quinta-feira, 25 de julho de 2013

O profissional do poder




PRIMEIRA PARTE

Descrição do objeto de análise
Essa é uma análise sociológica que visa o diagnóstico de uma profissão antiga, mas que possui atualizações importantes no decorrer da História. Essas atualizações contribuem muito para o tipo de sociedade gerada e interfere também bastante nos acontecimentos. Podendo até alterar o rumo da história de povos, como fez com certa frequência. Ela se refere ao profissional que tem como formação a vontade de exercer o poder, principalmente nas instâncias maiores do Estado. Ele ou ela visa ser um profissional cuja finalidade é atingir o poder de governar os outros, em uma cidade, um país, um povo. O objeto de estudo é, portanto, o profissional do poder. Que se convencionou chamar também de político. Não sei se foi o povo quem inventou chamar de político aquele cuja profissão, independente de sua outra formação profissional, é ser eleito para ocupar cargos nas instâncias de poder do Estado. O termo não reflete de fato a ação desse profissional. Por isso preferi chamá-lo de profissional do poder.
O que se observa é que não é uma classe social. Se admitirmos que classe social é a posição que o indivíduo ocupa em relação aos meios de produção. Se admitirmos esse conceito de classe social temos os capitalistas que possuem o capital e os trabalhadores que não o possuem e vendem sua força de trabalho. Entre essas classes que poderíamos chamar de burguesia e proletariado temos a pequena burguesia que possui algum capital, mas não tanto como o da burguesia. Poderíamos supor que essa burguesia sempre tem o poder. E é verdade. Mas ela não exerce muitas vezes o poder como administradora visível e profissional do poder. Ela elege o profissional do poder que vamos nos deter em descrever. É possível que um membro da burguesia exerça e se torne um profissional do poder, mas nem sempre é o que ocorre. A burguesia prefere colocar no poder profissionais de sua confiança para não interferir nos seus interesses, defendê-los e os paga para isso.
O profissional do poder tem várias origens. Pode ser da pequena burguesia e muitos o são. Pode vir do proletariado ou de qualquer classe social. Assim como em outras profissões, não é a classe que o determina. Ser de uma classe social pode interferir, mas não necessariamente determina ser um profissional do poder.

Semelhanças e diferenças das outras profissões
Enquanto um médico, um advogado, um dentista, um enfermeiro, um mecânico estudam ou praticam sua profissão e recebem um diploma ou uma experiência comprovada que os autorizam a exercê-la, o profissional do poder não precisa disso. Ele apenas se candidata ao poder. Ele aprende a ser um profissional na prática de ascender ao poder. Daí qualquer um pode decidir, em determinado momento da vida, se tornar um profissional do poder. Tem semelhança com alguns artistas, como um escritor ou um pintor, que nem sempre fazem cursos para se tornar um autor ou um pintor. Eles fazem a obra e a obra os define. A diferença é que o profissional do poder não é um artista, ele faz uma obra sim, que é o seu governo, mas essa obra é muito diferente da do artista. Ambos podem ficar famosos e ficam em geral. Porque seus atos são divulgados pela imprensa. Por que a obra é diferente? Porque a obra do artista cria o belo que, muitas vezes, nos traz prazer. Já o profissional do poder nem sempre cria o belo e muitas vezes causa decepção e sofrimento. Mas ambos ficam famosos. Os artistas quase sempre com admiração e carinho, porque só nos causam prazer e os profissionais do poder, em geral, com ódio e desprezo da maioria, com exceção de sua própria equipe, que o elegeu para ter lucro com ações ou participando nos ganhos em dinheiro, empregos, mordomias, tudo isso em troca do apoio e trabalho feito para o profissional do poder ter sua ascensão.
A origem dessa profissão
Sendo feitas essas considerações iniciais, vamos à análise de como surge então o profissional do poder. Ele não forma uma classe social, ele não se forma profissionalmente em nenhuma instituição, como um médico ou engenheiro, ele é igual a qualquer outro cidadão. A diferença é que não é ainda famoso nem conhecido, mas quer se tornar um profissional do poder. Como qualquer profissional ele quer ficar rico, famoso, conhecido como uma estrela de cinema no exercício de sua profissão E luta para isso. E muitos conseguem.
