quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Frankenstein, Dilma e Lula

Quando eu era garoto, conheci a incrível e horripilante história de Frankenstein, de autoria da britânica Mary Shelley. Um monstro tecido pela imaginação de um cientista louco, que desejava ardentemente ocupar o lugar de Deus na criação da vida: o mito de Lúcifer. E, para isso, esse “doutor” juntou num mesmo corpo, partes de corpos de cadáveres. O monstro foi criado e o público deu a ele o sobrenome do pai: Frankenstein. Nada mais justo. A história do criador e da criatura termina com a morte de ambos, com a explosão da torre em alguns filmes ou com a certeza da morte da criatura após o seu exílio nas terras gélidas do Norte. A criatura sempre fora rechaçada pelas demais pessoas. Do ponto de vista ontológico ele era humano. Embora seu corpo tenha sido engendrado com os retalhos da morte, sua personalidade fora tecida historicamente com as ideias e os sentimentos humanos do seu contexto social e cultural.

Frankenstein era uma criatura de segunda mão. mas nem por isso menos fulgurante. Criada pela ficção, adquire, até os dias de hoje, personalidade própria. No último filme, por mim conhecido, de vampiros e lobisomens, “Van Helsing”, Frankenstein aparece como uma peça-chave da trama. – Aliás, penso que o título do filme está equivocado. Van Helsing, o personagem que seria o principal, é apenas um coadjuvante. Quem dá substância ao filme são Drácula e Frankestein, com seus problemas existenciais – Frankenstein é perseguido pelos humanos que tentam por um fim à sua “vida”. E ele aparece bem humano. Foge, esconde-se, finge-se de morto em busca da paz que todo ser humano deseja para si. Como no livro e no filme original a criatura tem uma capacidade de aprender surpreendente e filosofa sobre a sua existência. Aliás, quem melhor para filosofar senão aquele cuja própria existência é um espanto? “Frank”, permitam-me a intimidade, não é interpretado no filme “Van Helsing” como o monstro que conheci no filme com Boris Karloff fazendo a criatura horrenda. Foi um filósofo, um pensador atento às armadilhas da existência e das contradições da humanidade, ela própria também monstra, horrenda e impiedosa. Frank sofre com a morte de seu pai, mais ainda: criador. Eu fico imaginando se suportaria a morte de Deus. Piraria. Como é que meu criador pode morrer? Pior: antes de mim. Morrendo o criador morre o desejo supremo que deu vida e existência à criatura. E o sentido de tudo esmorece, esperando apenas a minha morte como solução para a depressão profunda e, finalmente, a loucura infernal da humanidade sem Pai/Mãe.

Alguns céticos podem, com toda razão, contestar: – Mas deus não existe. Ele é criatura e não criador. Deus é uma criação humana e, por isso, como objeto cultural, está destinado a fenecer e desaparecer completamente com o tempo. Bem, tenho minhas dúvidas. Vamos supor que Deus tenha sido criado pela imaginação humana em seu desejo de eternidade e de paz. “O sentimento oceânico”, como supunha Freud. Mesmo assim, valeu o esforço. E eu acredito. Por acreditar comprometo-me inevitavelmente com minha gestação sociocultural e assumo a condição de criatura frágil que necessita do apoio divino, para tecer sua existência nos limites de suas potencialidades e mediocridades, mesmo que o apoio esperado nunca venha. Eu não suportaria a morte de Deus. Entregar-me-ia ao exílio que me conduziria à morte, à paz que resta quando tudo o mais desaba. Dizem que tem um muro na Alemanha onde está escrito: - Deus está morto. Assinado, Nietzsche. E, logo abaixo: - Nietzsche está morto. Assinado, Deus. Questão de fé. Tanto na ciência, quanto em Deus. E as duas são discutíveis.

Agora, vocês podem me perguntar: Joselito, mas o que seu texto tem a ver com o título? Bastante! Respondo sem pestanejar. Afinal alardeou-se em todas as mídias e por todo o Brasil que Dilma era a criatura de Lula e isso me deixou deveras preocupado. Com os altos índices de aprovação popular diziam que Lula elegeria até um poste, o nome do seu candidato ou de sua candidata era irrelevante do ponto de vista eleitoral. Não sou Lula, mas pelo menos posso “especulular”. Fiquei com a sensação de que Luís Inácio estava se sentindo meio que um deus. Um imortal no mundo da política, cujo nome ficará marcado para sempre na história desse país, pois “nunca antes na história desse país...” teve tantos ministérios e mistérios não resolvidos. Elegeu Dilma. Sim. Mas preocupa-me pensar que Dilma se sente criatura, porque Lula não pode morrer por agora. Fiquei contente, tanto do ponto de vista humano quanto do ponto de vista político que seu tumor tenha regredido em 70% após o tratamento com quimioterapia. Dilma deve ter dado seus suspiros de alívio, pois a própria já passou por isso. Fico imaginando Dilma sem seu pai e criador eleitoral, solta em meios às hienas e aos chacais que rondam o Palácio do Planalto. Logo logo seria devorada. Hienas e chacais que o seu criador fez questão de abrigar na grande casa do povo, cuja presidente ocupa e preocupa-se agora. As vezes ela foge para Porto Alegre, pois tal como Frankenstein, sofre dos assédios e dos rechaços de representantes da humanidade brasileira que se encontram e se desencontram no Congresso Nacional. Os uivos e as ameaças de ataque iminente não a deixam descansar. Porto Alegre, nesse sentido, é cada vez mais alegre, especialmente para ela.

