terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Greve dos policiais na Bahia

O governador Wagner deu uma entrevista mostrando que a passagem da GAT III para a GAT IV e V, uma das reivindicações dos policiais e bombeiros da Bahia, vai acrescer a folha de pagamento em 170 milhões de reais. É sempre assim: os governos ressaltam o impacto do aumento na folha, mas não ressaltam que esse impacto na folha de pagamento tem de positivo. Os policiais são trabalhadores que produzem sua existência colocando dia a dia suas próprias vidas em risco, enfrentando uma justiça lenta e ineficiente para punir, mas rápida e eficiente para soltar o bandido no dia seguinte à sua prisão e expondo os policiais a novos enfrentamentos com os mesmos bandidos presos no dia anterior. São os três poderes do estado trabalhando contra si mesmos e, principalmente, contra os cidadãos. 

A inflação está aí para quem faz mercado toda semana ou mês. O que devemos ressaltar, como funcionários públicos em geral e como policiais em particular, é isto: o impacto negativo da inflação na manutenção da sobrevivência daqueles e daquelas que são responsáveis por preservar a ordem pública e fornecer aos cidadãos acesso aos serviços educacionais, de segurança e de saúde, entre outros, no estado da Bahia, mas que vê seu parco poder aquisitivo ficar ainda mais parco a cada ano, a cada governo. Contudo, repudio toda e qualquer ação dentro do movimento que venha a amedrontar a população e subverter a precaríssima ordem que se equilibra na corda bamba da desordem que o capital impõe a fim de satisfazer seus interesses de acumulação. Repudio policiais com armas em punho, atirando para o alto, fechando avenidas, impondo terror e medo às pessoas que deveriam ser protegidas. Esses policiais devem ser punidos por essas ações.

Entretanto, apesar de um pequeno número de radicais fora de hora, os policiais são, antes de tudo, seres humanos que precisam produzir dia a dia sua existência e que, como funcionários públicos, precisam ter direito à representação sindical e à luta e mobilização para evitar o impacto negativo da inflação em sua sobrevivência, em seu direito de ir ao mercado e comprar os alimentos, o vestuário, pagar a escola de seus filhos e das suas filhas (pois a escola pública não é de confiança), o transporte, o lazer, incluindo o teatro, a música, o artesanato, o jogo de futebol, entre outros, afinal, assim como os "Titãs", os policiais não querem só comida e bebida, querem também diversão e arte. O que os (as) policiais estão mostrando é que são mais importantes que Carnaval, Copa do Mundo e propagandas enganosas; que construções megalômanas - num estado cuja capital já tem dois estádios - para atender aos anseios da FIFA, cada vez mais rica; os policiais estão mostrando que são mais importantes que "companheiros" partidários, que recebem suas regalias à sombra regada com água de côco em vários ógãos e secretarias de governo. Mais ainda: os policiais já perceberam sua importância contra a engrenagem capitalista contemporânea, que busca acumular cada vez mais em detrimento das condições de vida dos trabalhadores.

Governador, a Bahia tem de ser, de fato, de todos nós, mas a cada ano essa semântica de sua propaganda oficial, cujos gastos devem ser, seguramente, mais de 170 milhões de reais, está sofrendo um deslocamento simbólico muito importante. Os "nós", não somos nós, os funcionários públicos e o povo da Bahia, sujeitos da história. Os “nós”, nesse caso, são as políticas governamentais contrárias aos anseios de um povo e da maioria dos funcionários públicos que o elegeram. Faça uma faxina em suas secretarias de estado e retire os "companheiros" indolentes que estão mamando nas tetas do estado e que nada produzem de significante. Retire os indicados que fingem que trabalham, na verdade, verdadeiros "contraindicados" ao serviço público por deputados, senadores, vereadores e "companheiros bons de voto". Proponha aos poderes Legislativo e ao Judiciário que reduzam seus gastos com supersalários e regalias inconcebíveis com gasolina, vestuário e penduricalhos vergonhosos que ampliam enormemente os seus salários. Tenha coragem Governador!!! Mas não queira descontar os gastos excessivos de seu governo nos ganhos parcos dos funcionários públicos. O impacto maior será em seu governo neoliberal, descompromissado com a saúde, a educação, a segurança e os demais direitos básicos da cidadania baiana.

Joselito Manoel de Jesus, professor universitário do Estado da Bahia

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