segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Outras Margens

Há muitas coisas ocorrendo
enquanto vivo e vou morrendo
e não posso alcançá-las.

O desejo de obtê-las
é a morte prematura do humano.
Sua vontade de consumo
nunca cessa?

Eu remo nesse rio caudaloso
da modernidade sem destino
antecipo a morte
morte que nunca virá.

Se me deixo levar pela corrente
Se ancoro num remanso
contrario o movimento
desconcertante
dessa idéia ocidental.

Ninguém sabe a que ponto
está do rio
todos sabem
que não chegam ao destino
desse mar que espera
escancarado
esse rio que não deságua
essa sede que não mata
esse fio que não morre.

Quem se arrisca a nadar para além?
Quem se arrisca nessas margens
turbulentas da história?
Quem se encontra nessa margens
é quem faz sua própria história.
Narrativa diferente
outro jeito de viver
e de morrer
nada contra o Ocidente.

Subir o rio
para encontrar o começo
desse fluxo permanente.
Ver o gotejo iniciar
outro Ocidente
e perguntar por outros rios
e outras margens
nos instantes das nascentes
na água fresca da fonte
de outras possibilidades.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

sábado, 25 de setembro de 2010

Capitalismo e Saudade

E a saudade? Quase não a tenho mais.
Mas volto por lá, que cada vez mais
existe menos.

Os rastros estão sendo cobertos
por todos os atos em seu conjunto.
A roda viva de Chico Buarque
gira voraz sobre os homens
por eles mesmos os devoram.

Onde havia um canteiro,
onde havia uma árvore
e uns pássaros;
onde havia um terreno baldio
e crianças jogando bolas de todos os tamanhos;
onde havia quintais e folhas secas ao chão;
onde havia magia de vento
e mulheres varrendo o chão;
onde havia crianças e lama
há cada vez menos saudade.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Pidadania no Brasil

Não é um fenômeno novo. Vem desde que o primeiro futuro brasileiro pediu algo a outro futuro brasileiro como um favorzinho ou pouquinho de pimenta para temperar sua comida. Pidão geralmente rima com “inho”. Todo pidão quer um “inho” seu e de alguém. O pidão, é bom esclarecer, é diferente do pedinte. Este último está num estágio mais avançado, pode-se entender degradante, de pidadania. Tais indivíduos, classificados nas tipologias da pidadania, tem características físicas básicas: olhos bem grandes, que a tudo enxergam e que parecem dar uma volta de 360° sobre a cabeça, pois isto serve para captar tudo o que o ambiente do outro oferece e que pode constituir matéria do pedido e; mãos estendidas que também parecem enormes, para recolherem do ambiente tudo um que um transeunte pode oferecer.

O verbo oferecer quase inexiste para o pidão ou a pidona. Tanto ele quanto ela não se oferecem para nada, com a exceção óbvia de se oferecerem para irem à sua casa, o que é temeroso. Lá haverá, com certeza, alguma coisa para pedir, pois os olhos especiais do pidão captam sempre algo nos espaços mais escuros e esquecidos de sua residência. Também não há outras pessoas verbais para o pedinte. Não existe tu, ele, nós, vós e eles para o pidão e a pidona, pois só “eu peço”. O pidão e a pidona são profissionais. Muitos deles não precisam do que pedem, mas pedem porque precisam. É um vício que precisa ser alimentado em todo e qualquer lugar. A estratégia também é boa. Eles e elas não pedem um “ão”, pedem um “inho”, pois assim passam despercebidos e de “inho” em “inho” vão vivendo a sua pidadania livremente. Há também os piores pidões de todos: os pidões de votos. Eles tem um cinismo que ultrapassa todas as classificações conhecidas. São pidões períodicos, aparecem de quatro em quatro ou de dois em dois anos, pedindo que você fique de quatro para eles. Os pidões de votos precisam desenvolver a retórica, pedem um "inho", seu votinho, bem pedido, o que implicam promessas maravilhosas de mundos e vidas melhores para todos. 

Há uma discussão científica muito séria sobre se o pidão e a pidona sofrem maior influência genética ou social. Há alguns experimentos científicos que retira um pidão ou uma pidona de sua família e o leva para morar com um parente distante ou família diferente, numa espécie de intercâmbio, a fim de verificar se tal experimento traz alguma mudança significativa no comportamento do pidão. Caso traga, constata-se que a pidadania é uma questão social, de cultura, de aprendizado e menos genética. Do contrário, se o pidão continuar na prática da pidadania, conclui-se que o problema é genético, criando-se desdobramentos tanto para uma como para outra conclusão. O ser pidão; razões e desrazões também seria uma proposta de discussão filosófica.