Mas assim como Frankenstein, a criatura, Dilma demonstra ter existência própria e estilo diferenciado. Mas está presa às correntes dos sentidos determinados em seu processo de criação. Foi criada num contexto de imaginação eterna no poder. Está presa ao PT e à Lula e não consegue desatar o nó górdio em que se encontra nos rumos contemporâneos tomados pela história política de nosso país. Penso que a mesma deve estar rezando para Lula voltar e salvá-la desse “vale de lágrimas” em que foi obrigada a se penitenciar pelos pecados cometidos na Casa Civil no governo de seu criador. Penso que Dilma deseja o exílio em Porto Alegre, mas sofre da situação que a sua personalidade jamais permitirá: mostrar-se frágil e retornar para o “paraíso perdido”. Tal qual um Frankenstein, Dilma, como governo, está monstruosa. Retalhada em ministérios ocupados por criaturas horrendas, que devoram a gordura nacional de credibilidade que seu governo ainda possui. É preciso e precioso para Dilma que Lula volte na próxima eleição. Não para o povo brasileiro, mas, precisamente, para libertar Dilma de sua condição horrenda de governante de um país ocupado por seres funestos que destroem essa nação impiedosamente. Somente Lula pode governar um país assim, pois, mesmo ele não tendo criado, nutriu e desenvolveu esse modo fragmentado e horripilante de governar e de entregar o futuro dessa nação às hienas e aos chacais. 

Joselito da Nair, do Zé, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Consumismo numa Sala de Reboco

O tempo e o espaço são construídos de forma totalitária e, ao mesmo tempo e muitas vezes paradoxalmente, singular. O capitalismo elege e determina seu tempo e a tudo vai submetendo, retirando de tudo o seu próprio tempo e contexto e ainda descaracterizando o sentido fundador do fenômeno. É assim com o natal, com o ano novo, com o dia das crianças, com a quaresma, o carnaval, o dia de finados, das mães, dos namorados e do mês das noivas entre outras datas festivas. Todas as datas vão sendo consumidas pelo sentido mesquinho que o capitalismo imprime a tudo que toca. Mas, ao mesmo tempo, tudo o que o capitalismo toca vai perdendo sua data e seu lugar e, inevitavelmente, vai perdendo seu sentido último e seu significado histórico e ontológico. Perdendo seu valor social, todo objeto, todo fenômeno, vai perdendo seu valor histórico que fecunda os seres humanos na produção de sentidos que lhes inspiram suas identidades socioculturais. O toque de Midas vai tornando tudo ouro, contudo, esse ouro vai tornando-se “ouro de tolo”. Muita gente começa a comprar o “ouro”. Muita gente começa a usar o tal ouro e, fatalmente, por estabelecer uma relação esvaziada de simbolismo, e por surgir outros objetos e símbolos descartáveis, o outrora “ouro” vira pó. Há gente, porém, que evita o brilho que o mercado oferece, que não enche os olhos com as vantagens falaciosas e com os simulacros criados para vender produtos e serviços que, geralmente, não correspondem ao que oferecem. Produtos multicolores em embalagens convidativas e, neste contexto do simulacro, mentirosas. Há singularidades que se negam a comprar sem necessidade e é por esse caminho de gente que outro mundo pode ser tecido para além do capitalismo e de sua sanha destruidora.

“Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco”

