sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Por mim e pelas pessoas que estão no mundo da cegueira



Hojje estive lendo o jornal A Tarde de domingo, 04/11/2012. Na página A³, o bispo dos católicos, Murilo Krieger, retoma a história do homem invisível, a partir de uma leitura sua, em outro jornal, de uma experiência de um estudante de sociologia, onde o mesmo

[...] quis conhecer o olhar das pessoas nas avenidas de uma cidade grande. - isto é, saber o que elas realmente veem, para onde se voltam e a que dão valor. Vestiu-se por isso de forma simples, como se fosse um dos muitos trabalhadores braçais que diariamente cruzam os caminhos de todos. Sua primeira surpresa: em pouco tempo percebeu que simplesmente não era notado por ninguém! Sim, ninguém percebia sua presença, ninguém o notava, nem mesmo seus velhos conhecidos e amigos. Constatou que, para muitos, ele simplesmente não existia: havia se transformado em um homem invisível. (KRIEGER, Murilo. O homem invisível, Jornal A Tarde, página A3, Salvador, domingo, 4/11/2012)

Em função desta triste realidade, ressalto, mais uma vez, e creio que não será a última, a relevância de um “ensaio sobre a cegueira”, como propunha Saramago e Jesus Cristo. Ensaio mais que necessário nesse tempo de tantas imagens, tantas ideias, e tão poucas convicções e coerência. Os católicos veem Cristo numa cruz, na imagem projetada na igreja que frequentam, mas não vê as mulheres e homens simples que nos rodeiam. Os evangélicos, com seus paletós e gravatas, e suas bíblias nas mãos, como armas apontadas contra aqueles e aquelas que não creem ou que não fazem parte de seu partido celestial, também são cegos para as pessoas simples, muito embora eles e elas mesmos (as) sejam pessoas simples.

Os varredores e as varredoras de rua, os garis, as zeladoras e os zeladores de prédios, os ascensoristas e as ascensoristas de elevadores, os vendedores de picolé e de cafezinho, as senhoras do mingau e todas aquelas pessoas que exercem funções consideradas simples são atiradas na invisibilidade social, denúncia viva de nossa cegueira, da seleção preconceituosa de nosso olhar, da redução seletiva de nossa visão, que não percebe humanidade em toda gente e esquece, muitas vezes, dos preceitos de suas próprias crenças que, por não serem profundamente refletidas, não se tornam convicções pessoais ao lidarmos com os fenômenos da existência, entre elas, a qualidade de nossas relações sociais, políticas e culturais.

Há pessoas que não existem para nós. Não porque não as conhecemos, mas, simplesmente, porque não as percebemos, por causa de um olhar pobre de humanidade que cultivamos em busca de um falso e inalcançável status quo privilegiado. Traímos nossos sonhos de paraíso, nossas orações por um mundo melhor, mais solidário, piedoso, igualitário e justo. Quando não vemos negamos a existência ao outro, considerado inferior. Não os vemos, não os ouvimos, não damos importância alguma às mulheres e aos homens simples, muito embora muitos de nós almejemos a simplicidade para um mundo aparentemente sofisticado, mas lastreado por arcaicas e velhas formas de viver e de não ver.  

Hoje, olhe para os lados e veja as pessoas simples e humildes que contribuem, tanto quanto cada um de nós, para a construção do mundo e da existência pessoal e coletiva nele. Essas pessoas pronunciam o mundo e se inserem nele, mesmo invisibilizados em hospitais, fóruns, escolas, igrejas, supermercados, postos de saúde, eventos públicos, festas, teatros, praias, enfim, em todos os lugares em que se fazem presentes sem serem notados na exuberante pujança e sofisticação que toda simplicidade tem.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes simples e do ser mais simples deste mundo e de todos os outros: Jesus, O Emanuel 

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