terça-feira, 25 de maio de 2010

Deficiência Acadêmica Adquirida e Ensino Superior

O professor da UFBA, Telésforo Martinez Marques, como indiquei no texto anterior, chama atenção para o sério e preocupante fenômeno da precarização do ensino superior na Bahia, através de sua publicação no jornal A Tarde, dia 24 de maio de 2010, cujo título, “Expansão midiática”, denuncia o descaso com que os governos e a sociedade tratam do fenômeno. Educação é coisa muito séria, pois é através dela que a sociedade prepara seus membros para atuar o melhor possível na solução dos problemas que ela mesma apresenta em seu desenvolvimento. O sistema educacional em todos os níveis e modalidades deve buscar atingir essa finalidade, através de projetos delineados com base na realidade concreta e não em fantasias de grandeza que constitui a grande ilusão de que o diploma representa conhecimento, onde a família do formado dá a big festa em comemoração à chegada do primeiro ou de mais um “diplomado” na mesma. O resultado dessas políticas públicas educacionais se percebe em estudantes chegando ao ensino superior semi-analfabetos, com pouca capacidade de inferência, reflexão rasteira, ojeriza à leitura – um texto com mais de cinco páginas é um horror para esses jovens -, entre outras distorções.

Essa percepção do despreparo dos estudantes é geral. Com a exceção de alguns nichos de competência e de alguns casos excepcionais, que, aleluia! ainda existem, há uma quantidade considerável de jovens universitários que deveriam voltar para aprender a ler, escrever e calcular na educação básica. Lido com estudantes cada vez menos propensos aos estudos. Pessoas que escrevem “grobalização” “apartir”, “proficional”, “anciedade”, entre outras – tenho as avaliações guardadas comigo para comprovar – que me dá uma ansiedade tremenda no papel de professor do ensino dito superior. Toda turma eu tenho que ensinar a maioria dos meus alunos a fazer uma redação simples, com elaboração correta do parágrafo, como unidade de idéias, contendo: afirmação, justificativa, ilustração e conclusão. Eu gostaria de saber quem corrige as redações desse pessoal no processo de seleção, cada vez mais precário. É cada vez mais difícil se trabalhar um sistema teórico mais complexo, pois a maioria dos estudantes ou não lêem ou não acompanham o raciocínio exigido para assimilação dos novos conteúdos, transformando-se em conhecimento a partir das interações acionadas na metodologia de ensino planejada didaticamente. Eu solicito que façam entrevistas com os colegas, mas as interpretações de tais entrevistas e as inferências daí retiradas, ou são superficiais ou são bastante equivocadas. Em toda avaliação tenho que deixar inicialmente de lado a consideração dos conteúdos propriamente ditos para corrigir aspectos como: pontuação, ortografia, concordância verbal e nominal, acentuação, entre outras. Depois é que começo a tratar das idéias apresentadas e de sua coerência com os conteúdos trabalhados.

Conheço alguns jovens, filhos de amigos e amigas, que fingem que fazem enfermagem e que nunca vi concentrados lendo um livro da área, dominando a linguagem acadêmica exigida para a interpretação e diagnóstico de casos clássicos de enfermidades. Fiz algumas perguntas e tive como resposta a fuga do estudante, se é que assim se pode chamar, para o mensseger e o orkut. O ensino superior, em sua precarização, potencializa a Deficiência Acadêmica Adquirida, cujos principais sintomas são a preguiça para ler, a pobreza na escrita, a baixa capacidade de reflexão sistematizada teoricamente, a vontade do diploma, a matrícula em disciplinas apenas para cumprir carga horária, o desejo pela nota, a rejeição pelo trabalho intelectual em função do esforço e da disciplina intelectual que ele exige, entre outros, indicam o estado de enfermidade em que se encontra o aluno. Em entrevista a um periódico da Faculdade Dom Pedro II, o diretor geral da Faculdade, Professor Luiz Brandão, afirma que 
Para obtermos um resultado realmente satisfatório com o ensino superior, seja aqui no Nordeste ou em outra região do país, é necessário que o Governo redobre a atenção com as escolas de ensino fundamental e médio. Na maioria das vezes os jovens chegam despreparados à educação superior e com sérias dificuldades de aprendizado. Um dos motivos são as dificuldades econômicas que os estudantes enfrentam durante a graduação. Para se ter uma idéia deste contexto, a cada oito alunos que ingressam no ensino superior apenas um irá concluir a graduação. (p. 03)
Nesse quadro acima descrito, nem a educação básica, nem o ensino superior cumprem a sua função social a contento. Os diplomas, outrora tão valorizados, não mais representam domínio seguro do conhecimento a ser acionado na compreensão do mundo e na solução dos problemas apresentados em cada área de atuação do “diplomado”. Evidente que a formação inicial não fornece todos os elementos que a experiência posterior irá trazer, porém, com uma relação teoria/prática precária, com a falta de infraestrutura básica, como laboratórios, bibliotecas, salas equipadas com datashow, vídeo, tv e aparelho de som, com a falta de alunos com uma formação básica de qualidade, além da falta do principal: professores bem preparados, remunerados adequadamente, com condições e vontade de trabalhar, o ensino superior se torna essa farsa, essa falsa formação que serve principalmente para aumentar os números, o quantitativo de jovens formados no ensino superior, para aparecer, seja na propaganda política desta e das próximas eleições, seja para mostrar às instituições internacionais, para inglês, francês, alemão, americano ver, e ocupar o lugar dos portadores de deficiência acadêmica, contraída na sociedade, civil e política, e infeccionada nas universidades baianas e brasileiras.

Autoria: Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

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