O ser humano tem uma característica muito curiosa. Eu acredito que ocorre por defesa nos atos que tem de fazer para sobreviver e/ou sentir prazer. Ele tem duas fases no exercício dessa característica. Ou sabe que não é verdade o que pensa de si, mas age assim mesmo como se fosse verdade, ou se ilude, totalmente, para não se auto-recriminar. Vamos chamar essa característica de racionalização. Quer dizer, o sujeito inventa argumentos mais ou menos racionais para si mesmo para agir como age sem culpa. Por exemplo: você quer espancar o vizinho porque ele está com o som alto. Vai até ele e o espanca até com muita competência. E diz para você mesmo que está apenas fazendo valer o seu direito ao silêncio. E, se preso, insiste nesse argumento. Você não admite que é violento, perverso, descontrolado. Você culpa o vizinho que o provocou. Não é você que é descontrolado e agressivo. São os outros que lhe provocam. E, acreditando nisso, você pode espancar uma cidade inteira e até gostar, com o tempo e a prática constante disso. Esse processo de racionalização é subjetivo e importante para o profissional do poder porque suas razões lhe aliviam de qualquer recriminação e, portanto, sofrimento. Essas racionalizações amortecem sua consciência e, em alguns indivíduos, a eliminam. Estou aqui falando na consciência como sendo uma noção de respeito ao próximo que pode ou não se expressar em normas morais, como não matar, não agredir, não contribuir para a miséria alheia etc. Porque a racionalização tem uma outra faceta. Ela, como um anestésico moral, convence a pessoa que ela está certa. Daí ela pode fazer coisas absurdas e se sentir tranquilo devido às explicações que dá a si mesma sobre o que faz. Hitler, Stalin e outros fizeram o que fizeram porque conseguiram anestesiar suas próprias consciências. Eles fizeram o que fizeram porque usaram esse processo de convencimento de si mesmos a partir de argumentos inventados por eles com essa finalidade. Hitler achava os judeus e todos os outros grupos sociais que perseguiu profundamente perigosos para toda a população germânica e, portanto, assar criancinhas, vindas dessa população, em fornos crematórios era justíssimo, urgente e necessário. Stalin matava seus próprios correligionários achando que estava defendendo o socialismo, fundamental para o bem do proletariado cuja consciência e sabedoria do que seria bom para ele, só ele, Stalin sabia. A racionalização é um delírio de autojustificação. Se o delírio for muito grande pode surgir um serial killer. Os serial killers que surgiram na História foram, de certa forma, muito menos letais do que profissionais do poder, que nos seus delírios enquanto ditadores mataram milhões de pessoas com a mesma tranquilidade de Jack, O Estripador, Zodíaco etc. Não significa que o delírio de um ditador no poder que leva ao assassinato seja o mesmo de um psicopata: é muito pior. Os atos são os mesmos, o que muda é a proporção. Estão presentes os mesmos ingredientes: sadismo, delírio e autojustificação devido ao delírio. Os que levam a população de um país a miséria, ao desespero, a falta de segurança, educação, atendimento médico tendo na sua mente doentia o delírio que o convence que está desempenhando bem sua profissão além de criminoso sofre de doenças morais e psicológicas que o leva ao delírio sérias. Chamaria até de a síndrome de Calígula.
Então estamos vendo que a racionalização é uma característica humana, mas, como vamos ver, fica exagerada no profissional do poder. Existe no médico, por exemplo, que mata o paciente e se autojustifica de todas as maneiras para continuar a ser negligente. Mas o profissional do poder é ainda mais letal, porque ele pode condenar com seus atos à miséria, durante anos, milhões de pessoas e liquidar países inteiros, como por exemplo, o Haiti.