O mestre Gonzagão não queria desgrudar de sua amada, e o cenário em que se dava o encontro: a sala de reboco, na qual ecoava o forró “enquanto o fole tá fungando tá gemendo”, constituía o sentimento que se eternizava naquele momento único e irrepetível de amor. O fole, no abre e fecha da produção do som, "funga e geme", constitui-se numa extensão do próprio Gonzaga, que devia estar fungando e gemendo solto e amarrado naquela mulher que lhe tirava o juízo, erotizando toda a sala e potencializando desejos impronunciáveis, que vão até a beira do dizível. A sala de reboco tem uma voz para aquele homem em seu tempo e em seu lugar. Fala do forró, da vontade de continuar o prazer grudado nela. Fala da fala, da conversa “ao pé de ouvido”, da quentura dos corpos roçando o viço, do calor produzido por aquele bate-coxa que vai aumentando a chama que acende os corpos e, pelo menos naquele instante eterno, funde mulher e homem, numa sala de reboco. Fico imaginando o preço disso tudo. “- é 5mi reis..é 5mi reis..é 5mi reis..” (Karolina com K) Sala de reboco, sanfoneiro, tamboretes e mesas para sentar e conversar, milho assado, pinga, amendoim torrado e cozido, ele e ela e as demais pessoas, cujas histórias não foram registradas. Muita riqueza simbólica, pouca necessidade de financiamento. “- é 5mi reis..é 5mi reis..é 5mi reis..” Quando eu ouço Gonzagão sou tomado por uma alegria inexplicável. Tenho uma identidade muito forte de sertão, por causa de meu pai, um caboclo forjado lá pras bandas de Remanso, a cidade que foi coberta pela barragem. Essa identidade cultural que me toca, como diz uma propaganda, “não tem preço.” Minha mãe que me perdoe, mas é que o sertão de Zezinho – meu pai criança da memória compartilhada pelas histórias contadas – me fala mais longe e sua “fala” invade tempo e espaço e me alcança nesse fim de mundo que é o mundo contemporâneo.

Alguém pode alegar que tem preço, sim! Há um indivíduo (eu), exercendo livremente sua liberdade de ouvir o que bem quer, tendo, para isso, que pagar a luz, adquirir o meio material, ou melhor, a mercadoria, e escrever esse texto num netbook para, daqui a pouco, publicar em meu blog e divulgar no facebook, pagando o serviço de internet para que isso tudo aconteça e esse texto chegue até você, que também deve estar pagando, de alguma forma, para ler. Bem, não discordo dessa concretude que me apanha em meio ao que escrevo, pois não pensei nisso antes de estar escrevendo. Mas já escrevi muito em folhas de caderno - Fátima Leiro que o diga - e, na ausência de internet, facebook e outros serviços e meios materiais, participava de concursos de poesias, pois era neles que divulgava, a um preço muito baixo, meus pensamentos errantes. Quando eu morava numa casa de reboco, confesso que sofri. Mas não pela casa de reboco. Quando eu morava numa casa de reboco, confesso que vivi, que sorri, na casa de reboco, cenário de minhas memórias que ficaram eternas porque amaram.

Ainda tem sertão e isso meu deixa muito esperançoso. Mesmo assim o capitalismo está consumindo a caatinga e invadindo o sertão. A indústria cultural vem estilizando o forró, retirando sua marca ontológica e desperdiçando seu potencial emancipador. Teve um momento de um forró tão feio, que me dava dor da prisão que emissoras de rádio impunham ao cidadão comum. O mesmo mercado que tanto fala em opção, é o mesmo que impõe o estilo único de música, tocando nos quatro cantos o mesmo desencanto. Mas ainda tem sertão, embora muita coisa esteja morrendo. A ecologia cultural também sofre o desmatamento de suas produções culturais. A ecologia cultural também vai sendo extinta pelo mercado, que deseja nada mais que o lucro fácil e rápido e, por isso mesmo, exercendo livremente, sem vigilância e ponderação alguma, suas potencialidades destrutivas, vai extinguindo memórias, histórias, sentidos, estilos e notas, musicais. Ainda tem sertanejos e tomara que sempre haja um pouco de sertão que sirva de ventre para a gestação da ontologia cultural, social e material de novos sertanejos, um pouco de sertão para que os velhos sertanejos descansem a sua memória e prossigam a sua história, na paz e na guerra do fim do mundo. 

Por falar nisso, já comprei minhas camisas para o verão na Kasa Andrade, por coincidência também com “K”. Com uma velha calça jeans ou uma bermuda branca e uma sandália simples, caem bem para todo o verão de Salvador. Termino com um trecho da reflexão poética da senhora Colasanti


A gente se acostuma a pagar por tudo que deseja e o que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer fila para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho para ganhar mais dinheiro, para ter com que
pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar nas ruas e ver cartazes.
A abrir revistas e ver anúncios.
A ligar televisão e assistir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado e lançado na infindável
catarata dos produtos.

Martina Colasanti. “Eu sei mas não devia”. 

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel
Com o auxílio de Luiz Gonzaga, Marina Colasanti, meu pai, Glauber Rocha, Euclides da Cunha e tantas gentes!!!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

EPISTEMOLOGIA EXÚLICA

Quando eu participava da comunidade do Horto-Calafate, Igreja Católica, eu era católico, o que parece óbvio, mas não deveria. É que estava assistindo a reportagem sobre a guerra entre torcidas. Vascaínos e flamenguistas, palmeirenses e corintianos tentando matarem-se uns aos outros, cada qual com sua camisa e sua “paixão”. Do nariz o sangue escorria e o torcedor corria torcido pela torcida adversária. Era torcedor, não era um ser humano e, assim, estava explicada toda essa guerra entre seres que precisam, além do gol, além do sofrimento psíquico do torcedor do time que jogou contra o time dele, do sofrimento físico do “oponente”. O que poderia ser uma festa do esporte mais querido entre os brasileiros, torna-se uma arena onde gladiadores/torcedores vão disputar o poder de matar o outro.

