segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Povo: massa disforme

O povo? Quem é essa abstração?
Quem é essa aberração lingüística?
Quando se diz povo, quem sabe o que diz?
Sabe e diz.
Diz que:


O povo é uma massa disforme
uma barriga enorme
uma gargalhada estridente
sustentada em chapas
disfarçadas de dentes.


O povo é uma palavra oca
usada para referir-se
a uma massa disforme
sem nome e sem sorte
é uma palavra louca:
um antisubstantivo
um aplauso enorme
para um discurso vazio.


O povo está na origem
dos projetos de governo
nos objetivos gerais
que não saem das gavetas
e nem saem dos discursos
governamentais.
O povo está nos anúncios
nas propagandas políticas
nas explicações mais esquisitas
dos corruptos e ladrões
do erário público.

O povo não é gente!
Não é gente?
É o povo o culpado
de sua condição popular:
não lê, não sabe
não ganha.
e nem sabe ganhar.
Só perde,
só sofre
só morre
nas filas
dos bancos
dos postos
do SUS
da casa própria
dos processos na justiça.

ÊÊÊ povinho inútil!
povinho pirraça
vive sua desgraça
sem endereço,
sem nome,
sem telefone
sem assistência.

ÊÊÊ povão útil
ao discurso político
às promessas de sempre
aos votos sagrados
da santa eleição.

Sendo uma massa disforme
não sabe quem escolhe
e vive agarrado
em inúteis esperanças
de salvação.

O povo, isso que chamam,
não é nada
só uma morte permanente
com hora marcada.

Joselito da Nair, do Zé, de Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

2 comentários:

  1. rapaz! q poesia bem real!
    pra vc, mando uma resposta,
    tal como nas brincadeiras de
    cordel:

    "o povo n existe
    povo é cuspe escarrado
    não há povo...
    ninguém é povo!
    o povo é o outro!
    o povo...
    tem q ser povo
    pra ser dominado...
    o povo, meu caro,
    n eh nada raro...
    o povo ta na esquina
    sempre esperando
    enquanto o país
    tira o maior sarro!"

    e viva o povo brasileiro!!!
    o povo somos nós, mas n parece, zelito.
    parece uma sombra q acompanha nossos discursos mas n participa de nada!
    continue poetizando...
    abraço.

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  2. É Tico. É isso aí, o povo é um artifício de linguagem política, cínica, profundamente cínica

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joselitojoze@gmail.com