quinta-feira, 28 de julho de 2011

DISCURSO DO MÉTODO

Metodologia é o estudo do método. Isto parte de pressupostos: Um deles é de que não há atividade educativa bem sucedida que não tenha desenvolvido um caminho para chegar a algum lugar. A prática educativa não pode ficar à deriva, sem ter clareza de onde, nem de como chegar a um lugar proposto. Em nosso caso, o lugar é apontado pelos objetivos traçados. Cabe então indagar: aprender o quê? Uma das respostas possíveis para essa pergunta seria, aprender a conhecer a importância da Psicologia da Educação e da Aprendizagem para obter aprofundamento teórico e para a orientação didática da prática educativa que conduza a maiores possibilidades de êxito em relação ao que ensinamos, ou seja, ao que queremos que o educando aprenda e apreenda. Por isso mesmo é preciso escolher métodos adequados, acompanhar suas implementações e avaliar suas eficácias para os educandos, modificando-os ou mesmo substituindo-os por outros, em função das características cognitivas e dos estilos de aprendizagem  de cada educando ou grupo, bem como deve-se considerar as interações que são estabelecidas no acontecer do processo educativo, desencadeado pela disciplina.

O Curso em EaD, que tem suas disciplinas desenvolvidas no AVA (Ambiente Virtual de aprendizagem), exige uma metodologia compatível com as múltiplas interações que as interfaces do ambiente e suas múltiplas possibilidades insinuam e exigem. Precisamos, portanto, de uma metodologia que propicie interações de alta qualidade, recolhendo os saberes prévios dos educandos, levantando dúvidas, associando-os aos saberes a serem dominados no curso da disciplina Psicologia da Educação e da Aprendizagem e provocando o educando em sua subjetividade a buscar estabelecer os domínios do conhecimento dos objetos de estudos apresentados Metodologia é o estudo do método.

As interfaces disponibilizadas no AVA: o wiki, os fóruns de discussão, os chat’s, os livros, os relatórios e link’s diversos, pouco servirão se não houver, basicamente, duas coisas: a vontade do educando de aprender e a vontade do educador de fazer aprender (ensinar). Não se pode descartar também o papel da metodologia no fazer aprender, pois se se descuida de como o educando vai trilhar o caminho, este pode ficar deserto e o lobo mau pode estar por perto. 

Uma abordagem interacionista é a mais propícia, visto que o conhecimento tem de ser percebido e acionado como um processo construtivo permanente, erigido através de indagações, dúvidas, incertezas e desconfortos cognitivos que potencializem o afeto e o sentimento do educando para desafiar o dado e reconstruir sobre ele de forma soberana, incorporando o conhecimento através de um processo de internalização criativa e crítica, a partir das interações que a força do seu investimento afetivo e cognitivo propiciará. Conceitos como interação e mediação serão fundamentais nessa escolha metodológica, necessitando um preparo inicial da tutoria a fim de afinar o discurso e unir as forças didáticas e pedagógicas em função dos objetivos estabelecidos, evitando, como diria Boaventura de Sousa Santos (2001), o desperdício da experiência.

Portanto, todas as atividades na disciplina a ser ministrada na modalidade à distância, devem se pautar no cuidado trato com as concepções iniciais dos educandos, ou, pelo menos, de algum grupo de educandos, favorecendo passagens, e não rupturas, entre o “já sabido” e o “a saber”, como ensinou o Mestre Paulo Freire. Essa escolha tem implicações importantíssimas para o ensino e a aprendizagem. Uma dessas exige que o material didático, em especial do módulo, deve ser apenas mais um meio, como a própria Coordenação de Material didático afirma em sua apresentação, e não um fim em si mesmo, como recurso privilegiado a ser adotado. Agindo assim, toda a metodologia proposta cai por terra, porque escraviza educador e educando a um modelo ultrapassado de promover o conhecimento, baseado na transmissão, assimilação, repetição do conhecimento tido como pronto e definitivo.

domingo, 24 de julho de 2011

Lula Ula, uuuuuuuhhh Lá Lá

Lula, ula
que infeliz a sua guzura
ula lá lá.
E lá chegou e quis ficar.

Lula, você comprou o seu Governo
e fez apelo popular.
Cê fez o pelo, barba e bigode
e fez um bode
lá do Congresso Nacional.