E tudo isso começou, pelo menos aqui em Salvador, na Bahia, quando os torcedores – que antes sentavam juntos para ver seus times disputarem a bola e atingirem o objetivo maior: o gol – criaram a instituição da “torcida organizada”. Aí a família teve de se dividir. Maridos para um lado e mulheres, que torciam pelo outro time, pro outro. Pais e filhos, irmãos, tios, amigos, vizinhos, começaram a entrar no estádio de futebol por entradas diferentes, para não haver “choque entre torcidas”. A “Bamor” criou e alimentou um amor mesquinho pelo Bahia e, como tudo tem seu reverso, o ódio mortal pelos “Imbatíveis” do Vitória e vice versa. Já não bastava o grito, a paixão exercida pelo anseio do gol, pela decepção do gol adversário, a admiração e o espanto pelo lance supremo que o craque oferecia em forma de drible, de chute, de lançamento, de gol. A torcida se organizou, não para torcer, mas para ofender, humilhar, agredir, ferir, e até matar. O futebol ficou secundário nesse processo, tornou-se religião.

Torcer pelo time adversário, nesse processo, passou a ser a maior ofensa que um torcedor pode causar a outro. Quem torce pelo outro lado é “infiel”, traidor e, como tal, merece o sofrimento de ter escolhido o lado errado de torcer e de apaixonar-se. Deve ser banido para sempre dos estádios. Nesse lugar, o estádio, a subjetividade é reduzida para quase um nada de humano. O torcedor não pensa, apenas torce. Sua humanidade fica em outros lugares, muitas vezes até em frente ao Estádio. Ali ele não é pai, ela não é mãe, ele não é filho, ela não é irmã. A única coisa que os une é a camisa que veste, pois mesmo torcendo pelo time, sem a camisa com a qual possa identificá-la, a pessoa corre um risco relativo de se ver apontada como “bruxa” ou “bruxo” e vir a ser assassinada na “fogueira santa” que a purificará de toda torcida equivocada que cometeu durante a sua vida louca vida breve.

“E assim caminha a humanidade”. Criamos instituições que nos partem e esfacelam outras instituições, nos deixando em pedacinhos de gente, tão pequeninos, que mal dão uma ideia de humanidade naquele que torce, que se filia ao partido. E quase todas as instituições vão nos esfacelando e nos conduzindo, explicavelmente e irracionalmente, para a guerra. Quando eu fui católico caminhei com a minha imaturidade para a guerra, apesar de Padre Renzo Rossi nos alertar que deveríamos orar e vigiar por e nós, não para os outros. Éramos nós que precisávamos de salvação. Hoje eu entendo perfeitamente. Os evangélicos, das várias “agremiações”, torciam diferente da gente por um deus igual ao nosso. As pessoas que rejeitavam nossa pregação estavam muito certas de tudo. Escolhiam seu caminho e seu jeito de chegar ao “paraíso”, ou mesmo de rejeitar a ideia de paraíso. Os religiosos afrobaianos também escolhiam uma relação com a divindade bem diferente da nossa e quantas vezes me peguei torcendo contra eles e elas! Os deuses deles “jogavam em outro time”. As jogadas deles eram tidas como inaceitáveis, feias, e não conduziam ao gol, ao céu de quem torce do lado de cá da arena.

Qual o lado da arena em que me encontrava? Do lado de cá ou do lado de lá? Quem me via desse lado sabia perfeitamente que eu estava do lado errado da torcida. E o mesmo acontecia comigo. Eles estavam do lado de lá. Mas, como afirma mestre Caetano...

Quem já botou pra rachar
Aprendeu, que é do outro lado
Do lado de lá do lado
Que é lá do lado de lá

O sol é seu
O som é meu
Quero morrer
Quero morrer já
O som é seu
O sol é meu
Quero viver
Quero viver lá

“Do lado de lá do lado que é lá do lado de lá [...]”. É uma confusão! É carnaval, ou pelo menos era isso quando foi. O certo não é encontrar a medida exata, a fronteira certa, verdadeira, dada pela medida perfeita da divisão em lados. Prof. Dr. Eduardo Oliveira (UFBA), que participou, no último sábado, 03/12/2011, de uma mesa redonda, Filosofia: ensino, pesquisa e interculturalidade, como uma das atividades do I Colóquio Nacional de Filosofia: O que queremos com o filosofar na Educação Básica? Levou-me à reflexão quando colocou que os gregos sempre tiveram uma preocupação enorme em conhecer o certo e evitar o erro. Ele propõe, sem medo de errar, uma epistemologia “exúlica”, onde o erro seja também caminho de descoberta. E ai eu fiquei pensando, pois filosofia é pra isso mesmo, o quanto eu sou descartiano. O quanto é difícil para mim caminhar com o erro e o desacerto para a descoberta quase involuntária de coisas preciosas. O quanto é difícil a reinvenção do mundo se não encontro possibilidade de reinventar-me.
Como diria Violeta Parra, cantada eternamente pela diva Mercedes Sosa...

