Não é um fenômeno novo. Vem desde que o primeiro futuro brasileiro pediu algo a outro futuro brasileiro como um favorzinho ou pouquinho de pimenta para temperar sua comida. Pidão geralmente rima com “inho”. Todo pidão quer um “inho” seu e de alguém. O pidão, é bom esclarecer, é diferente do pedinte. Este último está num estágio mais avançado, pode-se entender degradante, de pidadania. Tais indivíduos, classificados nas tipologias da pidadania, tem características físicas básicas: olhos bem grandes, que a tudo enxergam e que parecem dar uma volta de 360° sobre a cabeça, pois isto serve para captar tudo o que o ambiente do outro oferece e que pode constituir matéria do pedido e; mãos estendidas que também parecem enormes, para recolherem do ambiente tudo um que um transeunte pode oferecer.
O verbo oferecer quase inexiste para o pidão ou a pidona. Tanto ele quanto ela não se oferecem para nada, com a exceção óbvia de se oferecerem para irem à sua casa, o que é temeroso. Lá haverá, com certeza, alguma coisa para pedir, pois os olhos especiais do pidão captam sempre algo nos espaços mais escuros e esquecidos de sua residência. Também não há outras pessoas verbais para o pedinte. Não existe tu, ele, nós, vós e eles para o pidão e a pidona, pois só “eu peço”. O pidão e a pidona são profissionais. Muitos deles não precisam do que pedem, mas pedem porque precisam. É um vício que precisa ser alimentado em todo e qualquer lugar. A estratégia também é boa. Eles e elas não pedem um “ão”, pedem um “inho”, pois assim passam despercebidos e de “inho” em “inho” vão vivendo a sua pidadania livremente. Há também os piores pidões de todos: os pidões de votos. Eles tem um cinismo que ultrapassa todas as classificações conhecidas. São pidões períodicos, aparecem de quatro em quatro ou de dois em dois anos, pedindo que você fique de quatro para eles. Os pidões de votos precisam desenvolver a retórica, pedem um "inho", seu votinho, bem pedido, o que implicam promessas maravilhosas de mundos e vidas melhores para todos.
Há uma discussão científica muito séria sobre se o pidão e a pidona sofrem maior influência genética ou social. Há alguns experimentos científicos que retira um pidão ou uma pidona de sua família e o leva para morar com um parente distante ou família diferente, numa espécie de intercâmbio, a fim de verificar se tal experimento traz alguma mudança significativa no comportamento do pidão. Caso traga, constata-se que a pidadania é uma questão social, de cultura, de aprendizado e menos genética. Do contrário, se o pidão continuar na prática da pidadania, conclui-se que o problema é genético, criando-se desdobramentos tanto para uma como para outra conclusão. O ser pidão; razões e desrazões também seria uma proposta de discussão filosófica.
Há uma discussão científica muito séria sobre se o pidão e a pidona sofrem maior influência genética ou social. Há alguns experimentos científicos que retira um pidão ou uma pidona de sua família e o leva para morar com um parente distante ou família diferente, numa espécie de intercâmbio, a fim de verificar se tal experimento traz alguma mudança significativa no comportamento do pidão. Caso traga, constata-se que a pidadania é uma questão social, de cultura, de aprendizado e menos genética. Do contrário, se o pidão continuar na prática da pidadania, conclui-se que o problema é genético, criando-se desdobramentos tanto para uma como para outra conclusão. O ser pidão; razões e desrazões também seria uma proposta de discussão filosófica.
Há também uma relação muito estreita entre a pidadania e a cultura da fila no Brasil. A gerência do BOM PREÇO de Brotas, por exemplo, tem o maior prazer em ver a fila grande. Quando o supermercado está vazio reduzem o número de caixas, e a fila, que não deveria existir, se forma pelos corredores do estabelecimento, que mais parecem as passagens do gado em direção aos currais ou matadouros, só pelo gosto de ver a fila, acredito. Inúmeros pidões formam filas, desde o esquema casa grande-senzala até os dias hodiernos. As filas foram sendo formadas por uma longa história de formações de pidões e de doadores supostamente benevolentes. Taí: daria algumas boas pesquisas de monografias, dissertações e teses, com os seguintes títulos: A construção social do "pidão" na historiografia brasileira; O "pidão" no mundo contemporâneo: aspectos sociológicos, econômicos e psicológicos; Economia pidadã no Brasil e sua relação com a pobreza; Crescimento econômico e pidadania no Brasil; A formação da pidadania" no Brasil etc.
Da mesma forma, tenho alguns alunos que se revestem de "coitadinhos", querendo passar na disciplina sem o devido esforço, tornando-se pidões profissionais. Alguns alegam que são pobres - eu digo que também sou -; que precisam trabalhar - eu respondo que também preciso -; que a mãe ou o pai morreu - eu respondo que meus pais morreram também -; que não tiveram uma formação boa na 'base" etc. Esses pedem uma esmola chamada "nota", ou melhor: "média". Mas eu não faço esse tipo de caridade. Respondo-lhes que a universidade não é lugar para coitadinhos, mas para pessoas que desejam dominar competentemente os elementos fundamentais para sua profissionalização. Argumento ainda que se eu for passar os "coitadinhos" pidões e pidonas porque os(as) mesmos(as) são pobrezinhos(as), estarei sendo perverso com os mesmos e as mesmas, pois eles e elas não terão capacidade técnica para o exercício profissional requerido pela sociedade. Quando um aluno tira 6,9 em minha disciplina, ele vai para a prova final. Alguns podem achar que sou cruel, mas pensem: o que tirou 6,8 também vai querer, e o que tirou 6,7 e assim por diante. Essa fila maldita em minha "porta" eu não quero alimentar.
Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel
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