E o bigode você deixou na presidência
do senado, bigode atrasado,
dos idos tempos dos coronéis.

Lula, você tornou-se o criador dessa loucura!
Comprou o Congresso pela quantia
de sua guzura
vendeu ingresso para sua próxima eleição
e elegeu sua bem intencionada criatura
pra continuar a sua herança de dita mole
que é ditadura.

Lula, você faz ula,
que infeliz sua guzura! 
Olha lá!
Esse Brasil da sua promessa
não vi chegar.
O que estou vendo é um país
onde os impostos são pra cobrir desvios
de rumos,
de verbas,
de metas,
da ética.

Lula, você governa
com quem se compra
e com quem se vende.
Quanto te custa
às nossas custas
os indecentes?
sua guzura é indiferente?

Lula: até o povo você comprou
juntando as bolsas do anterior
e aprisionando pela boca
o voto fácil dos cangurus e gabirus
desse país.

Lula, nossas estradas
agora são privatizadas.
As ferrovias são ferro-velho
e a Leste-Oeste é uma obra
arruinada pelo PR em sua guzura.

Lula, ula
ula lá!
que infeliz a sua guzurá!

Você quer  trem bala
que realize o seu desejo reprimido
de infância.
Quer ferrorama com os bilhões
de nosso drama de impostos
impostos todos os anos
causando maiores danos
ao patrimônio dessa nação.

Porque nos falta:
um colete à prova de balas;
uma justiça à prova de impunidade;
uma educação à prova de incompetência;
um sistema político à prova de corrupção;
falta decência, falta clareza,
falta o plano de uma nação.

Nosso pais é um contágio
são uns contatos lá em Brasília
e uns contratos nos ministérios
é um Estado cheio de mistérios
um ralo onde o real desaparece
sem deixar pistas
nem ferrovias
(Quem souber morre!)

Lula, ula,
ula lá!
Lula, ula
olha lá
a sua guzura
só faz
a nação distanciar.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

sábado, 23 de julho de 2011

Desintegração

O nosso mundo foi invadido!!! Foi invadido pelo Brasil. Os invasores foram avistados em Brasília e em todas as Assembleias Legislativas, Câmaras de Vereadores, órgãos públicos, prefeituras e até nas governadorias!!! A situação é caótica, porque, diferentemente do que esperávamos, a invasão foi acontecendo discretamente, até que nos deparamos com a trágica presença deles no comando do Governo. Eles adotaram a estratégia de dominar a humanidade brasileira estabelecendo uma carga muito pesada de impostos, um serviço público muito ruim e um sistema cultural de corrupção que impede que a população desfrute, pelo menos nas bordas, do “progresso” capitalista. O metrô de Salvador e tantas obras públicas por esse país afora e, agora, a Ferrovia Leste-Oeste. Temo que os últimos governadores da Bahia e os prefeitos de Salvador também, sendo este último o pior de todos, sejam alienígenas. O Governo Lula e a própria Dilma, creio que também o são e, se não, foram abduzidos e estão sendo ameaçados de desintegração instantânea.

De fato, no mundo da política, a linguagem é essa mesma. O PT, chegando ao poder central, é cultivado pelo temor de perder acesso ao mesmo. Teme sua desintegração e, por isso, faz uso de tudo quanto é coisa para manter-se na posição dos privilégios. Para isso, cultiva um discurso nas adjacências do Brasil de que tem um projeto político diferente dos demais e, ao mesmo tempo, é pressionado pelos demais para manter seus olhos fechados para a corrupção que campeia nos ministérios e nos mistérios Brasil adentro, sob pena de desintegração política. O recente caso do PR, não confundir com Paraná, os paranaenses não merecem isso, é um indicador do inferno que arde Brasília adentro. Falo de uma Brasília específica, pois, da mesma forma, os humanos que lá residem, denominados de “candangos”, também não merecem isso. O PR não é um partido político, é uma quadrilha, cujos membros deveriam estar no velho e bom xilindró, ou, quem sabe, num “Angar 51” qualquer.

