Julho/2013
Capa/Evasão | Edição 195
Adeus,
docência
Número cada vez maior de
professores que abandonam a profissão piora o quadro de escassez de
profissionais na Educação Básica e coloca em questão a capacidade de atração da
sala de aula atual
Rodnei
Corsini
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Desvalorização
da profissão e más condições de trabalho são motivos para a desistência da
carreira
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Baixos
salários, insatisfação no trabalho, desprestígio profissional. As condições são
velhas conhecidas dos docentes, mas têm se convertido em um fenômeno que torna
ainda mais preocupante a escassez de profissionais na Educação Básica: os
professores têm deixado a sala de aula para se dedicar a outras áreas, como a
iniciativa privada ou a docência no ensino superior.
Até maio deste ano, pediram exoneração 101
professores da rede pública estadual do Mato Grosso, 63 em Sergipe, 18 em
Roraima e 16 em Santa Catarina. No Rio de Janeiro, a média anual é de 350
exonerações, segundo a Secretaria de Estado da Educação, sem discernir quantas
dessas são a pedido. Mas a União dos Professores Públicos no Estado diz que,
apenas nos cinco primeiros meses deste ano, 580 professores abandonaram a
carreira (leia mais na página 43). Para completar o quadro, a procura pelas
licenciaturas como um todo segue diminuindo, e a falta de interesse pela
docência provoca a escassez de profissionais especialmente em disciplinas das
ciências exatas e naturais.
Motivos para a evasão"O motivo unânime para a
evasão docente é a desvalorização da profissão e as más condições de
trabalho", diz a professora Romélia Mara Alves Souto, do departamento de
Matemática e Estatística do programa de Mestrado em Educação da Universidade
Federal de São João del-Rei (UFSJ), em Minas Gerais. Em um estudo com alunos da
universidade, Romélia constatou que entre os formados de licenciatura em
Matemática entre 2005 e 2010, quase dois terços trabalham como docentes - mas,
destes, 45% não pretendem continuar na Educação Básica. A maioria presta
concurso para instituições financeiras ou quer se tornar pequeno empresário.
Uma boa parte também faz pós-graduação ou vai estudar em outra área para não
seguir na docência.
"Para mim, a ferida principal disso tudo é o
salário do professor. Os professores estão tendo de brigar para receber o piso",
avalia. Romélia também já lecionou na Educação Básica e foi para o ensino
superior, sobretudo, por questões salariais. Deu aulas de matemática durante
dez anos quando, em 1996, migrou para a docência superior.O quadro parece se
repetir há mais de uma década. Em 1999, Flavinês Rebolo, atualmente professora
da pós-graduação em Educação da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em
Campo Grande (MS), defendeu uma tese de mestrado na Faculdade de Educação da
USP em que focou o período de 1990-1995 na rede estadual paulista. Ela
identificou que, além dos baixos salários, os fatores que mais contribuíam para
a evasão docente eram a insatisfação no trabalho e o desprestígio profissional.
"A questão salarial é uma luta de classe dos professores, em que eles têm
toda a razão, mas no grupo que entrevistei o sentimento era muito mais de
inutilidade que eles viam no trabalho", lembra Flavinês. A desvalorização,
pelos próprios alunos e pela comunidade, minava o ideal dos professores de que
iriam contribuir para uma sociedade melhor, aponta a pesquisadora.
No princípio de tudo"Choque de realidade" é
o termo usado para esse sentimento entre os professores iniciantes, grupo em
que a evasão costuma ser alta. A pedagoga Luciana França Leme se ressente da
falta de pesquisas sobre a evasão docente no Brasil, mas avalia que uma das
hipóteses para a desistência no começo da carreira é a exposição do professor
iniciante às escolas mais vulneráveis. "Não é que o professor não tenha de
ir para essas escolas, mas há uma relação entre perfil do alunado e as
condições de trabalho docente."