Lo que puede el sentimiento no lo ha podido el saber
Ni el más claro proceder, ni el más ancho pensamiento
Todo lo cambia al momento cual mago condescendiente
Nos aleja dulcemente de rencores y violências
Solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes.

O carnaval baiano popular e de rua, antes da industrialização cultural que oprime e exclui, rejeitava a medida certa de todas as coisas. O sol e o som ecoa em toda avenida e eles são seus e são meus. Quero morrer já nesse frissom dessa gente, sair desse lugar onde minha subjetividade se encontra escorada e viver lá, escancarado do outro lado “que é lá do lado de lá”. Na verdade não havia lado algum. O lado foi inventado pelo partido que tomei na formação de minha subjetividade. Eu acreditei na ideologia dos lados e configurei o meu comportamento em função disso. O lado de lá é do lado, ao meu lado. E toda essa confusão tem uma importância fundamental para mim: confundir. Ou melhor: fazer a gente desistir de calcular o lado e se perder no inteiro complexo do mundo onde tudo é seu e também é meu, sem medidas. Talvez a única medida seja o viver, a vida. A vida do planeta, a vida de cada um nele, sem lados criados para matar, para o inteiro mundo que cabia numa avenida de rua de Salvador quando o carnaval era popular. Morrer e viver lá, sim. Afastando-me de rancores e violências. Ser assassinado por ser localizado e classificado num lado que a ciência e a religião decretaram, não. Não posso ter lado porque tenho de viver inteiro. Como pai, irmão, filho, mãe, homem, mulher, índio, negro, branco, vermelho, amarelo, e todas as cores. Ontem, por exemplo, eu estava vermelho, na procissão de Santa Bárbara e Iansã. Estava inteiramente celebrando, não minha fé, mas a fé num mundo inteiro que a Bahia exprime perfeitamente nesses momentos de fé. Ao invés de propormos o lado da ciência contraposto ao lado da misericórdia e do amor, talvez seja preciso e inadiável propor um amor com sua ciência, esta última baseada numa “epistemologia exúlica" (de Exú), que nos vuelve tan inocentes na reconstrução de um mundo inteiro, inteiramente novo a partir de uma grande celebração da alegria que o carnaval nos proporcionava e pode voltar a nos proporcionar, se o reinvertarmos a partir de nós mesmos, sem lados.


Joselito da Nair, do José, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Me deixe

Deixe-me, deixe assim mesmo.
Deixe meu sorriso farto e solto
Deixe meu cabelo

Deixe meu dia e ainda minha noite
pra que eu viva esses tempos
sem a sua língua e os seus olhos

Deixe-me! tolo, tola
Você nunca alcança
o pinguelo da minha cebola.

Você com seu modo de fugir
não me deixa viver
vive atrás de mim
pra poder se esconder

Nunca entenderá meus sentidos
nunca trilhará meus caminhos
morrerá assim mesmo (a)

Vá viver a si mesmo (a)
e me deixe assim
para sempre vivendo a mim.

Eu me tenho e me basto
O que tenho me basta
O que falta sempre me afasta de tudo

O que me falta não é nada
senão a falta de mim,
e basta encontrar o meu fim
que tudo me graça.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

sábado, 19 de novembro de 2011

Noite adentro


Há uma noite em cada humano
uma noite sem destino
em completo desatino
desprovida de futuro

Uma noite sem esperança
Sem amor, sem sorriso
Noite apenas, sem sentido
Noite de dor, de saudade

Há pelo menos uma noite
Sem cidade,
Uma noite deserta, incerta
Sem qualquer amanhecer.

Noite noite adentro
que adentra a pessoa
e instala a agonia
noite, insônia e lamento

Há pelo menos uma noite em cada humano
pra chorar todas as dores desse mundo.
todos os absurdos cometidos
pelas forças insanas e cegas

É justamente nesta noite sem fim
Quando tudo se acabou
E não há luz, nem estrelas,
nem fogueiras, nem calor
que a gente descobre exatamente
o valor da nossa luz interior.
  
Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Movimenta

Para onde vão todos os móveis?
Para onde se movem?
Para que giram seus pares?
O que querem lá onde vão?

Ninguém para.
O mundo exige movimento.
E a vida? o que Ela exige?
Sei. O tempo não para.
a fila anda, etc.
E todos esses vetores
forçando as palavras, os recursos,
as potencialidades e os discursos...

Tudo parece correr para nunca
para lugar de ninguém,
tudo dizendo que vai acabar.
Há sempre alguém empurrando
- muitas vezes de maneira pouco educada -
querendo ficar para sempre,
querendo pegar com as mãos...
Ó pobres!!!

