quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

CREIO QUE O PAPEL DA FILOSOFIA NO ENSINO DA GEOGRAFIA

1. É desmistificar a idéia do aceitável e única idéia a ser aceita por determinados grupos da sociedade, que a grande massa política ou não, tenta forçar-nos indiretamente a crer que essa tal idéia seja válida.
2. É a reflexão do ensino e o papel educacional da Geografia em sala de aula.
3. É de muita valia para o crescimento profissional e intelectual de todos os docentes.
4. É o ensino e seu conhecimento como o papel da escola, ponto principal.
5. Comunga com aspectos físicos e humanos: a reflexão.
6. Ajudará-nos a uma melhor compreensão.
7. É de explicar algumas teorias dos estudos da ciência geográfica.
8. É trazer os diferentes posicionamentos filosóficos existentes no conteúdo de Geografia e fazer com que se veja a realidade de uma sociedade por diversos aspectos, sejam eles culturais, sociais, dentre outros.
9. É discutir sobre os grandes filósofos e seus pensamentos, que possibilitam o desenvolvimento social.
10. Possibilite-nos uma nova forma de ensino, e uma nova percepção da educação.
11. Tem como refletir sobre as relações sociais desenvolvidas no cotidiano, no espaço do aluno.
12. Ajudará a compreender algumas teorias geográficas.
13. É possibilitar a interação de forma positiva na compreensão da ciência humana.
14. É muito importante para a vida do indivíduo que pretende ser um grande professor.
15. É o de reforçar na mente dos futuros educadores o quanto é inútil exercerem seus papéis (no futuro) sem levarem em conta os diferentes pontos de vista que englobem o passado, o presente e, possivelmente, o futuro do pensamento na educação.
16. Permitirá visualizar o mundo geográfico de forma crítica.

Bem, as afirmações em vermelho, itens 2, 4 e 10, confundem, de certa forma, Filosofia da Educação com Didática, o que é bastante compreensível, pois a maioria nunca estudou Didática. A Filosofia da Educação reflete sobre o ensino, seus fundamentos filosóficos e seus princípios teóricos, auxiliando-nos e orientando-nos nas escolhas que fazemos quando planejamos a nossa prática educativa, seja ela na escola, seja em outra instituição educativa de caráter formal ou mesmo informal. Todo projeto político-pedagógico de uma instituição educativa, por exemplo, precisa de fundamentação filosófica, exigindo concepções de ser humano e de mundo que serão acionados e valorizados pela instituição educativa que seguirá as diretrizes do projeto político pedagógico. No planejamento participativo proposto por Danilo Gandin e Ângelo Dalmás, por exemplo, o projeto político pedagógico é composto pelos seguintes elementos:

Referencial – é tomada de posição, expressa o rumo, o horizonte, a direção;

• Marco situacional - questiona onde estamos e como vemos a realidade
• Marco político ou filosófico – concepção de homem e de sociedade;
• Marco operativo ou pedagógico – concepção pedagógica escolhida para operar na escola.

Definir bem o marco filosófico de um projeto é de fundamental importância para a prática educativa no contexto do planejamento participativo, pois saber que tipo de ser humano desejamos, para que tipo de mundo, é uma resposta complexa que exige um processo permanente de reflexão e discussão, caso contrário caímos no espontaneismo que degrada e corrompe a prática educativa.

Outra coisa importante está na afirmação de que cabe à Geografia “desmistificar a idéia do aceitável e única idéia a ser aceita por determinados grupos da sociedade, que a grande massa política ou não, tenta forçar-nos indiretamente a crer que essa tal idéia seja válida.” Esta afirmação refere-se ao papel da filosofia na desmistificação das ideologias presentes nos processos sociais, culturais e políticos. A ideologia faz parte de qualquer relação humana, por isso, concordo com a afirmação acima, haja vista que devemos combater as ideologias que querem se impor como as legítimas e únicas justificáveis, marginalizando diversas culturas que não correspondam ao padrão imposto. A discussão na área de currículo, do multiculturalismo, por exemplo, traz contribuições importantes para se pensar esse fenômeno desde que o mundo é mundo. O combate à discriminação e às várias formas de preconceito deve começar na família e continuar na escola. Vejam um exemplo concreto:

Lembro de uma história relatada por uma aluna que tive lá em Malhada de Pedras, há 30 km de Brumado. Ela me falou que, quando foi estagiar, a professora, antes de abandonar a sala nas mãos da mesma avisou-lhe sobre um garoto que era o “capeta”, que tomasse cuidado, “jogasse duro” em cima daquele “peste”. A estagiária percebeu que toda vez que o garoto entrava na sala de aula os outros coleguinhas ficavam repetindo: “- Oi o fio do corno! Oi o fio do corno!” A partir de então, ela resolveu investigar aquela história e descobriu que a mãe do garoto havia supostamente traído o pai e que este último havia dado uma surra nela com o cabo de um guarda-chuva em plena praça pública. Claro que, numa cidade pequena, todo mundo ficou sabendo e, com certeza, nos bares, nas esquinas, no trabalho, nas barbearias, nos lares a conversa devia ser em tom de chacota, como se aquele fosse o primeiro e o último corno de Malhada de Pedras. A repetição das crianças na escola era um reflexo desse desenrolar dos fatos nas famílias a que pertenciam. Fiquei pensando. Eu, que sou um adulto, se meus pais se separassem iria sofrer bastante. Imagine isso para uma criança e da forma como foi a separação? Além disso, o pobre garoto revivia, de segunda a sexta-feira, no lugar que deveria ser acolhedor e educativo, a repetição daquela tragédia pessoal e familiar em forma de chacota dos coleguinhas. Que escola mal educada! Que escola hipócrita! Que professora (a regente) mais sem eira nem beira!

