Há duas coisas belas no mundo: amor e morte. Leopardi
Para o autor Paulo Freire (1993), “cabe ao professor observar a si
próprio; olhar para o mundo, olhar para si e sugerir que os alunos façam o
mesmo e não apenas ensinar regras, teorias e cálculos”. De fato, o professor
deve, também, ensinar os educandos a olharem para si mesmos e para o mundo.
Perceber a poesia e a feiúra do mundo, o encanto e o desencanto e, deste
espanto, encontrar um novo canto que ressignifique o seu pranto. O
fortalecimento da afetividade dos educandos também passa por aí.
Não podemos desistir de amar, mesmo que o verbo sofrer seja
conjugado juntamente. Amar é a arte mais difícil de aprender, contudo, é a
maior recompensa que qualquer ser vivo pode ter. E o amor exige dedicação,
comprometimento, observação dos detalhes, dos pequenos gestos, das discretas
faces que revelam os segredos que nem mesmo seu dono sabe. E refiro-me ao
amor supremo. Aquele pelo qual oferecemos nossa vida sem pestanejar, em nome do
que e de quem amamos.
Eu amo meu filho. Sei disso porque quando levei um tiro na perna
direita, num assalto a ônibus, com dor e tudo olhei para ele, que estava
sentado em minha perna esquerda para ver se estava bem e nada o havia atingido.
Minha perna sangrava e meu coração estava assustado demais com a possibilidade
terrível de meu filho ter sido ferido. Felizmente, o marginal deu muita sorte
naquele momento. Muita sorte. E eu ainda mais. Poderia levar muitos tiros a ver
meu filho ferido. Depois disso, parei de pegar ônibus. O marginal estava em
todos eles. E a polícia, o herói combatente, o braço armado do estado, em
nenhum deles. Naquele dia, 09 de dezembro de 2006, eu percebi o que era, de
verdade, amar.
Há pessoas privilegiadas em sua sensibilidade que não precisam
passar por situações limítrofes para compreender esses sentimentos e emoções
basilares do ser humano. Descobrem cedo, assim que experimentam desde a
primeira vez. Eu não sou assim. Sou atrasado para essas coisas. E talvez sempre
precise chegar perto do precipício, olhar o seu chamado de morte, para entender
que a vida, só vale a pena, com amor. Só que todos nós temos, cada um, o seu
precipício. A morte sempre nos chama de lá do fundo dele e, aos poucos, a gente
vai sentindo que o nosso caminho vai nos levando à grande queda. E Alguns de nós
vamos caminhando, procurando desviar dele e construir veredas e jardins à nossa
passagem, para ver se conseguimos passar pelo abismo numa descida suave, como
numa escorregadeira divertida para o mistério do sem-fim (Cecília Meireles). Muito
embora alguns e algumas dirão, com razão, que não há nada de divertido na
escorregadeira que leva para o abismo da morte. É. Penso também que, já que
vamos cair, não poderemos pelo menos, enquanto houver capacidade de escolha,
escolher como cair?
Por isso desejo um amor que me leve leve para o sem-fim. Por isso
desejo meu jeito de ir. Inventando uma esperança definitiva que me assegure no
apagar das luzes. Uma esperança com uma sobriedade tênue, mas cheia de paixão e
força, para morrer com suavidade, seja caindo de paraquedas no abismo, seja
descendo louco e alegremente na escorregadeira do sem-fim, que, no fim, me
espera.
Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, do amor, da morte, da caminho, da verdade e da vida.
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