Luciana aponta, ainda, as diferenças da evasão
entre as áreas de conhecimento. Ela considera a hipótese de que os professores
das áreas de exatas têm mais possibilidade de migrar para outras por conta de
uma formação mais específica, que permite a aplicação dos seus conhecimentos em
setores como o mercado financeiro. Já entre os licenciados em humanidades, a
aplicação dos conhecimentos da graduação em outras áreas profissionais é,
normalmente, mais restrita, com exceção do curso geografia, em que há maior
possibilidade de os formados trabalharem em empresas de geologia.
Fabio Rodrigues exemplifica a questão. Ele sonhava
com a carreira docente quando ingressou na licenciatura de matemática na USP,
no final de 2010. Depois de lecionar em cursinhos e, ao longo de três semestres
letivos, em estágios obrigatórios na rede estadual, já no último semestre da
graduação conseguiu emprego como assistente financeiro em uma empresa de
engenharia. Em 2011, migrou para a área de Tecnologia da Informação, onde segue
trabalhando como analista e desenvolvedor de sistemas. "Eu já tinha
conhecimento sobre desenvolvimento de sistemas porque tive algumas disciplinas
da área na USP e fazia alguns cursos por curiosidade e também por hobby",
diz.
Na outra ponta, Gisele Teodoro, formada em letras
em 2008, migrou das aulas de inglês para o trabalho como telefonista bilíngue
em uma empresa de mineração em Araxá. A desvalorização, o baixo salário e o
excesso de trabalho fora da sala de aula foram os fatores para ela deixar o
magistério. "Tanto o salário e os benefícios quanto a carga de trabalho
bem menor são determinantes para que eu, pelo menos por enquanto, não tenha a
menor pretensão de voltar para a sala de aula", diz.
Futuro em perspectivaProfessor do Programa de Mestrado
em Administração Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
e ex-diretor de Educação Básica Presencial da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), Dilvo Ristoff pondera que em todas as
profissões há evasão de profissionais. "O IBGE nos mostra que somente um
terço dos engenheiros formados, por exemplo, atua como engenheiro e que apenas
75% dos médicos formados exercem a medicina", diz. O professor da UFSC faz
a comparação com os professores de Educação Básica para concluir que, se em
profissões com salários mais altos a evasão é expressiva, não surpreende, em
sua opinião, que a evasão de professores formados seja alta. Além de uma renda
maior, Ristoff lista algumas necessidades urgentes na carreira docente no
Brasil: perspectiva de carreira, boas condições de trabalho e de formação,
respeitabilidade social. "O professor, como todo ser humano, é movido por
uma imagem de futuro que constrói para si. Se no seu trabalho ele percebe, dia
após dia, que o seu futuro será uma réplica do seu presente - ou seja, no caso,
tão ruim quanto o seu presente - ele desanima e, na primeira oportunidade,
abandona a profissão", afirma.
A pedagoga Luciana França Leme ressalta que a
solução de atratividade para a carreira docente pode ser alcançada a longo
prazo, porque ela vai reverberar na questão social e na questão cultural quanto
à imagem do professor. Na sua tese de mestrado sobre os ingressantes nas
licenciaturas em matemática e física e em pedagogia na USP, os motivos para que
os alunos apontassem dúvidas quanto a querer ser docente eram muito semelhantes
nos três cursos. A questão salarial era a de maior influência, mas há outras.
"Uma das razões mais pontuadas, no escore da pesquisa foi que os alunos
seriam professores caso pudessem ingressar em uma escola reconhecida com bom
projeto educacional", diz. Ela afirma que medidas pontuais para atrair
docentes à Educação Básica não vão resolver o problema justamente pela
atratividade ter muitos fatores conjugados.