Há também uma relação muito estreita entre a pidadania e a cultura da fila no Brasil. A gerência do BOM PREÇO de Brotas, por exemplo, tem o maior prazer em ver a fila grande. Quando o supermercado está vazio reduzem o número de caixas, e a fila, que não deveria existir, se forma pelos corredores do estabelecimento, que mais parecem as passagens do gado em direção aos currais ou matadouros, só pelo gosto de ver a fila, acredito. Inúmeros pidões formam filas, desde o esquema casa grande-senzala até os dias hodiernos. As filas foram sendo formadas por uma longa história de formações de pidões e de doadores supostamente benevolentes. Taí: daria algumas boas pesquisas de monografias, dissertações e teses, com os seguintes títulos: A construção social do "pidão" na historiografia brasileira; O "pidão" no mundo contemporâneo: aspectos sociológicos, econômicos e psicológicos; Economia pidadã no Brasil e sua relação com a pobreza; Crescimento econômico e pidadania no Brasil; A formação da pidadania" no Brasil etc.

Da mesma forma, tenho alguns alunos que se revestem de "coitadinhos", querendo passar na disciplina sem o devido esforço, tornando-se pidões profissionais. Alguns alegam que são pobres - eu digo que também sou -; que precisam trabalhar - eu respondo que também preciso -; que a mãe ou o pai morreu - eu respondo que meus pais morreram também -; que não tiveram uma formação boa na 'base" etc. Esses pedem uma esmola chamada "nota", ou melhor: "média". Mas eu não faço esse tipo de caridade. Respondo-lhes que a universidade não é lugar para coitadinhos, mas para pessoas que desejam dominar competentemente os elementos fundamentais para sua profissionalização. Argumento ainda que se eu for passar os "coitadinhos" pidões e pidonas porque os(as) mesmos(as) são pobrezinhos(as), estarei sendo perverso com os mesmos e as mesmas, pois eles e elas não terão capacidade técnica para o exercício profissional requerido pela sociedade. Quando um aluno tira 6,9 em minha disciplina, ele vai para a prova final. Alguns podem achar que sou cruel, mas pensem: o que tirou 6,8 também vai querer, e o que tirou 6,7 e assim por diante. Essa fila maldita em minha "porta" eu não quero alimentar.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Êles são

Vá, eleitor
Nesse momento
breve espaço de tempo
Você é cidadão.

Você agora tem direitos;
você agora é ouvido,
abraçado e recebido
até no Planalto!
e nos espaços legislativos.

Venha eleitor,
para o papo sedutor
e o cafezinho da padaria
Você tem valor de voto
e voto e meia tem valor.

Os seus problemas acabaram!
Agora é hora de soluções,
fórmulas e formas
de resolver suas questões.

Se banguelo, se afrodescendente
se analfa, se doente.
Se romeiro, se sambista
se artista ou professor.
Se mecânico ou pugilista,
se doméstica ou prostituta,
se favelado ou agricultor
até outubro eles te vêem
e depois disso eles te assustam.
 
Até outubro você é tudo
e, se der sorte,
até novembro.
Mas não espere pelo Natal
pois em dezembro
eles já estão no Carnaval.
 
Joselito de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

domingo, 19 de setembro de 2010

Voltar aos meus 17

Estava ouvindo. Não. Não estava ouvindo. Não consigo ouvir apenas, Mercedes Sosa. Estava sentindo profundamente a voz de Mercedes Sosa, interpretando a poetisa chilena Violeta Parra, penetrar fundo em meu ser. Estava, na verdade, rezando com Mercedes Sosa faz poucos minutos.

Volver a los diecisiete después de vivir un siglo

Es como descifrar signos sin ser sabio competente,

Volver a ser de repente tan frágil como un segundo

Volver a sentir profundo como un niño frente a Dios

Eso es lo que siento yo en este instante fecundo.

