quinta-feira, 21 de maio de 2015

CURRÍCULO-DE-TROIA

Bom, venho pensando muito sobre o currículo e sua importância na formação de professores através do ensino, da minha experiência de professor, e, devido à necessidade de institucionalizar esse pensamento, do meu/nosso projeto de pesquisa. E assistindo algumas palestras promovidas pelo II.º Colóquio de Docência e Diversidade na Educação Básica: política, práticas e formação, promovido pelo Grupo Diverso, liderado pela nossa colega Jane Adriana V. P. Rios, e, diante das propostas de reflexão e mudança do nosso currículo de Licenciatura em Geografia, comecei a pensar neste objeto específico como um presente. Um presente de grego às avessas.

Um presente de troiano para ser mais exato. Ou seja: a universidade com suas muralhas firmes e impenetráveis oferece para os que estão fora, um Currículo-Cavalo de presente para a Educação Básica e para a comunidade cujo seio esconde conteúdos troianos insignificantes ou que, no máximo, vão ter impactos muito pouco relevantes naqueles níveis de ensino, refletidos no Ideb ou na precariedade que penetra os portões de nossa cidadela através do analfabetismo funcional que nos adentra. Acredito que nós temos, uma que pode ser excelente, oportunidade da construção de uma ponte bem feita entre nós e os outros. Nós, professores (as) e estudantes da Uneb, DCH IV, Curso de Licenciatura de Geografia em Jacobina, e os outros, professores (as), gestores (as) e estudantes da Educação Básica, movimentos sociais, etc., através da construção de um currículo implicado em nosso contexto, respondendo às nossas questões, insuficiências e possibilidades, que efetive seus objetivos e atinja suas metas através das potencialidades que temos juntos, tornando o diálogo entre ambos os níveis de educação uma expressão democrática de construção do Curso de Formação de Professores (as) em Geografia de mãos dadas com a Educação Básica e com interlocutores interessados e interessantes.

Não estou interessado na proposta de dividir tarefas. Para mim, fazer currículo é, antes de tudo, refletir sobre quem deve fazê-lo, com quem e pra quem? É fazê-lo com, não para. Não desejo trabalhar numa grade curricular cerrada e árida, com muralhas impenetráveis, como se a verdade sobre formação de professores (as) de Geografia estivesse somente do lado de dentro da muralha. Muito menos desejo atuar na elaboração de um cavalo troiano às avessas, como se tivesse de vencer uma guerra contra os que estão do lado de fora do nosso "santuário do saber", produzindo silenciamentos a partir de um Currículo-Cavalo de batalha. Não desejo um currículo isolado, arrogante, baseado num pseudo bacharelado que nem forma professor de Geografia, nem forma o pesquisador da área. Quero ouvir o que professores e professoras da Educação Básica têm a dizer e a contribuir ao nosso lado. Não numa guerra, mas numa solidária construção entre pares que se respeitam e que apenas atuam em diferentes níveis de ensino que se complementam. Quero a mulher no currículo e o homossexual também. Quero o negro e o candomblé, o moto taxi, quero o filósofo e o ativista político. Todos (as) a partir de seus lugares, geografando o Currículo de Licenciatura em Geografia na construção desse espaço, aí sim, multirreferenciado socialmente.

Minha proposta é, então, um seminário, através da proposta concreta do planejamento participativo, no qual os sujeitos outros que atuam na Educação básica e na Sociedade Civil Organizada de Jacobina possam pronunciar seu currículo conosco, que formaremos uma comissão de acompanhamento e sistematização a fim de elaborarmos o Currículo de Licenciatura em Geografia, tanto levando em consideração a proposta da PROGRAD, como incorporando sugestões advindas desse processo implicado na sociedade local.

Alguns efeitos benéficos podem ser apontados:

Aproximação maior entre universidade e Educação Básica na formação dos licenciando de Geografia;
Aproximação maior entre universidade e sociedade civil local;
A possibilidade de elaboração de um currículo tramado com as culturas locais;
Desenvolvimento potencial do Estágio Supervisionado;
Elaboração de uma proposta curricular que faz a passagem do senso comum para o conhecimento científico sem negação um do outro;
Fundação de uma condição epistemológica em que saberes oriundos das culturas populares, da Educação Básica e dos sujeitos que as integram, norteiem nossas práticas de ação (pensamento é ação) na formação dos (as) licenciandos (as) em Geografia.,etc.

Desejo ir além das "tarefinhas" que a PROGRAD passou pra gente fazer.

Matriz Curricular:
1. Elaborar um tronco comum de componentes obrigatórios;
2. Avaliar a necessidade da presença de pré-requisitos nos componentes que necessitam de um sequenciamento lógico;
3. Criação de componentes optativos para atender as especificidades dos campi;
4. Discutir nomenclaturas dos componentes para que possam chegar a um acordo;
5. Julgar a proposta das disciplinas de 45 horas passarem a serem de 60 horas.
6. Decidir nas ementas dos componentes Prática de Ensino o que será trabalhado em cada uma delas, de modo a evitar a sobreposição;
7. Definir nas ementas dos componentes de Estágio Supervisionado os conteúdos teóricos a serem trabalhados, uma vez que a questão prática já é bem definida. E discutir se há necessidade de implantação de pré-requisitos nos estágios.

Podemos fazê-las. Vamos fazê-las. Mas desejo “fazê-las com”. Não estou mais a fim de brincar com cavalinhos de guerra.



Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, da Uneb, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

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