Hojje estive lendo o jornal A
Tarde de domingo, 04/11/2012. Na página A³, o bispo dos católicos, Murilo
Krieger, retoma a história do homem invisível, a partir de uma leitura sua, em
outro jornal, de uma experiência de um estudante de sociologia, onde o mesmo
[...] quis conhecer o
olhar das pessoas nas avenidas de uma cidade grande. - isto é, saber o que elas
realmente veem, para onde se voltam e a que dão valor. Vestiu-se por isso de
forma simples, como se fosse um dos muitos trabalhadores braçais que diariamente
cruzam os caminhos de todos. Sua primeira surpresa: em pouco tempo percebeu que
simplesmente não era notado por ninguém! Sim, ninguém percebia sua presença,
ninguém o notava, nem mesmo seus velhos conhecidos e amigos. Constatou que,
para muitos, ele simplesmente não existia: havia se transformado em um homem
invisível. (KRIEGER, Murilo. O homem invisível, Jornal A Tarde, página A3, Salvador,
domingo, 4/11/2012)
Em função desta triste
realidade, ressalto, mais uma vez, e creio que não será a última, a relevância
de um “ensaio sobre a cegueira”, como propunha Saramago e Jesus Cristo. Ensaio
mais que necessário nesse tempo de tantas imagens, tantas ideias, e tão poucas
convicções e coerência. Os católicos veem Cristo numa cruz, na imagem projetada
na igreja que frequentam, mas não vê as mulheres e homens simples que nos
rodeiam. Os evangélicos, com seus paletós e gravatas, e suas bíblias nas mãos,
como armas apontadas contra aqueles e aquelas que não creem ou que não fazem
parte de seu partido celestial, também são cegos para as pessoas simples, muito
embora eles e elas mesmos (as) sejam pessoas simples.
Os varredores e as
varredoras de rua, os garis, as zeladoras e os zeladores de prédios, os
ascensoristas e as ascensoristas de elevadores, os vendedores de picolé e de
cafezinho, as senhoras do mingau e todas aquelas pessoas que exercem funções
consideradas simples são atiradas na invisibilidade social, denúncia viva de
nossa cegueira, da seleção preconceituosa de nosso olhar, da redução seletiva
de nossa visão, que não percebe humanidade em toda gente e esquece, muitas
vezes, dos preceitos de suas próprias crenças que, por não serem profundamente
refletidas, não se tornam convicções pessoais ao lidarmos com os fenômenos da
existência, entre elas, a qualidade de nossas relações sociais, políticas e
culturais.
Há pessoas que não existem
para nós. Não porque não as conhecemos, mas, simplesmente, porque não as
percebemos, por causa de um olhar pobre de humanidade que cultivamos em busca
de um falso e inalcançável status quo
privilegiado. Traímos nossos sonhos de paraíso, nossas orações por um mundo
melhor, mais solidário, piedoso, igualitário e justo. Quando não vemos negamos
a existência ao outro, considerado inferior. Não os vemos, não os ouvimos, não
damos importância alguma às mulheres e aos homens simples, muito embora muitos
de nós almejemos a simplicidade para um mundo aparentemente sofisticado, mas lastreado
por arcaicas e velhas formas de viver e de não ver.
Hoje, olhe para os lados e
veja as pessoas simples e humildes que contribuem, tanto quanto cada um de nós,
para a construção do mundo e da existência pessoal e coletiva nele. Essas
pessoas pronunciam o mundo e se inserem nele, mesmo invisibilizados em
hospitais, fóruns, escolas, igrejas, supermercados, postos de saúde, eventos
públicos, festas, teatros, praias, enfim, em todos os lugares em que se fazem
presentes sem serem notados na exuberante pujança e sofisticação que toda
simplicidade tem.
Joselito da Nair, do Zé, do
Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes simples e do ser mais simples deste mundo
e de todos os outros: Jesus, O Emanuel
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