A estagiária acolheu o garoto e sua dor. Convocou os pais dos demais coleguinhas para uma reunião e relatou a gravidade da situação, exigindo que aquela “brincadeira” fosse cessada. Não me lembro mais o fechamento desta história, mas sei que alguém teve uma atitude de educador perante aquela situação. Uma professora agiu como educadora e retirou mais um empecilho da vida de um garoto que não era “capeta” algum. Aquele menino apenas se defendia com as armas que possuía daquela memória dolorosa de sua vida, que ele queria mandar para o esquecimento definitivo. Se uma situação parecida acontecer contigo, seja um educador, não deboche, nem desdenhe do sofrimento alheio. Lembre-se da diferença entre instruir e educar.

Por isso que a Filosofia exerce um papel importante de DESCONSTRUÇÃO. Desconstruir verdades estabelecidas e tidas como as únicas possíveis; desconstruir crenças que se julgam mais próximas de Deus, em contraposição às demais crenças julgadas como próximas de satanás. O povo de santo fez ontem (21/11/2010) uma passeata, aqui em Salvador, contra a discriminação religiosa, reagindo contra tais vontades de poder, imposição e controle sobre as crenças alheias. Aliás, a própria Filosofia discute isso. O mito de Adão e Eva contrapõe-se ao mito de Lúcifer. Adão e Eva são criaturas. Criados para desfrutar a vida eternamente, vivendo em simbiose com o meio ambiente, contemplando a beleza do jardim criado para puro deleite. Rubem Alves afirma que todo político deveria, antes de tudo, ser um jardineiro. Alguém que sonha com jardins para o povo. O destino de Adão e Eva era igualar-se a Deus, fazer-se semelhante, para, sentados na assembléia dialogarmos alegremente com o Todo Poderoso sobre os mistérios da existência e filosofarmos alegremente com o Senhor de tudo o que há. Mas o mito de Lúcifer traz a ganância pelo poder que não lhe pertence. Lúcifer não quer igualar-se a Deus, quer ocupar o lugar Dele. Quer ser o senhor e julgar, desse ponto de vista, o bem e o mal, o certo e o errado. Não é isso que as religiões cristãs fazem com as demais? Se Deus criou a diversidade e a pluralidade, quem somos nós para negarmos? Se Deus nos permitiu o desfrute do gozo, quem somos nós para o reprimirmos? Se Deus criou as águas cristalinas, os oceanos e florestas, quem somos nós para destruirmos e não gozarmos todos os dias as oferendas da terra?

E alguém disse que a Filosofia da Educação “Tem como refletir sobre as relações sociais desenvolvidas no cotidiano, no espaço do aluno”. A Filosofia da Educação é isso mesmo. Seu papel é ajudar vocês, não a simplesmente decorarem e saírem arrotando postulados filosóficos, mas olhar cuidadosamente para o seu cotidiano escolar e ver, porque as vezes olhamos e não vemos, os princípios que os regem, as crenças que sustentam determinadas relações sociais, os efeitos provocados, os preconceitos, as discriminações, os exemplos de solidariedade, os conteúdos emancipatórios e refletir sobre eles no processo de construção do espaço e do próprio humano nesse processo, que é total, ou seja: é econômico, é cultural, é social, é religioso, é político, é educativo, é lazer e esportes.

O papel da Filosofia da Educação “é o de reforçar na mente dos futuros educadores o quanto é inútil exercerem seus papéis (no futuro) sem levarem em conta os diferentes pontos de vista que englobem o passado, o presente e, possivelmente, o futuro do pensamento na educação.” Exato. A história e a historicidade nos fornecem elementos cruciais para entendermos determinados movimentos sociais, que perpassam a escola e reproduzem iniqüidades sociais. É preciso sempre estar se perguntando sobre esse humano que está sendo permanentemente gestado no ventre da sociedade, passando pela escola básica. Ele vai continuar poluindo e desmatando? Ele vai continuar agindo muito mais pelo instinto arrogante que pela reflexão humilde? Ele vai continuar explorando o outro e tentando “se dar bem” utilizando o velho “jeitinho brasileiro”? Ele vai continuar tentando alcançar o mérito do diploma com o mínimo de esforço possível? Que é o ser humano?

Um abraço afetuoso: Joselito da Nair do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel, ou Joselito Manoel de Jesus

2 comentários:

  1. o que tem contra o "jeitinho brasileiro"?...DaMatta em Carnavais,Malandros e Heroís.
    Não seria como um autor nos induz, uma percepção estrategicamente intersticial(de ordem e desordem)dos individuos?dos sobreviventes?...e a sua casa do calafate???

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  2. Olha Anônimo: Penso que o "jeitinho brasileiro" vem de um contexto histórico cuja origem encontra-se na escravidão. O "jeitinho" era a possibilidade mínima que foi tornada possível pela criatividade dos que podiam quase nada e muito pouco. Nesse caso, o "jeitinho" continua sendo uma fuga, uma forma de não resolver problemas seriamente, mas apenas "para inglês ver". Mas comente um pouco mais para que eu possa saber a associação que você fez entre A Casa do Calafate e o "jeitinho".
    Ah, obrigado por ler e comentar meus escritos.

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joselitojoze@gmail.com