quinta-feira, 11 de julho de 2013

DIAGNÓSTICO POLÍTICO CULTURAL DOS MÉDICOS BRASILEIROS



Sou a favor das mudanças a respeito da formação dos médicos e médicas – que não são doutores, pois doutor é quem fez doutorado. As médicas e os médicos não faziam passeatas contra a falta de infraestrutura no sistema de saúde brasileiro, afinal elas e eles não sentem na pele o que os demais mortais brasileiros sentem. Agora, quando o governo mexe com a “reserva de mercado de trabalho” delas e deles fazem mobilizações e passeatas reclamando. Ora, qual a ideia que está por trás da maioria dos estudantes de medicina? Fazer medicina para contribuir com a melhoria do sistema de saúde brasileiro? Desenvolver um trabalho preventivo e curativo nos municípios interioranos do Nordeste brasileiro e em suas zonas rurais? Ou será que são dominados pelas ideias antigas e liberais de enriquecer e ganhar status, quem sabe até tornando-se prefeito de uma “cidadezinha” dessas?

O pensamento individualista liberal, associado ao patrimonialismo doentio que herdamos de Portugal, atravessa todo o nosso corpo social, produzindo aberrações que são silenciadas por práticas discursivas hipócritas. Queremos é ganhar dinheiro! Dinheiro, dinheiro, dinheiro! A busca da maximização do lucro produz médicos sem alma, advogados sem caráter, policiais corruptos e assassinos, professores sem compromisso, empresários que prestam serviços públicos de péssima qualidade na área de transportes, energia elétrica, saúde e infraestrutura. Não é a toa a explosão de manifestações nas ruas brasileiras. O povo brasileiro cansou de tudo isso. Cansaram de ser atendidos por médicos mau humorados que, muitas vezes, utilizam o diagnóstico da moda: virose, para muitos casos que lhes chegam e que a má vontade em atender o povo fica explícita em seus modus operandi. Tem muita gente morrendo de... virose.

O estado e os sucessivos governos, claro, devem ser os primeiros responsabilizados por tudo isso, pois é papel primordial do governo atender à população do seu território com serviços públicos eficazes e eficientes, com qualidade técnica, política e humana. Entretanto, é preciso não desconhecer que, quando um indivíduo põe a farda de policial ele também é o estado! Uma médica, um médico, quando entram no serviço público e estão em seus plantões, são o estado! Um professor que atua nas escolas públicas municipais, estaduais e nas universidades públicas é o estado! Se as condições de trabalho oferecidas, os equipamentos estão defasados e quebrados, os instrumentos e remédios estão em falta, as UTI’s estão lotadas, denunciem ao Ministério Público! Façam mobilizações passeatas, comuniquem à sociedade para que as responsabilidades sejam apuradas, os responsáveis punidos e os problemas sanados! Por favor!

Agora, o que os médicos e as médicas brasileiros (as) querem? “Que tudo continue como dantes no quartel de Abrantes?” Querem manter seus privilégios sem sair do seu comodismo? Querem continuar em seus consultórios assépticos de “povo”, todos nas capitais, cobrando R$ 300,00 a consulta? Querem continuar com seus jalecos brancos pelas ruas sobressaindo-se dos demais profissionais do serviço público e ganhando 20 mil reais mensais por plantões semanais de má vontade? Outra coisa, a questão racial perpassa a formação de médicos. Os negros, homens e mulheres, são minoria nesta profissão, geralmente formada por brancos das classes médias altas das capitais. É preciso que haja uma política pública, qualquer que seja, para aumentar o número de médicos e médicas de pele negra, pois aqui o racismo é de derme, mas a hipocrisia é de epiderme. Cotas para médicos já!

A questão de o médico ser bom ou ruim em nossas paragens, não é questão de formação, mas de deformação. Deformação pelo preconceito, pela busca de privilégios, pelo enriquecimento sem prestação de serviços públicos de qualidade que a população atendida sinta no cotidiano. Deformação pelo modo como um médico é tratado no Brasil: “doutor”, sintoma de um processo histórico colonial em que trabalho, trabalho de verdade, o que, segundo Marx é o que, de fato, produz riqueza, foi associado à escravidão, a quem era escravo, considerado inferior. Depois foi adquirindo outros sentidos, chegando até os dias de hoje à associação de que quem não estudou tem mais é que trabalhar mesmo. Isto é um paradoxo! Não há como um pais desse produzir riqueza. Aliás a crise econômica que assusta o Governo Dilma é justamente esta: temos aumentado a renda (via empréstimos) e o consumo (via crédito fácil) sem aumento de produtividade, o que, inevitavelmente, produz inflação.

O que não pode é aumentar a incidência de médicos na capital, concentrando ainda mais a formação nas grandes metrópoles, como é o caso da Universidade do Estado da Bahia, UNEB que, embora seja a universidade mais interiorizada da Bahia terminou criando, recentemente, um curso de medicina em Salvador. Claro, já sei a alegação: a maioria dos professores e das professoras de medicina não iria ganhar o mesmo que os demais professores e professoras da UNEB ganham para ensinar no interior da Bahia.

Sejam bem vindos os médicos que querem trabalhar no interior! Sejam eles e elas estrangeiros, sejam daqui mesmo. Sejam bem vindos os que querem, de fato, prestarem um serviço público de qualidade, atendendo aos pacientes com paciência, com dedicação, com espírito investigativo, sem diagnósticos precoces fugindo, com pressa, dos problemas de saúde dos outros como se não tivesse nada a ver com isso. Sejam bem vindos os que querem desenvolver um processo de pesquisa sobre as enfermidades endêmicas e epidêmicas que afligem a população da localidade onde o (a) mesmo (a) desenvolve seu trabalho na área de saúde, tanto preventivo, quanto curativo.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Nenhum comentário:

Postar um comentário

joselitojoze@gmail.com