E a vida, o que quer?
A que deseja chegar?
Já chegou e quis ficar?
Quer voltar circulando?
Quer seguir adiante esse incessante momento?
E quando a vida para:  é a morte
ou é outro movimento?

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Pai, Filho e Corrupção: Amém

Ao fim da novela um filme sem graça permitiu a continuidade da conversa até a hora do sono.

- Mas meu filho, você não está exagerando? Não existem políticos honestos? Não existem religiosos, das diferentes religiões, comprometidos com sua fé e coerentes com suas convicções? 

- Claro que existe pai. Mas, do ponto de vista social e cultural estão ficando cada vez mais irrelevantes. A corrupção no Brasil não é um problema particular, faz parte de sua cultura, está entranhada em todas as instituições, sejam de caráter jurídico, sejam de natureza religiosa ou política, tanto faz. É reproduzida dentro da própria família na base do lema “farinha pouca meu pirão primeiro.” Nesse país as Leis são feitas para serem burladas, seja por recursos jurídicos, seja pelo jeitinho, seja pela propina. No trânsito as estatísticas em torno da relação entre bebidas alcóolicas e acidentes fatais não impede que as pessoas bebam e dirijam. Nem as blitz’s conseguem ter ação efetiva de punição, pois tem lei, habeas corpus, liminares, entre outros recursos jurídicos, contra a própria “lei seca”. Lei seca. Seca de justiça. E fica o seguinte: Todo cidadão é igual perante a Lei, desde que tenha dinheiro para pagar fiança e advogados. E, na prática do trânsito fica assim: para quem mata no trânsito, réu primário, crime sem intenção de matar, etc., não há grandes consequências. Para quem morre e para quem é parente de quem morre, fica a dor, o desamparo e a injustiça. A lei que impera em nosso país é a lei do mais forte, a lei da selva de pedra, asfalto, velocidade e aço mortal. 

E, provocado pela inspiradora realidade nacional o garoto continua. – Apesar da ineficiência dos cartórios na Bahia, por exemplo, a privatização dos mesmos é vista de forma negativa pelos desembargadores e juízes. Isso porque eles não perdem toda a manhã para apenas reconhecerem uma firma, ou autenticar um simples documento. Juiz pode matar, vender sentenças e roubar que não vai preso: é aposentado, ganhando a mesma quantia que ganhava, só que sem fazer nada e continuando com o direito inalienável de cometer crimes sem ser incomodado pelos seus pares. Pai, isso é surreal!!! Os juízes e desembargadores constituem uma classe especial acima do bem e do mal. Nem a justiça os atinge. Estão acima da justiça que deveriam preservar e defender. 

- É meu filho. É duro reconhecer, mas, infelizmente, é isso mesmo. Não existe instituição que escape. Nem a Igreja. 

- Pois é pai. Já tão vendendo as imagens de Irmã Dulce. É preciso capitalizar o momento sagrado da venda. Já detectaram apressadamente dois milagres para João Paulo Segundo, que vai ser tornado santo pouco em breve pelos poderes de Ratzinger. Aliás, ninguém mais comenta que este Papa, o Bento XVI, quando Cardeal, foi informado dos abusos sexuais contra crianças e não tomou providência alguma sobre isso. 

- Lá vai a corrupção e a negligência mundo afora. Diz, preocupado, o pai.

- Mas é claro meu pai! A Igreja Católica é a maior e mais antiga multinacional cultural no Brasil, desde que foi fundado. Fala-se muito da Coca Cola, mas a Igreja Católica é a multinacional mais bem sucedida da história brasileira! E não me venham com a velha ladainha que isso tudo faz parte das fraquezas humanas. É? Não é não! O humano também tem a possibilidade de transcender, de romper com vícios e mudar o rumo da história. Mas a Igreja, na verdade, pouco se interessou pela mudança desse rumo, já que esta mudança lhe era inconveniente. A Igreja, apesar de repetir a ladainha de que devemos nos apegar ao eterno e renunciar o histórico, tem a estranha tendência de se afinar aos poderes políticos históricos a fim de manter sua hegemonia a partir do campo do controle do espiritual.