Já assisti a filmes de ficção que mostravam, entre outras coisas, a presença dos extraterrestres no poder político. Inclusive o filme “A Profecia” aponta que o anticristo também como o próximo ocupante de importante cargo político para, daí, por fim à toda promessa do Reino de Deus. Desconfio que a ficção sempre antecipa certas eventos importantes para a humanidade, como queda de meteoro, maremotos e destruições e reconstruções de diversas ordens. Creio que o Brasil é fruto de uma dominação perversa de seres muito mal intencionados, porque não dizer malignos? Que destroem o mundo paulatinamente, a começar pela nação. Esta última está sendo achincalhada por um grupo numeroso de extraterrenos, eleitos democraticamente por um grupo ainda mais numeroso de abduzidos humanos que, de quatro, em quatro, anos, são obrigados a exercer o seu direito sagrado de votar, mas não de revoltar.

Ao que parece, a população foi atingida por alguma bomba de gás que a deixa alienadamente em estupor, sem poder emitir sinal algum de rebeldia, de descontentamento com a roubalheira que campeia nas obras públicas. Ou, pode ser que todos nós sejamos alienígenas. Pode ser que a corrupção não seja um desvio, mas o normal e eu esteja aqui tentando não ser o que sou: um brasileiro ladrão, corrupto, cínico, que não se contenta em aceitar a corrupção, mas contribui, sempre que possível para que ela seja cada vez mais institucionalizada. Talvez a barbárie seja o nosso destino inexorável, e quem está adiando nosso verdadeiro destino histórico: a locupletacão final de nossa concepção cultural do que devemos fazer com o nosso patrimônio público. Assim sendo, o darwinismo social do nosso país é ditado pela esperteza do mais ligeiro, pelo cinismo do mais ladrão, pelo puxa-saquismo do menos poderoso. Assim sendo, esse país precisa assumir sua condição cultural dada por uma estranha combinação antropológica a fim de alcançar sua verdadeira identidade e abrir todas as cadeias, destruir todos os presídios, posto que os maiores representantes dos ocupantes desses lugares, estão fora dele. Mas, nesse caso, quem está sendo desintegrado é a grande massa de gente, denominada de povo brasileiro.

Joselito da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

Deformação Cristã

Eu tentei andar direito, conforme minhas crenças e, por aí, vigiei e orei para não cair em tentação. Vigiei mais os outros que a mim mesmo, com olhos atentos, perseguindo cada passo e medindo cada gesto do incauto, do infiel, e apontando o meu dedo de magistral imperador.

Fui à missa e escutei todos os padres e me curvei aos seus sagrados poderes da fala institucionalizada, que me deixavam politicamente e culturalmente abaixo deles, embora sempre houvesse exceções mais que honrosas. Mas um dia eu comecei a perceber que o maior pecado era o meu. Um pecado antigo, colonial, que traz a mania de só medir cada ação e comportamento pelo meu umbigo sacramental, de só querer o meu pedaço celestial e ainda atazanar os outros com minhas obsessões. Agora eu entendo como nascemos muitas vezes, de nós mesmos e dos outros. Dificilmente nascemos da rebeldia. Nascemos quase sempre pela procura do mais fácil e do mais confortável. Depois do frio que experimentamos ao sair do ventre, choramos atrás do conforto perdido, atrás do materno aconchego. Nascemos do medo e nos adequamos ao discurso hegemônico para não sofrermos as consequências dos ex-amigos e das autoridades “competentes” em cuidar da grande ordem social.

Eu acordei de um pesadelo cristão. De uma promessa vã de felicidade conforme uma ordem bem montada de poder, que se diz atemporal, mas destila bem no tempo a sua poderosa influência, muito pouco cristã. Acordei. Deus agora é Deus mesmo. Deus nú, despido de igrejas, de papas, de pastores e de padres. Deus que se completa na relação conosco. Deus dos outros, mais que de mim ou de qualquer grupinho de poder. Deus de todos os seres, mais que de nós, os humanos. Abandonei, assim, o pecado alheio para poder ser perdoado desse pecado. Saí da janela, saí da candinha e olhei para meu ambiente interno. Meus olhos se abriram para um “admirável mundo novo”, mundo-povo, povoado de plurais que desde muito habitam este pedaço de país.

