terça-feira, 2 de outubro de 2012

Educação e Comunhão



A educação é um processo impossível. Pelo menos naquela intencionalidade exata que se espera de uma racionalidade arrogante, que se enxerga como soberana no campo da formação humana, produzindo os humanos exatos, calculados em currículos laboratoriais, concebidos por ideologias conservadoras que se impõem de cima para baixo. Contudo, quando a educação se pensa como um acontecimento necessário para que a humanidade continue sua caminhada, como uma estratégia refinada de nossa espécie homo sapiens para produzir sua existência de forma humilde, ela se torna possível, na medida em que, percebe com Paulo Freire que ninguém ensina ninguém, mas que também ninguém aprende sozinho. Educamo-nos em comunhão, mediatizados pelo mundo.
 
Daí podemos depreender que não há educação quando inexiste comunhão. Pode até haver instrução, mas não educação. Por isso que José Carlos Libâneo nos fala que há muitas pessoas instruídas, porém poucas pessoas educadas. Há muitos advogados (as), médicos (as), engenheiros (as), doutores (as), mestres (as), professores (as) que são instruídos (as), mas não são educados. Por outro lado, há muitos (as) garis, faxineiros (as), zeladores (as), pedreiros, agricultores (as), lavadeiras de roupa e serventes que, invariavelmente, têm baixo grau de instrução, mas que são extremamente educadas. A comunhão exige que as pessoas que precisam e desejam aprender se aproximem respeitosamente umas das outras, formando duplas, trios, grupos, instituições baseados em princípios educativos, comungando da mesma origem e buscando um destino comum, mas não único, justamente porque educar é uma tarefa imprescindível para a permanência da história humana.

A educação é uma tarefa para muitos. Ao contrário do que se pensa. Evidentemente que os (as) grandes educadores (as) exercem um fascínio e uma mobilização de ideias e ações necessárias e imprescindíveis para o avanço de um movimento educativo e têm sua importância nesse processo. Mas são os educadores comuns, e muitas vezes anônimos, que constroem, dia a dia, a grande rede de sentidos onde os novos humanos são tecidos, e por se tratar de uma rede e não de uma concepção linear, cada ser humano tem vários caminhos a escolher, vários trajetos a decidir e a traçar, formando sua subjetividade, não num processo preciso de ser um humano exato, produzido sob certas especificações e medidas como querem igrejas e religiões, governos, classes, partidos políticos e grupos sociais, mas num processo eficaz de ser o humano, construído pelas possibilidades e acontecimentos que suas interações e suas capacidades lhe possibilitam, em comunhão com outros humanos.

O grande problema atualmente é que “os muitos” estão deixando de acreditar nas possibilidades da educação. E a comunhão está sucumbindo ao individualismo. Então, deixamos de educar. E a catástrofe desses novos humanos aparece no horizonte de nossa história, porque a educação só acontece em comunhão. 

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

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