Em 2010, a Fundação Carlos Chagas elaborou uma
pesquisa para investigar a atratividade da carreira docente no Brasil pela
ótica de alunos concluintes do ensino médio. Uma das autoras do artigo em que
são apresentados os resultados da pesquisa, Patrícia Albieri de Almeida -
pesquisadora da Fundação e professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie -
afirma que um fator determinante para a baixa atratividade à docência, presente
no estudo, é o pouco reconhecimento social da profissão, no sentido de o
magistério não ser entendido como uma carreira em que é necessário um
conhecimento específico que a diferencia de outras formações. "Até mesmo
como reflexo disso muitos estudantes descartam a docência por acharem que não
têm as características pessoais para isso. Esse fator aparece até mais forte do
que a questão do baixo salário. É muito forte, em nossa sociedade, a ideia de
que basta ter dom e vocação para exercer a docência", afirma Patrícia.
Professores em Déficit
Para Mozart Ramos - professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do conselho de governança do movimento Todos pela Educação -, a baixa atratividade à docência é o maior desafio, hoje, na educação brasileira. "É uma questão estratégica: ter bons alunos egressos do ensino médio para os cursos de licenciatura e, posteriormente, para a carreira do magistério é essencial", afirma. Em sua avaliação, são quatro as principais razões para a pouca atratividade à profissão: baixos salários - a média salarial no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2009, citada por Mozart, é de R$ 1,8 mil; falta de plano de carreira e pouca expectativa de crescimento profissional; pouca conexão entre as licenciaturas e a Educação Básica; e más condições de trabalho. "As condições de trabalho são ruins tanto no âmbito das questões de violência, em sala de aula e fora dela, quanto na falta de insumos para que o professor exerça bem suas atividades", diz.
O problema da baixa quantidade de professores
formados não é recente, segundo adverte Antonio Ibañez, conselheiro da Câmara
de Educação Básica do CNE e professor aposentado do curso de engenharia
mecânica da Universidade de Brasília (UnB). Quando era reitor da UnB, em 1991,
ele constatou por meio de relatórios o pequeno número de professores
licenciados em ciências exatas e naturais pela universidade nos 30 anos
anteriores. "Eram poucos mesmo, menos de duas dúzias. Fiquei preocupado de
como uma universidade importante tinha formado tão poucos professores para
Educação Básica, algo que, constatei depois, era um problema generalizado em
outros estados".
O CNE publicou um relatório em maio de 2007 que,
por meio de uma simulação, quantificava os professores necessários para atender
a todos os alunos que estavam matriculados no segundo ciclo do ensino
fundamental e no ensino médio. "A conclusão foi que, sobretudo nas
disciplinas mencionadas, faltavam docentes ou, então, as vagas eram preenchidas
por professores que não tinham a qualificação específica ou a titulação
necessária para a disciplina", diz Ibañez. A estimativa era de que havia
demanda total por 106,6 mil professores formados em matemática e 55,2 mil em
física e em química. Mas o número de licenciados entre 1990 e 2001 havia sido
somente de 55,3 mil (matemática), 7,2 mil (física) e 13,5 mil (química).
A cada dez alunos ingressantes nas licenciaturas em
física e em matemática da Universidade de São Paulo (USP), em 2010, cinco não
queriam ser professores na Educação Básica ou não estavam certos sobre isso. Os
dados são da tese de mestrado da pedagoga Luciana França Leme.
DesinteresseEntre os licenciados em física no
campus de Bauru da Unesp, entre 1991 e 2008, a maior parte chegou a dar aulas
no ciclo básico - mas um terço desistiu da profissão. A constatação também é
fruto de uma pesquisa de mestrado, de Sérgio Kussuda, sobre a escolha
profissional dos licenciados em física na universidade. Entre 377 concluintes
da licenciatura em física no período, a pesquisa teve a participação de 52
licenciados que responderam aos questionários. Entre eles, 32, em algum momento
da carreira, lecionaram na Educação Básica. Segundo a apresentação da tese de
Kussuda, uma das principais conclusões é que a falta de professores de física
não se deve somente ao pequeno número de formados, mas, sim, à da evasão
docente para outras áreas profissionais.
O estudo de Luciana também apontou que, entre os
que se matricularam em pedagogia em 2010, 30% não queriam ou estavam incertos
quanto ao ingresso na carreira docente. "A propensão a não ser professor
entre os ingressantes em pedagogia é bem menor do que nas licenciaturas em
física e matemática, mas não é um percentual desprezível", diz a pedagoga.