Eu deixei de olhar o outro com o ódio de quem estava no caminho da verdade e da vida. Eu olhei e percebi o quanto estava deprimente. E o quanto estava ausente deste mundo. Estava constituído de ideias arcaicas e, assim, dirigia meus propósitos e orientava minhas ações. Meu caminho certo estava errado. Eu fui enredado nesse chão desde o dia em que nasci e como um burro me alimentei desse capim. Eu pensei ser um burro por causa do capim que sempre me deram como bom alimento. E fui comendo a gororoba social e cultural que me fizeram uma gogoroba de ser humano. Indigesto, e ainda com a pretensão de saboroso.

Eu acordei. E, sonolento, fui sedento atrás de Deus, atrás do tempo perdido na catequese que me fizeram um credor de concepções tidas como únicas e verdadeiras. Eu acordei!!! E agora vejo o que a formação humana pode ser: Formação de tolos.

Joselito da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, do Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

terça-feira, 19 de julho de 2011

Diálogo da profundidade do complexo de si mesmo

- Por que você não está querendo falar comigo?

- Porque comigo a fala contigo é uma forma de perdão.

- Não entendi...

- Ah, sim. Não entendeu?

- Não. 

- É que caso eu fale contigo estarei te cedendo o perdão. Mas eu te odeio! E esse ódio é que nutre o meu prazer. Eu não quero te perdoar para, quem sabe assim, fazer você sofrer ou, pelo menos, conservar o seu deslize destilando em meu silêncio, só pra gozar dessa proibição da fala que o meu ódio por você sustenta. 
Minha fala só é autorizada para o seu pecado, não para o meu perdão. Eu deixo minha atitude ficar pública, para que outros percebam quem você foi comigo. Esse desfile da minha revolta em relação a ti rende o prazer do espetáculo.Você tem de ser mantida muito próxima a mim, para que eu possa ir deliciosamente te odiando durante toda a minha vida, até mesmo depois de sua feliz e deprimente morte.
Eu te odeio!!! Eu tenho prazer em te odiar!!! Eu amo te odiar!!! Eu te amo!!!

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

SOBRE A SANTIDADE

O que é ser santo (a)? Quando criança ouvia minha mãe referir-se muito a eles e elas. Os católicos e os que não podiam ser classificados desta forma, como Santa Bárbara, cuja imagem ficava pregada na parede de taipa. Não lembro mais que cômodo. Acho que era na sala. Os santos faziam milagres, foi assim que aprendi. E a cor da pele de quase todos os santos eram, invariavelmente, brancas, com fisionomia serena, pois estavam bem distantes dos problemas que a pobreza extrema, e seus desdobramentos, trazia. Na casa de minha avó materna havia uma Santa Maria negra e um santo, creio que São Benedito. Só. Santo para mim era uma pessoa cheia de virtude e que não flertava com o pecado. Mas eu nunca quis ser santo. Não queria ser nada disso que fica distante do mundo, com aquela expressão serenamente alienígena, que pertencia a um mundo muito diferente do meu. Acho que pensava assim. Aprendi que devemos apelar para os santos nos momentos difíceis da vida. Minha poderosa mãe contara uma história e, em meio às suas palavras, havia um sentimento muito forte de fé. O caminhoneiro, vendo a morte em forma de acidente de trânsito, gritou na hora crucial: - Valei-me Nossa Senhora! E o milagre ocorreu. Aquela história marcou minha memória “para sempre, e ainda depois”.

O mundo é um lugar muito perigoso. A morte anda perscrutando nosso caminhar e os santos servem de escudo protetor contra o mal que nos espreita a toda vez que saímos de casa. – Deus te acompanhe! Minha mãe dizia sempre que meu pai saia ligeiro e decidido para o trabalho. Eu achava meu pai muito forte. Pois ele saia com suas botas sob uma chuva torrencial, enfrentando o frio e o aguaceiro em busca do nosso bem-estar. Meu pai não era um santo, era um guerreiro. Travava lutas consigo mesmo para ver quem vencia: o seu eu ou o seu outro. E minha mãe era a santa. Ela ficava conosco e o seu colo e o seu braço trazia calor e aconchego. Inventava refeições e café quente com farinha e margarina. E nos aquecia completamente, por fora e por dentro da pele. Ela não tinha defeitos para nós. Só virtudes. Quando morresse, certamente iria pro céu, nos esperar com o mesmo amor imenso que concretizava a cada dia. E eu pergunto: o que é ser santo (a)?

