Todos
os dias nós podemos ter pequenos paraísos ao nosso redor. Mesmo em meio à
agitação das cidades e seu tempo apressado que nos empurra na fila dos seres
humanos insensatos. Quando a vida passa, traz com ela paraísos camuflados no
cotidiano, que muitas vezes não percebemos. Mas, quando estamos atentos,
montamos no cavalo selado que a história nos oferece e cavalgamos, nem que seja
apenas por algumas horas, ou mesmo alguns minutos, no gosto que a oferenda da
eternidade sugere.
E a
vida segue. E se a gente segui-la, quem sabe não encontremos nos vestígios
deixados pelo seu traçado o princípio certeiro dos nossos sentidos, de onde a
gente para e dispara em busca da felicidade. E caminhamos, seguimos, buscamos o
supremo a fim de cumprir uma tarefa que não sabemos direito a que se destina,
mas confiamos e desconfiamos que há algo de perene, que não seca jamais,
contido em tudo o que quer que façamos e deixamos de fazer, mesmo quando
erramos. E quando não temos essa disposição desse saber, ficamos, em virtude de
nossa imaturidade, nos culpando e nos desculpando sobre tudo o que acontece e
que nos envolve, amargurando o trajeto do mundo a partir do ponto em que nos
encontramos.
Há
um samba famoso que em seu refrão pede pra que deixe a vida o levar.
Compreendo. Mas penso que a vida sempre me leva. Mesmo quando eu me recuso a
ir. Pode ser que, nesse caso, ela me arraste, o que pode doer um pouco, mas
talvez nesse arrasto a vida esteja me levando com ela para sua fonte, onde o
amor e a justiça se fazem presente e onde tudo se explica sem palavras, sem a
linguagem artificial que mais oculta que esclarece. É o paraíso.
E o
paraíso não se encontra refém de nenhuma religião, de nenhuma crença e nem de
nenhum sistema montado, como uma gaiola, para aprisionar o paraíso e seu
Senhor. O destino de todo pássaro é voar e, como diria nosso saudoso Damário da
Cruz,
A possibilidade de arriscar é que nos
faz homens
Voo
perfeito no espaço que criamos
Ninguém
decide
sobre
os passos que evitamos
Certeza
de
que não somos pássaros
e
que voamos
Tristeza
de
que não vamos
por
medo dos caminhos.
Eu desconfio de todo arranjo
que tente controlar os eventos correntes da vida, pois a história demonstra que
esse controle busca apenas o poder de dirigir o ser humano para apenas um
caminho: o da reprodução do status quo
dominante, seja no campo religioso, seja no econômico, seja no político, seja
no cultural, seja na associação entre eles, confinando-o numa esperança
mesquinha e destinada à escravidão do ser humano em suas astes sedutoras da
segurança da certeza produzida como ração animal.
Então, eu recuso a gaiola tecida
por instituições falidas, que não mais respondem às indagações dos humanos na
contemporaneidade, e monto no cavalo alado das minhas escolhas em busca da
fonte onde a justiça e o amor dão a régua e o compasso para os nossos traçados
alados. Bem, pra terminar o interminável, deixo-lhes com a composição de Lucina e Luli, com interpretação magnífica de Ney
Matogrosso.
Fossem
ciganos a levantar poeira
A
misturar nas patas
Terras
de outras terras, ares de outras matas
Eu,
bandoleiro, no meu cavalo alado
Na
mão direita o fado
Jogando
sementes nos campos da mente
E
se falasses magia, sonho e fantasia
E
se falasses encanto, quebranto e condão
Não
te enganarias, não te enganarias
Não
te enganarias, não!
Fossem
ciganos a levantar poeira
A
misturar nas patas
Terras
de outras terras, ares de outras matas
Eu,
bandoleiro, no meu cavalo alado
Na
mão direita o fado
Jogando
sementes nos campos da mente
E
se falasses magia, sonho e fantasia
E
se falasses encanto, quebranto e condão
Feitiço,
transe-viagem, alucinação
Joselito
da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel
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