A pouca procura por cursos de licenciatura em geral
e os baixos índices de formação, a propensão de parte significativa dos
ingressantes nesses cursos para não seguir carreira docente e a evasão de
jovens professores da Educação Básica são alguns dos principais fatores que,
somados, resultam em um quadro de escassez docente. O desafio em atrair
professores não é exclusividade do Brasil (veja mais na pág. 50) e, por
enquanto, não tem afetado a rede privada de forma importante, embora gere
algumas preocupações. O problema se agrava quando se observa que professores
lecionam matérias para as quais não têm formação específica. "Dados
demonstram que cerca de metade dos professores da Educação Básica são
improvisados, isto é, não foram formados para ensinar o que ensinam", diz
Dilvo Ristoff.
Vera Placco, professora e coordenadora do programa
de pós-graduação em Educação (Psicologia da Educação) da PUC-SP, avalia que
muitas das políticas educacionais para valorizar o professor e a educação não
têm alcançado resultados concretos e desejados. "É preciso que o professor
tenha uma formação continuada que possibilite a ele agir de forma mais atuante
na sala de aula e na escola, participando da estruturação do currículo e do
projeto político-pedagógico da escola", defende. Para ela, a preparação do
professor para trabalhar com diferentes idades deveria ser aprofundada na
formação continuada.
Dilvo Ristoff avalia que medidas importantes têm
sido tomadas no sentido de valorização da carreira docente e consequente busca
pela atratividade à profissão, como o Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência (Pibid), a lei do piso salarial e o Plano Nacional de
Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), do qual o programa de
segunda licenciatura faz parte. "Mas são todas ações insuficientes:
algumas são apenas pontuais e outras dependem da superação da crise sistêmica e
do conflito de competências na Federação para o seu sucesso." Ao mesmo
tempo que enfrentam as questões centrais, as instituições e o governo federal
devem criar políticas focadas para formação de professores com ênfase especial
nas áreas mais carentes. "Isso, no entanto, não deve significar
desincentivo às demais áreas, pois temos carências em todas as disciplinas e em
todas as regiões do país", diz.
Paula Louzano, professora da Faculdade de Educação
da USP, destaca que a profissionalização do docente implica valorizar a ideia
de uma profissão que deve ser ocupada por alguém que estudou devidamente para
isso. "Se se concorda com essa ideia, então não dá para termos formação a
distância - ninguém fala, por exemplo, em ensino a distância para formação de
médicos. Não dá, portanto, para ser uma formação aligeirada." Segundo
Paula, hoje 30% dos cursos de formação de professor no Brasil são a distância.
Em 2006, eram 17%.
Um programa em estruturação do MEC, Quero ser
professor, quero ser cientista, é voltado para as áreas de matemática, química,
física e biologia, com estímulos a alunos do ensino médio para seguir carreira
na área científica ou na docência na Educação Básica. O programa tem como meta atender
100 mil estudantes: serão incorporados, segundo o MEC, estudantes medalhistas
de olimpíadas de matemática e de língua portuguesa, entre outras - não foram
claramente definidos os critérios ainda. Professores que participarem do
programa terão direito a bolsas e extensão na formação - o Quero ser
professor... não pretende condicionar as bolsas e titulações de pós-graduação
ao desempenho satisfatório dos estudantes, mas isso poderá ser decidido nos
estados e municípios. A meta é oferecer dez mil bolsas Pibid. O MEC não
informou se serão novas bolsas, somadas às que já são oferecidas pelo Pibid, ou
se parte das bolsas já oferecidas serão destinadas ao programa - segundo a
Capes, em 2012 foram oferecidas 40 mil bolsas Pibid para a categoria alunos de
licenciatura. "As bolsas para motivar o estudante para ir para as
licenciaturas concorrem com uma infinidade de outras bolsas. Por isso, não é
mais um recurso tão atrativo", avalia Antonio Ibañez.