- Olha pai, continua o filho, aquele comentário sobre os adesivos em automóveis sobre Deus ser fiel, aponta para um deus que opta pelo carro como solução para as pessoas transitarem, e não pelo transporte coletivo de qualidade. O carro individual é o inferno do trânsito atual. Polui, atrasa, ocupa a passagem dos pedestres e estraga os passeios. E Deus colabora com isso? A fidelidade de Deus está numa vida decente para todos e todas ou na conquista pessoal de um bem individual? A ética protestante impera. Pensava que Deus poderia ser encontrado em homens e mulheres simples, pessoas mais preocupadas em cultivar os dons humanos mais sublimes e valores como honestidade, solidariedade, respeito às diferenças, ética, moralidade, compaixão, entre outros. E essa visão se espraia e contamina todo o tecido social. Aqui na Bahia mesmo, importa mais para o Governo construir uma ponte bilionária entre Salvador e Itaparica do que aplicar os escassos recursos na melhoria de questões básicas como saúde, educação. Aqui na Bahia os resultados do IDEB foram pífios, refletindo uma educação fingida, estampada na propaganda do “agora tem tem tem...” E no Brasil serão previstos, como Lula sonhou, 30 bilhões para a concretização do “Trem Bala”. “Agora trem trem trem”. E para a educação, a saúde e a infraestrutura públicas, “não tem não tem não tem”, nem agora, nem no próximo governo. Simplesmente porque queremos estádio novo de futebol, doravante denominado “arena”, pela FIFA. Mas a verdadeira arena é o campo social, político e econômico onde se confrontam ideias gladiadoras de mundo. Ideias de uns mundos divididos em bárbaros e civilizados e uns mundos onde as divisões sejam superadas pela solidariedade criativa e trabalhosa dos seres humanos em busca de reconciliação consigo, com os outros e com a natureza.

- É meu filho. São apostas. E o que faremos nesse tempo em que vivemos? Podemos ser coerentes com esse discurso? Podemos atirar a primeira pedra? Nós, das gerações mais velhas, percebemos nossas contradições e isso nos paralisa. Percebemos nossa implicação nesse tecido cultural que nos enreda a todos. Ficamos com as pedras na mãos sem saber bem em quem atirar e se a devemos atirar. Talvez temamos nos tornar terroristas hipócritas, que acreditam em sua pureza contra a sujeira dos outros que não seguem cegamente nossos princípios, ideias e ideais. Às vezes penso se não devia atirar tais pedras contra mim mesmo.

- Hum. Mas meu pai, alguma coisa deve ser feita! Não somos santos, nem queremos, afinal, não somos Papa. Não podemos pensar mais como classe social? O capitalismo deixou de existir? Não seria ainda o capitalismo selvagem que coordena os podres poderes que nos colocam nessa situação? Agora o senhor me traz uma preocupação: por onde começar? Eu terminei de assistir “Cidades e Soluções”, e um dos entrevistados, um professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, defendeu que o grande problema da desigualdade no mundo é a distribuição dos ativos. Mas não ativos materiais. Ele até dá um exemplo cômico de um país que fez uma revolução distributiva e deu uma vaca para cada habitante. Bem, comeram todas as vacas e este animal nunca mais foi visto por aquelas paragens. Bem, ele defendia que um dos principais ativos do mundo contemporâneo é a educação. E a educação é um ativo básico para a construção de uma sociedade baseada na cultura da igualdade, do desenvolvimento zero, da limitação do consumo, da qualidade de vida ao invés da quantidade de bens. Pai, eu quero ser educador. Acredito que o educador é o sacerdote do novo mundo. É por ele que vai passar o caminho de um admirado mundo novo. Um mundo admirado pelas suas belezas naturais, pela educação dos seus ocupantes, pela simbiose cuidadosa entre ambos, viajando pelos “mistérios do sem-fim” (Cecília Meireles) do universo nessa Mãe Gaia, de acordo com a vida pulsante que ela traz em sua fecundidade entranhada de mulheres e homens grávidos de mundo.

O pai, sentindo-se estranhamente tocado pela sensibilidade e pelo idealismo do garoto, o abraça como nunca antes havia feito e um poderoso sentimento de paz e amor lhe enchem de uma alegria também nunca tida antes. O admirado mundo novo começava ali mesmo.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.    

domingo, 23 de outubro de 2011

Pai, Filho e Corrupção no Brasil

Um dia qualquer, numa manhã chuvosa, pai e filho estão em casa, em frente à televisão, sentado no sofá da sala. Durante o comercial, esse tempo indefinido onde ficamos sem saber o que fazer com a nossa vida, um diálogo entre pai e filho começa a preencher o longo vazio...

- Meu filho, o que você vai ser quando crescer?

- Ah, meu pai, isso eu sei...

- E o que é? Pergunta curioso o pai.

- Político. 

- Político? Pergunta o pai surpreso, pois essa é uma atuação humana que criança geralmente nem tem interesse.

- É pai. Pois como político, eu vou poder fazer o que quiser nesse país que não vou nunca pra cadeia.

 O pai, preocupado, retruca: - Mas meu filho, o que é isso?

- É pai. Não é errado cometer crimes quando se é político em nosso país. Aqui no Brasil isso é normal e a Lei está do nosso lado. Falava o filho já se sentindo um verdadeiro parlamentar. E continuou. Aqui todo mundo que tem prestígio político é sempre inocente. Aqui rouba-se merenda de criança, produtos higiênicos, donativos humanitários, verbas de emergência para socorrer famílias atingidas por calamidades. Aqui desvia-se dinheiro público destinado aos esportes, ao lazer, à educação, à formação profissional de crianças. Aqui também as obras se tornam ruínas antes de serem concluídas e o que seria destinado para irrigação de lavradores pobres produzirem com dignidade sua existência, é invadido pelos ricos e poderosos que constroem mansões imensas.