A outra característica, sempre constante e observada, é que o profissional do poder, se for competente, assim como nas outras profissões, fica rico. A diferença das outras profissões é a rapidez do enriquecimento e o volume da riqueza. A competência que estou aqui me referindo não é no exercício eficiente de sua profissão para a população que governa, é na sua capacidade de enriquecer na prática de acumular mordomias, o que gera uma outra característica, que é a capacidade de enriquecer seu séquito e familiares. Porque enquanto os outros profissionais só contam com o seu saber para ganhar dinheiro, como o contador, o advogado, o médico, o profissional do poder não tem propriamente um saber, ele tem intuições que geram a experiência em ganhar eleições. Para isso ele não pode trabalhar sozinho. Ele precisa de outros profissionais para exercer sua profissão desde o início. O profissional do poder terá uma série de outros profissionais para o eleger. Ele forma uma equipe que se transforma em sua corte. E, se sentimental, vai contemplar seus filhos, parentes, a tia pobre que o criou, talvez, os amantes de que sexo seja e por aí vai. Com o feminismo, mulheres podem ser também profissionais do poder. Antes não podia. Esse fato demonstrou que, nesse aspecto, quer dizer, como exercer o poder, elas são exatamente iguais aos homens.
A origem do profissional do poder
Já ficou demonstrado que o profissional do poder não se origina em classes sociais. Existem os que vieram da burguesia, da pequena burguesia e outros do proletariado. Nenhuma dessas classes influencia suas ideologias de forma sistemática. Tem profissionais do poder que vieram do proletariado e só defendem os interesses da burguesia. Nenhum deles nunca defendeu de fato os interesses do proletariado. Propagam que sim, os mais alucinados acreditam que o estão fazendo, mas não passa de delírio de racionalização. O máximo que conseguem chegar é à demagogia.
Tem várias causas para fazer surgir um profissional do poder. Vou colocar algumas mais fáceis de serem observadas. Nascer em uma família de profissionais do poder onde o pai, o tio e outros ficaram ricos com essa profissão. Não ter nenhuma habilidade ou desejo de ter alguma profissão, ser indolente o suficiente para não estudar e passar em concursos, vestibulares etc. Às vezes, isso tudo vem associado a um grande desejo de ter muito dinheiro. Pode também isso levar uma pessoa ao banditismo comum de traficar, contrabandear, roubar, criar máfias etc. O profissional do poder pode não ser esse tipo de bandido, mas alguns podem negociar com bandidos porque a origem e os atos não são os mesmos em todos, mas as motivações são. Às vezes não dão para nada. Ser padre não dá mais dinheiro, é um percurso muito lento e incerto quanto a vir ganhar o dinheiro que o político ganha. Não tem vocação para artista ou tentou e não deu certo, jogador de futebol também não tem vocação ou tentou e não emplacou, quer dizer, não ganhou dinheiro. Enfim não tem como ganhar dinheiro. Isto é, possuir o capital para ter uma boa mulher e/ou mulheres gostosas ou homens gostosos ou os dois, mulheres e homens, carros caros, casas espetaculares, viagens maravilhosas, fama, dinheiro à vontade nos bancos etc. Todos querem essas coisas, vamos deixar de hipocrisia. Varia apenas a profissão ou os métodos, os escrúpulos para se conseguir isso. Nessas tentativas fracassadas ou na sua total falta de opção para ganhar dinheiro, ser um profissional do poder pode ser a solução. Sim, me esqueci, pode abrir um Igreja para empresariar o nome de Cristo, mas o mercado já está saturado. É a mesma situação de ser padre. Só as grandes igrejas protestantes dão dinheiro de fato. Foram séculos depois que Lutero, talvez até bem intencionado, talvez um alucinado, vítima de um delírio comum nessas pessoas, mas sem conhecer o ser humano, retirou da Igreja Católica a exclusividade da marca Cristo e fundou o protestantismo que permitiu o varejo. Outra origem é certo impulso nervoso que faz o profissional do poder ser líder em algumas circunstâncias. Quando todo mundo está sem saber o que fazer ele toma a frente e os outros o seguem. Tem um incêndio. Ele, por nervosismo e inquietação, ansiedade, pega um balde de água e começa a apagar o fogo, aí os outros, sem pensar, por imitação, comum também em outros animais, o seguem. Devem existir outras causas para o aparecimento do profissional do poder e, muitas vezes, como ocorre com o ser humano, o acaso. Está indo em uma igreja protestante para curar o alcoolismo ou por não ter o que fazer, o amigo o levou e lá vai se destacando por qualquer razão ou a igreja não tem um nome bom para candidatar e... pimba, ele se candidata, vence a eleição e começa a ser vereador. Entra no paraíso. Racionaliza que foi a vontade de Jesus, se acredita mesmo abençoado por Deus e começa a aprender a profissão e, quem sabe, vai ascendendo a deputado, prefeito e, pronto, tem tudo nas mãos. Ter o poder é a droga mais forte que existe. Qualquer poder, até de síndico de prédio. Imagine o congresso nacional. E quando o poder vem acompanhado de muito (mas muito mesmo) dinheiro, a dependência é incurável.