Há dois processos em andamento atualmente a que tenho acesso sobre a questão do caminho para a santificação de João Paulo II e de Irmã Dulce. Apareceram sinais concretos de suas forças milagrosas. Mesmo respeitando tudo isso, ando meio desconfiado. Fico pensando em como os investigadores eclesiásticos conseguem determinar a origem do milagre, com tantos santos e santas que já existem. Quem foi o “pai da criança”? Foi aquele (a) cujo nome foi pronunciado na hora que a morte se avizinhou como inexorável. Hum. Fico pensando numa conversa celestial entre os santos: - Ei, aquele milagre foi meu. Você mal chega aqui e já quer ser beatificado? – Não, não. Eu fui papa, um bom papa, e, por isso, tenho certos privilégios com o Senhor. Foi através de minha mediação que o milagre foi concedido. Nisso, outro santo que estava assuntando a conversa, reage com veemência: – Qué qué isso!!! Ora bolas, esse milagre é o de número “y”, devidamente registrado no livro dos milagres com a minha autoria. Minha santidade não vem de hoje, não. Tenho experiência no ofício desde o século II e foi através de meu trabalho que os apóstolos conseguiram êxito em sua empreitada. E, nisso, a discussão lá de cima em nada interfere na condução cá de baixo. Disseram que o milagre já tem dono e acabou. Deus, o verdadeiro milagreiro, fica até esquecido nesse processo. Queremos uma santa baiana e acabou! Na Bahia de todos os santos e as santas precisamos de uma que carregue o nosso DNA, pra gente ficar orgulhoso frente aos santos internacionais que já não fazem milagres como antigamente.

Mas eu desconfio que Irmã Dulce não precisa da poderosa Igreja pra ser santa. Já era santa mesmo. Sua mensagem, como diria outro santo: Gandhi, foi a sua vida. A santidade não vem da magia inexplicável do milagre, vem do exemplo, do modo de viver, de ser-estar no mundo. A obra de Irmã Dulce já é um milagre e sua santificação vem de Deus, o Deus de todos nós e não apenas o Deus dos católicos. Eu não vou comprar imagem alguma da Santa Dulce, porque sua memória já é a lembrança mais importante que nos salva das desgracenças que nos perscrutam dia a dia. Cada santo tem seu fã-clube, seu campo de poder que aparece em forma de “milagre” e não de exemplo de vida.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Veja, aponte, comprometa-se e decida!


Bakhtin afirma que todo signo é ideológico. E tem razão. Não há como apontar um dedo sem estar interessado no destino do objeto. Há o inevitável posicionamento diante do que chamamos a atenção. Alguém mostra com o dedo, com o olhar, com a palavra. Há uma intencionalidade no mostrar, não adianta inventar neutralidade quando se mostra algo. O nosso Cristo da Barra aponta em direção ao Farol, mas eu ainda não consegui captar seu interesse. Só perguntando a quem o criou. A gente mostra algo que nos interessa e o olhar é dirigido intencionalmente para um ou mais ações sobre aquilo que foi mostrado. Uma paisagem bela, caso vista por um olhar ambientalista, certamente continuará a ser bela. Caso seja vista por um olhar de um turista também. Entretanto, caso tal paisagem seja captada por um olhar capitalista de caráter industrial certamente tal paisagem irá ser degradada pelo dinheiro guloso que busca mais dinheiro para saciar sua fome insaciável. Ao captar algo, o dedo aponta para o que deverá existir e, num contexto capitalista, para o que deixará de existir; para o que existe e assim seguirá e para o que não existe,e, para existir, usurpará a existência do que está posto sossegadamente pela força viva da natureza e de todo o cosmos. Boaventura de Sousa Santos afirma que

(...) a industrialização não é necessariamente o motor do progresso nem a parteira do desenvolvimento. Por um lado, ela assenta numa concepção retrógrada da natureza, incapaz de ver a relação entre a degradação desta e a degradação da sociedade que ela sustenta. (...) A falência da miragem do desenvolvimento é cada vez mais evidente, e, em vez de buscarem novos modelos de desenvolvimento, talvez seja tempo de começar a criar alternativas ao desenvolvimento. (SANTOS, 2001, p.28)