Neste instante fecundo fico como um menino diante de Deus, e rezo. Volto a ser de repente tão frágil como um segundo, tentando decifrar a mim mesmo e ao mundo, sem ser sábio o suficiente. Ninguém é, mas alguns acham que são. Violeta Parra, ao fazer a letra dessa poesia, interpretada brilhantemente pela grande diva da América Latina, a saudosa senhora Mercedes Sosa, devia estar num âmago de inspiração. Estava diante do mistério mais profundo do ser humano e tentou registrar esse momento particular que se tornou, senão universal, emblemático de muitas gerações.

É na fragilidade que nos entregamos a Deus numa profunda experiência de fé. Sem igrejas, sem religiões, sem as absurdas formas e fórmulas impostas de religar a terra ao céu, o ser humano a Deus. Sem o deus que cada grupo humano inventou para si e o impôs ao demais, eu encontro Deus em minha fragilidade suprema. E volto a ser um menino sem pecado, sentindo a vida pulsar profundamente em meu âmago, sem explicações científicas, políticas, religiosas. Só a vida impulsiona-me a subir os montes que cercam Macaúbas e, de lá de cima, celebrar o poder da caminhada, a vontade que levou-me até o alto.

E Mercedes continua...

Lo que puede el sentimiento no lo ha podido el saber

Ni el más claro proceder, ni el más ancho pensamiento

Todo lo cambia al momento cual mago condescendiente

Nos aleja dulcemente de rencores y violencias

Solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes.

O que pode o sentimento não é possível ao saber. Nem o mais rigoroso método científico, nem o mais bem elaborado pensamento científico e filosófico. É verdade. O poder do sentimento é indizível. Não é possível alcançar o sentimento com a mais refinada das ciências. Jamais. Tudo muda a todo momento, nos afastando docemente de rancores e violências, pois só o amor com sua “ciência” nos retorna inocentemente ao que perdemos no trajeto de nossa existência. Por isso ela volta aos dezessete depois de viver um século. E por isso também

El amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño


Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

sábado, 18 de setembro de 2010

Ei, Ei, Ei, Você é um Democrata Cristão?

Eymael, um senhor branco, de sorriso elegante, candidato a presidente, declara-se um democrata cristão, repetido no jingle “Ei, Ei Eymael! Um democrata cristão...” Um adjetivo substantivado (democrata), precedido pelo artigo “um”, seguido pelo adjetivo “cristão”. Como estou de recesso em meu trabalho das mil coisas do mundo profissional, tive tempo de maquinar, em minha “oficina do diabo” umas idéias velhas sobre tal peça de propaganda política do candidato acima apontado. Esta peça, no contexto eleitoral, ganha contornos bem precisos, visto ser a busca do voto o objetivo puro e simples desse momento que aponta o caminho do poder e seus desdobramentos, benéficos e maléficos.

Ser democrata, como o DEM supõe na nova denominação do antigo PFL, aparentemente representa uma mudança de rumos, o que é algo desejável. Quando ouço falar que alguma pessoa é uma democrata, imediatamente me vem a idéia de uma pessoa comprometida com os princípios e valores da democracia. Alguém que sabe e acredita que o poder emana do povo e que, em linhas gerais, o eleito é o escolhido através do voto e de outros mecanismos de participação popular para servir a este povo, que acreditou em suas propostas de serviço à população. E servir ao povo não é agradar ao povo, caindo no populismo, mas governar, legislar e julgar com retidão e decência, aplicando e acompanhando um programa de governo que seja benéfico à população, seguido de um processo avaliativo sistemático que vá fornecendo dados importantes de correção dos rumos das políticas públicas implementadas.

Supõe-se que um democrata respeite a diversidade e trabalhe com a mesma, suscitando o respeito ao outro, independente de sua condição social, econômica, cultural, política e de sua opção religiosa, sexual, entre outras, como reza a Constituição Federal. Nesse caso, não cabe adjetivos ao democrata, seja cristão, seja ateu, seja budista, seja à toa. Mas Eymael além de denominar-se “democrata”, anexa o adjetivo “cristão”, demonstrando claramente sua opção religiosa, num dos países, em ano eleitoral, que, teoricamente, tem o maior número de cristãos. Tudo de bom: democrata e cristão ao mesmo tempo. O primeiro termo atende ao apelo político e, o segundo, atende ao apelo eleitoral, afinal, entre votar num cristão e num não-cristão o que seria melhor nesse país, nesse contexto e nesse tempo? Mesmo assim admito, não dá para saber o que prevalece: a lógica eleitoral ou a lógica dos valores e princípios democratas e cristãos? Só Eymael pode responder, mas, de qualquer forma, como Cristo mesmo avisa, todo tempo tem os seus sinais, e todo ser humano deixa rastros de si mesmo, desde a maneira que come até o modo como dorme, é só observar.