O
conselheiro do CNE idealiza que a rotina dos professores de Educação Básica
tenha similaridades com a dos professores universitários. "Eles têm uma
carreira e sabem qual percurso têm para seguir", descreve. E defende que
os professores possam fazer pesquisas sobre métodos e resultados da
aprendizagem dos alunos, apresentando-os em congressos de Educação Básica, com
uma dinâmica similar à que existe na educação superior. Flavinês Rebolo aposta
em um cenário diverso do atual. "Um clima de escola com relações
interpessoais harmônicas e equilibradas, com apoio mútuo entre os professores,
possibilidades de trabalho coletivo, são alguns dos aspectos que podem tornar o
trabalho mais satisfatório e prazeroso, e isso com certeza contribui para que o
professor se mantenha na profissão. Mas é claro que não depende só de esforços das
pessoas, é preciso ter políticas públicas que ofereçam espaços para os
trabalhos coletivos e outro tipo de organização do trabalho dentro da escola.
Isso, devagarzinho, está acontecendo", diz Flavinês.
A falta de atratividade das
licenciaturas
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O que pode agravar o diagnóstico do CNE feito em
2007 é que a procura pelas licenciaturas como um todo, no país, segue
diminuindo nos últimos anos. Em 2005, foram 1,2 milhão de matriculados. Já em
2010, após uma queda verificada ano a ano, foram 928 mil matrículas. Os
números foram processados e apresentados em novembro do ano passado em um
artigo de Dilvo Ristoff em coautoria com Lucídio Bianchetti, também professor
da UFSC, a partir de dados do Censo da Educação Superior. A queda contrasta
com o número crescente de bacharéis e tecnólogos formados. "Os programas
existentes da Capes, apesar de serem bons e necessários, não conseguem
interferir na falta de atratividade das licenciaturas. As universidades
precisam ajudar, redesenhando com coragem os seus projetos pedagógicos de
licenciatura, entendendo que nesses cursos há que se preparar o futuro
professor e não o bacharel", opina Ristoff.
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"Eu já preparava aulas para qualquer disciplina"
William Rodrigues, deixou a docência para voltar à graduação |
William Rodrigues se licenciou em história no
campus de Assis da Universidade Estadual Paulista em 2010. Entre o último
semestre da graduação e o início de 2012, foi professor da rede estadual de
São Paulo na categoria "O" - regime de contratação por tempo
determinado para atender necessidades temporárias, como substituição de
docentes. "Muitas vezes eu dei aulas de matemática, física e inglês. E
os alunos sabiam que eu era professor de história e que estava lá tapando um
buraco, eles tinham total consciência disso", diz.
De julho a dezembro de 2011, ele fazia uma
espécie de plantão, esperando a falta aleatória de algum professor. Chegou,
em uma semana, a dar 46 aulas. "Eu já preparava, em casa, aulas que
pudessem ser ministradas para qualquer disciplina", diz. No início de
2012, William foi aprovado no concurso de docentes para um posto definitivo
na rede estadual paulista. Mas preferiu desistir da carreira de professor e
não assumiu o cargo. Na ocasião, estava se mudando para Foz do Iguaçu (PR),
onde acabara de se matricular em uma segunda graduação, em relações
internacionais, na Universidade Federal da Integração Latino-Americana
(Unila). Hoje, segue como estudante no segundo ano do curso. William
estava em Assis em maio, em férias do curso de RI, quando conversou por
telefone com Educação. O contato com a cidade natal onde se licenciou na
Unesp o fez pensar na possibilidade de voltar a lecionar. "Estava com
muitas saudades daqui. Nesse último mês, senti muita falta das aulas:
história me dá brilho nos olhos, é um curso com o qual eu queria
trabalhar", afirma. "Acho que eu até voltaria a dar aula, tenho
saudade da sala e do contato com os alunos. Ser professor é muito bom, não é
ruim. O que é ruim é o descaso, é sair de casa e não conseguir trabalhar por
falta de estrutura."
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