável baiano de coisas.
Cazuza dizia que seus heróis
morreram de overdose. As lideranças baianas nunca morreram, porque ainda não
nasceram. Foram abortadas no ventre infectado da política brasileira e baiana. Não são líderes de verdade. Não têm coragem, autonomia e capacidade
de rebeldia, seguem - e ceguem - orientações partidárias. E as orientações partidárias cegam
e desorientam as iniciativas lúcidas das lideranças que foram extintas no
século passado.
Joselito
da Nair, do Zé, do Rafael, de Tantas Gentes, e de Jesus, O Emanuel
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