Associar aos princípios democráticos os valores cristãos pode render a boa nova que se deseja para o mundo. Cristo inverte a lógica do poder: “Quem quiser ser o maior dentre vós, que seja o menor.” Ao aceitar, na condição de homem-Deus, a humilhação na cruz, morrendo ao lado de ladrões, ensina que a glória do poder, que leva a uma verdadeira ressurreição, é o serviço para que o outro seja mais, liberto, emancipado de tudo o que o aflige e o diminui em sua humanidade. Perfeito. No filme “Nosso Lar”, o governador se curva perante o indivíduo que vai lhe pedir orientação, refletindo essa proposta política, do poder a serviço do outro e não de si mesmo.

Entretanto, do ponto de vista histórico, o ser cristão do indivíduo é atravessado pela cultura política colonialista e escravocrata que o desvia do seu propósito, na mistura de valores cristãos e democratas e desvalores individualistas mesquinhos do homem baiano e brasileiro. Nessa cultura o poder é uma máquina de atropelo, de temores, de favores e de corrupções. A denominação nada diz de quem se auto denomina. Autodenominar-se democrata não significa estar a serviço da democracia. Aliás, Arruda, entre tantos outros supostos democratas, colocam o serviço público para atender aos seus interesses particulares de enriquecimento ilícito. Da mesma forma, autodenominar-se “cristão”, não significa seguir, ou pelo menos tentar, em nome desse mesmo Cristo, uma mudança de rumo em sua vida. Há cristãos e há “sa-cristões”. Estes últimos mudam suas opiniões e posicionamentos por uns tostões, de acordo com as situações. Nesse caso, o cristão pode contradizer o democrata, impedindo ou limitando os não-cristãos de participarem ativamente do processo de decisões, conforme os valores da democracia. Do mesmo modo, o falso democrata pode impedir ou limitar o cristão de basear o seu comportamento político a serviço de todos, principalmente dos que mais precisam, conforme os valores cristãos.

Portanto, ser um democrata cristão no período eleitoral de um país cristão não quer dizer nada sobre o que apontaria tais denominações. Pode até ser que o falso democrata acabe com o cristão ou que o falso cristão acabe com o democrata, ou pior: que ambos se unam para atender aos desejos mesquinhos de poder e riqueza em detrimento daqueles a quem deveriam servir.


Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O Time do PMDB


Também ando bastante preocupado com o time do PMDB. As pesquisas apontam que este partido elegerá o maior número de deputados e senadores. Nem sei se se pode chamar essa turma de “time”. É uma massa de facínoras, guardadas as devidas exceções, atrás das mamatas e maracutaias em troca de votação de projetos e propostas do governo. É impossível que não haja mensalão num contexto desses, onde o PMDB fará o maior número de eleitos. Como afirmou recentemente um, salvo engano, jornalista: o PMDB não é um partido que tem um programa de governo, mas um partido de programa. Esse partido roda a bolsinha para qualquer Collor, qualquer Sarney, qualquer Calheiro e, com perdão da má palavra, qualquer caralho que esteja à frente do Estado e pague bem pelos seus serviços. Alguns articulistas, como Samuel Celestino, afirmam que um dos grandes problemas de Dilma, caso seja eleita, no Governo, será conter a ânsia voraz do PMDB em torno de cargos gordurosos e ministérios lucrativos. Aqui na Bahia o PMDB deixou a sua marca de corrupção na AGERBA e em outra secretaria estadual, que não lembro agora.

Estou divertindo-me com a propaganda eleitoral gratuita. Acho que a gente devia pagar para assistir, haja vista que tem coisas impagáveis. Todos sorrindo, prometendo, entre outras coisas:

1. Levar a luta adiante. Eles e elas precisam eleger-se para continuar lutando.


2. Cobrem todas as áreas: prometem democracia, prometem saúde, educação, segurança, habitação, cidadania (o que é isso?), lazer, assistência social, ética e tudo o mais.


