Estava assistindo um filme,
“O Orfanato” e, nesse filme, houve um momento em que lembrei-me imediatamente
do título acima, frase do teólogo medieval Anselmo, citado por Rubem Alves em
seu livro “Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e a suas regras”. No filme,
uma personagem, a vidente, fala para a mãe que está à procura do filho,
afirmando que o caso que o enredo encerrava não era questão de ver para crer,
mas, ao contrário, de crer para ver. Entendo perfeitamente. Só aprendo algo
quando acredito no que estou apreendendo. Descobri que não consigo aprender
nada em que não acredito. Compreendo o conteúdo e apreendo sua lógica, mas
esqueço se não crer nos princípios fundamentais que regem aquele objeto de
estudo.
Por muito tempo acreditei
nos princípios socialistas. E apreendi sua lógica, que se baseava na concepção
do ser humano moderno, dono de sua razão, senhor de sua história, vendo-se
livre do fetiche da mercadoria e da ideologia enganadora que o cegava. O ser humano
que abriria mão da propriedade privada e da necessidade de controle sobre os
outros indivíduos, grupos e classes sociais e partilharia o pão e o sonho numa
grande comunidade de seres humanos em permanente processo de emancipação. Eu
acreditei muito nessa utopia socialista e enveredei por esse caminho, inclusive
participando modestamente de campanhas políticas “sem medo de ser feliz.” A
comunidade de fé, onde eu estava inserido, também alimentava esse sonho,
associando, discretamente, a utopia socialista terrena com a esperança de fé no Reino de Deus. E eu cri
com todas as forças da minha juventude nesse mundo que estava por vir e que nós
antecipávamos traços dele em nossa maneira de vestir, de falar, de acolher e
compartilhar nossas riquezas que emprenhava nossa fé e esperança.
Tudo fazia sentido naquele contexto e o futuro era cheio de expectativas. Mais à frente céu e terra se encontrariam definitivamente e a história deixaria definitivamente suas demoras para trás, pois todos nós vivenciaríamos o saber que sempre procurávamos apreender, inutilmente, pela abstração que a lógica representa. Minhas crenças foram conduzindo-me nessa esperança da história viva que se desenrolava à minha frente, na utopia socialista que os partidos de esquerda representavam, tendo o Partido dos Trabalhadores à frente.
Entretanto, creio que
esquecemos de um pequeno, mas decisivo detalhe. Que a história não é inexorável
nem para seu fim, nem também para seu “enfim.”. O socialismo real, conforme foi interpretado erroneamente por Stálin, que desprezava o importantíssimo papel da teoria na práxis, foi perverso
para com os povos que ficaram sob seu controle. Seus líderes tornaram-se
senhores de toda a riqueza produzida coletivamente, bem pior que o capitalismo.
Milhares de pessoas foram esmagadas em sua subjetividade e em sua integridade
física. O poder bélico tornou-se mais importante que o atendimento das
necessidades dos seres humanos que acordaram para a realidade cruel de um
socialismo autoritário, sanguinário e corrupto. Decidimos ignorar que o ser humano é sapiens, mas também demens. E os demônios humanos destruíram o sonho socialista, onde
os trabalhadores, verdadeiros construtores da riqueza de uma nação, iriam
construir a paz e o amor baseados na justiça da distribuição da riqueza para
todos.
O que vimos foi o inferno
dos demônios humanos impondo a ferro e a fogo as suas ideologias e o seu cinismo
diante da dor alheia. Lugares de tortura, distantes da piedade e da ternura
trouxeram o inferno para a história de homens e mulheres que rejeitaram o
socialismo real, absurdamente real. Na China também não foi diferente, a brutalidade opressiva opera pela
manutenção do poder. Por
incrível que possa parecer, o sonho, a criação e a inventividade humana foram
proibidas, banidas, retiradas do ser humano sua dimensão mais humana, em nome de poderes totalitários que negavam o princípio da contradição como eixo da realidade humana e natural. Quem entende
o mundo assim passou a ser dominado pelas suas ideias maquiavélicas, diabólicas, pensando erroneamente
que as dominam. Creem num mundo ordenado a ferro e fogo e assim o entendem. São
devotos de uma fé estranha: a que retira do ser humano a sua humanidade em nome de um poder voraz.
Essa ciência e essa filosofia eu não desejo
para ninguém. Porque não é sapiência. É demência. Oxalá o Partido dos Trabalhadores
acorde desse pesadelo demente que o poder o envolveu e retome o sonho que
engendrou sua fundação. Embora tenha pouca fé em relação a isso. Senão o inferno virá, inevitavelmente, impor a ferro e
fogo a sua sanha gananciosa em permanecer no poder a qualquer preço, baseado
numa crença num Brasil controlado por um partido único, onde os torcedores do
mesmo time ocupem os melhores lugares do estádio e massacrem os demais
torcedores em nome da "liberdade", do "amor", da "justiça" e do projeto político
deles, que não pode ser questionado, sob pena dos questionadores sofrerem as
penalidades não previstas na lei dos direitos humanos.
Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.
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