sexta-feira, 15 de maio de 2015

MODELOS DE UNIVERSIDADE

A Universidade como santuário do saber

Nesta, a principal preocupação são com as questões de ordem exegéticas, livrescas. Seus intelectuais não estão preocupados com o mundo, mas com os textos, com as grandes ideias dos mestres do conhecimento. [...] a preocupação do erudito é com o mundo textual e não com o mundo sobre o qual o texto fala. (WOLFF, 1993, p.31). Este modelo fomentou principalmente nas humanidades, pois dificilmente poderia encontrar respaldo nas ciências exatas nem nas ciências sociais. Decorreu disso que o ideal de erudição produziu uma curiosa prole pedagógica no currículo de graduação. (WOLFF, 1993,p.31). O ideal de professor desse modelo de universidade é descrito por Paulo Freire (2001) quando este, em sua Pedagogia da Autonomia, o critica:

Daí a impossibilidade de vir a tornar-se um professor crítico se, mecanicamente memorizador, é muito mais um repetidor cadenciado de frases e ideias inertes do que um desafiador. O intelectual memorizador que lê horas a fio, domesticando-se ao texto, temeroso de arriscar-se, fala de suas leituras quase como se estivesse recitando-as de memória – não percebe, quando realmente existe, nenhuma relação entre o que leu e o que vem ocorrendo no seu país, na sua cidade, no seu bairro. [...] Fala bonito de dialética, mas pensa mecanicistamente. Pensa errado. (FREIRE, 2001, p.30)

Este modelo de universidade, distanciado do seu contexto social, produz, na maioria dos casos, indivíduos inúteis para a sociedade, que os admiram pela palavra, ou por isso mesmo os odeiam, mas não conseguem deles nada mais do que isso.

Na melhor das hipóteses, a erudição desenvolve uma sensibilidade refinada e uma sábia apreciação das complexidades dos caminhos de Deus e do homem; na pior das hipóteses, a erudição se petrifica num pedantismo absurdo a que falta o espírito e o gênio criativo daqueles que escreveram os grandes textos. (WOLFF, 1993, p.31)

Tivemos esse modelo no passado de nossa escola pública, Por onde passaram personagens da nossa política baiana, tais como Antonio Carlos Magalhães, Roberto Santos, Raul Seixas, entre outros. Um professor que adquiria livros na livraria onde eu trabalhava, falava com orgulho daquele tempo em que eles eram obrigados a recitar poesias em latim e em francês, insinuando explicitamente a grandeza do caráter erudito do ensino daquele seu período de garoto e de jovem.

Uma universidade assim

Será uma comunidade de intelectuais autogovernada de que participarão intelectuais-aprendizes cujos estudos são guiados por professores mais experientes sob cuja orientação trabalham. A universidade como comunidade será pequena, informalmente organizada, carregada de tradição e governada, em grande medida, pelo comprometimento de seus membros com a vida de erudição. Terá pouco a ver, de modo geral, com a sociedade mais ampla, limitando-se a seus próprios assuntos e julgando suas atividades por normas internas de erudição e não por normas sociais de produtividade ou utilidade. (WOLFF, 1993, p.32)

Os eruditos se comportam como sacerdotes protetores do conhecimento da tradição, afinal, a universidade é, para eles, um santuário do saber. Seus estudantes são verdadeiros seguidores, apóstolos seguindo um grande mestre atrás do saber. Em nosso caso, nos tornamos "puxa sacos" de professores esperando a mísera aprovação no mestrado ou no doutorado. De todo modo, é preciso "fazer o que o mestre, ou a mestra, manda". 

Esse saber não pode ser contaminado pela vulgaridade do senso comum ou de saberes contemporâneos, de agora, visto que, todo saber de agora, deve ser legitimado pelo saber de outrora, o saber universal, verdadeiro, autêntico. As demandas sociais não interessam para esta universidade, que se fecha em si mesma, acreditando-se purificada das emergências que a história impõe. No texto que tenho em meu blog, “Uma boa aula?”, tem um contexto em que eu fingia ser um erudito, dando a “aula-show”, a fim de impressionar os estudantes e evitar o constrangimento de ser questionado em minha insegurança de professor, sem me preocupar se, de fato, os estudantes aprendiam. 

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Ecinho, Cira e Jorge, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel
Com o auxílio de:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 20. edição, São Paulo, SP: Paz e Terra, 2001.  
WOLFF, Robert Paul. O ideal de universidade. Tradução: Sonia Veasey Rodrigues, Maria Cecília Pires Barbosa Lima. São Paulo: SP: editora da Universidade Estadual Paulista, 1993.

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