3. Com nossos candidatos teremos paz, felicidade, emoções, dinheiro no bolso, e tudo o mais.


4. Defenderão agricultores, pescadores, pecadores, homossexuais (adoro o gritinho de Léo Kret aaaahhhhh!!!), católicos, evangélicos, religiões afro, negros, doentes mentais, encarcerados, doentes de toda espécie, borracheiros, funcionários públicos, aposentados, universitários pobres, universitários ricos, moradores das periferias, catadores de papel, enfim, ninguém fica sem amparo nesse período maravilhoso da história da Bahia e do Brasil. A minha reclamação é que ninguém ainda nesta campanha defendeu os amarelos empapuçados como eu.


5. O Brasil e a Bahia estão cheios de almas boas querendo transformar esse “vale de lágrimas” em “Nosso Lar”, que dá título a um filme muito bom em cartaz atualmente. Que bom! Que bom! Nem precisamos mais da volta triunfante do Senhor, já que muitos de seus amados filhos, por sinal candidatos a deputados, governadores e senadores, prepararão o caminho do Senhor com toda boa vontade e muito trabalho, por Amor a Ele e, é claro, em segundo lugar, a Bahia e ao Brasil.

Por isso compartilho essa alegria cidadã, que sinceramente não sei o que é, mas sinto-a em meu ser, ao saber de tanta gente que trabalha pela nossa Bahia, com tantas boas intenções, nos sorrindo a esperança em seus dentes alvos e em seus corações limpos, cobrindo todas as áreas e atendendo prontamente a todos os desamparados de nosso estimado Estado.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

OLÁ MALU FONTES

Estava lendo uma reportagem de um crime que aconteceu em Várzea do Poço, região de Jacobina. O sujeito matou sua esposa na frente de uma criança de quatro anos. Matou, na verdade, duas pessoas. Um crime bárbaro, aliás, qual é o crime que não é bárbaro? Nós homens, se é que assim podemos ser denominados, não aceitamos a perda no campo sentimental, revelando o quanto somos mal educados pelo machismo que grassa o nosso pensamento e caracteriza o nosso comportamento. A mulher no Irã é apedrejada quando há a suspeita de traição, mesmo que o “corno” esteja criando chifres no além. Alguns homens brasileiros revoltam-se com tal barbaridade, pois a mesma demonstra o quanto o Irã está no tempo das cavernas. Ora, tais homens não hesitam em assassinar suas esposas e companheiras quando são rejeitados pelas mesmas ou são traídos. “Lavam a honra com sangue!” e saem de cabeças erguidas para um novo e futuro, quem sabe?, crime passional. Usam métodos mais modernos, como o tal do Mizael, que utilizou de sua experiência na polícia e como advogado para assassinar sua ex-companheira, por não aceitar o rompimento da relação amorosa.

Estou numa fase em que reflito minha própria condição humana. Eu sou homem, nem branco, nem negro, mestiço, relativamente educado, que trabalha com a formação humana. Isso exige de mim profundas reflexões sobre minha coerência, que você aponta em seu texto. Até que ponto não sou mais um hipócrita nessa história da relação homem-mulher? Até que ponto não faço minha esposa sofrer em função dessa doença social chamada machismo, que pode muito bem, estar agindo nos umbrais de meu inconsciente? Bem, como educador, cada vez mais, estou introduzindo em minha prática educativa reflexões dessa natureza, a fim de dialogar com meus demônios e tentar exorcizá-los, tanto individual, quanto coletivamente. Convido todos a fazerem o mesmo: dialogar com seus demônios, inclusive e principalmente com aquele denominado "hipocrisia".

Surgiu agora a polêmica sobre a proibição do uso do véu em público nas mulheres na França. Os homens que obrigam tal uso defendem-se utilizando o argumento da tradição, pois, segundo eles, o corpo feminino desperta o desejo sexual do homem. Ora, creio que tal argumento não é válido. Nesse sentido, os homens também teriam que usar véus e burcas, pois eu tenho alguns amigos homossexuais que teriam fortes desejos sexuais ao verem as pernas, os peitos, os pés e os bigodes de um homem.

Parabéns, mais uma vez, pelo seu texto, pois ele ajuda-me, ajuda-nos, a refletirmos nossas desgracenças e combater nossos demônios, que são introduzidos pela sociedade em nosso corpo desde que somos crianças.

 Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

domingo, 12 de setembro de 2010

O TIME DE LULA

Estou bastante preocupado com o "time de Lula". Nosso sistema republicano, composto de três poderes, prevê o importante e salutar papel da oposição no processo democrático. É por isso mesmo que eu, sabendo dos desenlaces do advento desta eleição, vou votar em candidatos que não pertençam ao time de Lula, para que tais candidatos, mesmo vendendo hora e outra suas almas por menos de trinta moedas de ouro, ainda possam desempenhar o papel crítico que cabe à oposição. Fiscalizar, vigiar, comunicar, exigir, acompanhar o trabalho do executivo é função do legislativo que, por esse mesmo motivo, seria crucial como oposição natural a qualquer governo. Mas nossa cultura política colonialista e autoritária, bem clara no argumento de que se a gente eleger "o time de Lula" não haverá oposição para atrapalhar (leia-se fiscalizar, limitar, exigir transparência) os atos do executivo, que assim, governará absoluto. Ora bolas, temos que usar o bom senso e refletir: O Governo Lula, inegavelmente, trouxe alguns avanços do ponto de vista de uma ampliação da classe média, de uma pequena e relativa redução da pobreza, da melhoria da base econômica e, posso estar sendo injusto, só. Desejo aqui neste espaço comentar brevemente alguns pontos:

a) No sistema educacional o Governo Lula não trouxe nenhuma mudança significativa. Quem modificou o sistema educacional brasileiro, de 1996 até 2002 foi o Governo Fernando Henrique Cardoso que, seguindo direcionamentos de órgãos internacionais, modificou pontos cruciais como Currículo, Avaliação, Formação de Professores, Gestão Escolar e Financiamento da Educação, com a criação do FUNDEF. O governo Lula não modificou nem corrigiu possíveis erros nessas políticas públicas, apontadas pela sociedade civil, ampliando o FUNDEF para o FUNDEB conforme estava previsto. A continuidade dada às políticas sociais do governo FHC válida, como as políticas públicas de gênero, raça e orientação sexual, conquistas da sociedade civil organizada;

b) No sistemas de segurança e saúde públicas não percebi avanços significativos em relação ao governo anterior. O descaso continua semelhante;

c) Na economia o Brasil teve uma equipe competente que possibilitou o crescimento econômico, que ainda não é seguro, pois sem educação formal e pública de qualidade ainda vamos continuar com muitos semi-analfabetos constituindo um dos principais gargalos da economia. Um exemplo disso é o Programa de Formação de Professores para a PAFOR -PLATAFORMA FREIRE - que não encontra mão de obra para suprir as necessidades. Está faltando professores formadores que atendam aos requisitos mínimos para formar professores, apesar dos inúmeros cursos de Pedagogia!!!! Outra coisa é que sem reforma administrativa, que Lula dizia ser necessária e fundamental e depois deixou de ser, o pesadíssimo Estado brasileiro continua gastando demais sem oferecer serviços de qualidade para a população. Que se privatize a BR 324, mas que se reduza ou acabe com o IPVA!!!! Além disso, a famosa distribuição de renda não aconteceu. Os mais ricos continuam, proporcionalmente, a pagar menos impostos e os mais pobres, além do bolsa família, estão ainda mais pobres. Quando essa bolsa-bolha estourar as coisas vão ficar muito feias. Cada filho uns trocados, esmolas públicas. E quando esses meninos-cangurus e essas meninas-cangurus saírem da "bolsa"? E quando essas crianças crescerem? Ah, já sei, o governo já nos deu resposta: "É cadeia ou caixão";

d) Na cultura também não percebi nenhum movimento importante que aponte outros rumos promissores. Visitei recentemente a cidade de Morro do Chapéu e percebi o quanto a prefeitura local despreza e negligencia os artistas da terra. São esculturas lindíssimas que ficam escondidas nas pousadas do lugar por não terem apoio e incentivo público estatal para divulgação. Na União, apesar do renascimento do cinema nacional, não percebo nada de significativo.

No mais creio que LULA não possui apenas uma estrela no peito. Deve ter uma na bunda também, porque eu nunca vi um cara dar tanta sorte na vida! O Brasil cresceu independente dele, cresceria com qualquer um(a). O Brasil crescerá ainda mais, mas não por causa da "Mãe do PAC", mas porque o mundo precisa que ele cresça. O país que tem muita água doce, que tem muitas terras, que tem riquezas imensas, e que tem um relativo desenvolvimento tecnológico, crescerá nesse contexto em que a economia européia e a norte americana estão em baixa.

Por essas e outras é que pretendo votar na oposição, ou no que acredite ser a oposição, pois sem ela, todo governo se torna tirano, e todo poder se torna insano.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.