- Mas meu filho, o que é isso? E o que você aprendeu na catequese? Atônico o pai tenta, atabalhoadamente, demover o filho de sua argumentação, recorrendo ao campo do sagrado. Mas o garoto, refletindo as convicções da nova geração a partir de sua observação pertinente do mundo, continua. 

- Olha pai, eu descobri que a religião e a fé aqui em nosso país, assim como a maioria das coisas, entre elas a educação, é só figuração. O político não vai à igreja porque tem fé. Ele vai em tempos que antecedem eleições para angariar o máximo possível de votos dos fiéis. Ou ele aparece de vez em quando para tratar com os líderes dessas religiões para explicar algo que esteja em votação e que contraria os interesses dessas religiões, como foi o caso da lei do aborto. O senhor não se lembra que os políticos lá em Brasília, ao receberem a propina do esquema montado por Arruda deram-se as mãos e ainda rezaram agradecendo a Deus pela sagrada propina que o “pai” os concedeu? Os corruptos também têm o deus lá deles, que abençoa a corrupção bem sucedida. Na verdade, meu pai, eu tô descobrindo que cada grupo inventa um deus pra si. Eu vejo escrito em adesivos em alguns carros: “Deus é fiel”. Aí eu fico pensando. Deus é fiel por causa do carro? O carro é o símbolo do Deus Vivo que abençoa um ser humano dando-lhe como sinal um carro e prestações durante cinco anos para pagar? Por que a fidelidade de Deus está ligada a um bem simbólico de sucesso como um carro ou uma casa? Por que precisamos repetir repetidamente que Deus é fiel? Ou porque Deus seria fiel apenas para quem conquistou um bem material como um carro? E as outras pessoas que andam de ônibus? Deus não seria tão fiel assim para elas? Pense bem meu pai. Deus é só uma invenção particular e conveniente, principalmente para os políticos. Quer um exemplo: como a maioria dos habitantes desse país são cristãos, por causa do processo histórico de  colonização, dividindo-se em evangélicos e católicos, os políticos comportam-se de acordo com isso. Vão, comungam, oram, cantam músicas evangélicas, e até pregam. Mas se fôssemos um país onde imperasse o candomblé, eles, os políticos, estariam nos Terreiros, recebendo até as Entidades e os Orixás, trazendo nas mãos as oferendas à Iemanjá e os presentinhos de Exú para que o Orixá brincalhão e irreverente não atrapalhasse a sessão. Ô pai, político não se preocupa com Deus ou com outras Entidades Divinas. Ele se preocupa consigo, apenas. Sarney se preocupa com Sarney, Calheiros com Calheiros, Da Silva com Da Silva, Nascimento com Nascimento, o diabo com o diabo. Só Deus, o Deus verdadeiro, é que se preocupa com coisas como justiça, verdade, amor, solidariedade.  


- Hum. Graças a Deus, meu filho acredita em Deus. Exulta o pai. E continua. - Nunca havia pensando por esse ângulo. Responde o pai, pensando em como aquele filho de 15 anos era tão perspicaz. Seria a escola? Não. A escola parecia tão formal e destituída de vida. Ele aprendera nas interações com o mundo, apesar da escola, e com sua personalidade. A escola não trata de corrupção e do mundo atual. Trata de conteúdos que não se articulam ao mundo.

- Pai, deixe de ruminar e vamos ao que interessa, que é ser político no Brasil. Fosse para fazer justiça todos os ladrões, estelionatários e assassinos deveriam estar soltos. O Congresso Nacional é um presídio a céu aberto, com raras exceções, pois isso ainda sempre tem. Um presídio que funciona terça, quarta e quinta e, depois, solta seus inúmeros “inocentes até se provar o contrário” na sociedade. Os Ministérios então. Cada um é uma capitania hereditária, digo, partidária (vi isso em algum jornal). O PC do B - cheio de comunistas de araque, doidos pelos bens da burguesia - que sempre foi fiel ao PT, por exemplo, já levou, num esquema montado a partir de ONG's, o seu bocado de milhões, pagos regiamente pelos cidadãos de nossa “pátria mãe gentil” através dos impostos, incluindo o de Renda, senão irão presos, sem direito à fiança, é claro. Aliás, essa pátria é gentilíssima para os políticos que compõem a base do des-governo. Eu pensei que foi FHC que deixou uma “herança maldita” para Lula. Mas, a herança que Lula deixou para Dilma administrar, é mais que maldita. É um câncer maligno!!!

- Mas filho...
E essa conversa continua. A novela recomeçou depois do comercial.