De onde vem o dinheiro.
Estou falando de uma maneira geral. Essa é uma análise sociológica, não estou me referindo a nenhum político de nenhum país. Quem botar a carapuça na cabeça é por livre e espontânea vontade. Quem identificar esse ou outro profissional do poder é também um delírio pessoal. Essa é uma análise de conceitos e de tipos sociais.
Eu disse no início que a burguesia muitas vezes, já tendo muito dinheiro vindo de outras fontes, em geral da exploração do proletariado, não quer ser profissional do poder. Mas tem de controlar quem é profissional do poder. Aí, na hora que sente a sua vontade de profissionalização, se aproxima e financia a campanha do profissional do poder. Ou oferece dinheiro mesmo depois para passar esse ou aquele projeto que vai beneficiar a burguesia. Por exemplo: uma grande construtora, para lucrar, precisa construir e construções que gerem muito dinheiro difícil de ser rastreado, principalmente se for superfaturado. Então vamos construir. Forma-se o grupo de profissionais do poder que vai aprovar os projetos e para isso se associar com as empresas capitalistas. E o povo fica contente porque pensa, e lhe é sugerido, que foi feito em seu bem. Esse é só um exemplo. Existem milhares de maneiras do profissional do poder ganhar dinheiro. Não é o salário que é fonte do enriquecimento, são essas coisas não-tributáveis. Profissional do poder não declara tudo ao Imposto de Renda porque seria imediatamente preso e levaria a burguesia que o compra à cadeia. Observem. Vez por outra uns recebem menos, ficam revoltados e denunciam. No Japão alguns se matam quando pegados nos crimes. Sim é crime. Exercer o poder para enriquecer e enriquecer empresas é crime. Isso é a principal causa da miséria generalizada em que se encontra a população de muitos países. Nesses países os profissionais do poder racionalizam para fazer o que fazem e compram autoridades que os poderiam punir e quem estiver à venda. E, se descobertos, dão uma de agulha: tomam no cu e não perdem a linha. O povo esquece e ele sendo bom profissional dá a volta por cima. No Japão ainda existem resquícios da moral dos samurais. Se descobertos, os profissionais do poder se matam. E quase todos estão nessa situação, só depende do preço. De certa maneira é como puta. Umas são mais caras outras são mais baratas. Sugestão de brincadeira: Ingredientes - admitindo que todos que estão na brincadeira já beberam um pouco e são, dentro do possível, conhecidos como aqueles que nunca deram a bunda ou não pretendem. Dar a bunda é um grande tabu para a maioria dos homens. E pergunte, no grupo, por quanto quem daria a bunda. Cem reais? Acredito que todos negariam. Quinhentos reais? Um milhão... Dólares ou Euros? Pergunte a você mesmo na calada da noite de insônia devido às contas a pagar por quanto você cederia. Tem gente que qualquer 500 reais tá ficando de quatro. Aquele que diz enfático que nem por dois milhões de euros daria a bunda, em geral, seria o primeiro a dar por qualquer importância ou mordomia. O problema é a concorrência que inflaciona o mercado. O profissional do poder é assim. Em um milhão deve ter uns dois que não ficam de 4 diante de uma boa proposta. Assim que gostam da proposta começam a racionalizar. E a racionalização, em geral, inclui o povo. A melhoria do povo, os mais cínicos se dizem ou apelam para a construção do socialismo, os desfavorecidos, a população mais carente. Por isso ele aceita a propina. É uma estratégia, não é crime.
Vou repetir para você se lembrar de um fato muito importante: vocês sabem que existem profissionais em eleger pessoas. Em volta do profissional do poder esses outros profissionais também enriquecem. O profissional do poder leva a sua equipe e enriquece a todos além da família, dos amigos e amantes, enfim, sua corte. Ele forma uma empresa ou, se quiserem, uma quadrilha. 

Autor:  Ricardo Líper

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