Tudo que é visto é visto sob uma ótica e tem desdobramentos sérios para a vida humana. Há uma pedagogia intrinsecamente política no mostrar algo para outrem. Quando algo é mostrado, logo, é interpretado. Ao mostrar definimos os contornos, estabelecemos os limites, definimos o objeto em sua inteireza e, assim, configuramos politicamente o ser dado pelo olhar ideológico que o define. Ensinamos a ver como vemos, inevitavelmente. Por isso, o diálogo é fundante no processo de humanização. O meu olhar não pode determinar o objeto para o outro numa relação onde o diálogo se dá de A contra B, de A sobre B, de A para B. O diálogo, como mostrava/ensinava Paulo Freire, deve ser de A com B mediatizado pelo mundo, democraticamente dialético, para que o objeto seja constituído permanentemente num processo dialógico, numa dialogia incessante. O olhar se amplia para além do si mesmo e potencializa a percepção coletiva do processo de produção do mundo.

Alguém vê e é mobilizado pelo seu ver. Quando a gente mostra a gente mobiliza ou mesmo imobiliza outrem. Lá está a prostituição infantil; ali está a violência contra a mulher; adiante está a pedofilia; acolá você pode ver a corrupção dos deputados, vereadores, senadores, ministros, sem punição. Um ser humano aponta, com a palavra, com o dedo, com o olhar, para um lugar considerado importante. Outro ser humano olha e vê o que ainda não existia para ele (a). E o que não existia mobiliza o seu ser histórico, político, social, étnico, racial, plural. E ele (a) pode fugir disso. Pode fingir que não viu ou que não existe o que supostamente viu, tratando como uma alucinação coletiva. Pode resignar-se diante do que viu, argumentando sobre a inexorabilidade da história e da inevitabilidade de suas vítimas. Pode assumir atitude de cinismo ou, ao contrário, pode engajar-se em movimentos sociais, de forças que se juntam contra a injustiça, o desamor, a impiedade e mudar aquilo que provoca a indignação dos que não aceitam uma realidade determinada pelo darwinismo social. 

Mobilizado pela sua visão e contextualizado pelo seu tempo, alguém responde de qualquer jeito, amparado na identidade que o convoca a assumir uma posição sobre a realidade percebida de determinado jeito. O posicionamento ideológico está interpenetrado pela identidade que se assume em determinado tempo, determinado lugar, determinado contexto. E daí a ação política é requerida para o enfrentamento das condições que causam a indignação. Isso significa que toda percepção é sempre social. Há, evidentemente, uma percepção individual. Mas essa percepção é também social e cultural, pois o indivíduo é construído social e culturalmente. Não podemos, entretanto, negligenciar a força insuspeita que reside em cada sujeito e que, no exercício de sua liderança poética, política, étnica, racial, religiosa, entre outras desencadeia reações muitas vezes inesperadas da coletividade que se identifica com o clamor que o sujeito exerce em nome de valores e direitos ameaçados por forças contrárias à vida decente e bela a que todos têm direito.

Ao ver algo, nos comprometemos inevitavelmente sobre os destinos do mundo que compartilhamos com os outros. Melhor, sobre os sentidos do mundo que compartilhamos com os outros. Pois a destinação de algo é dada pelo sentido que impregnou seu acontecimento. Isso exige nossos posicionamentos ideológicos e nossa consequente ação política, seja para legitimar o status quo econômico, étnico, racial, cultural, social, seja para assumir atitudes firmes de defesa da dignidade humana, do equilíbrio ecológico, da justiça e da democracia vivida em cada lugar onde os humanos constroem a realidade social. Ao apontar o dedo para algo, nos comprometemos ideologicamente com este algo e somos instados a decidir politicamente o caminho de construção da realidade e de nós mesmos nela. 

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel
Com o auxílio de
SANTOS, Boaventura de S. A crítica da razão indolente: Contra o desperdício da experiência. Para um novo senso comum. A ciência, o direito e a política na transição paradigmática. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

GREVE-EMANCIPAÇÃO

Pablo Neruda tem um livro intitulado “Para Nascer, Nasci”; este título reflete a ideia principal defendida nesta reflexão: a intervenção educativa nesta greve pode levar o ser humano a nascer outras vezes dele mesmo em interação com os outros, pode levar a “se parir” e a ajudar no “parto” dos outros, parto que, sendo singular, é histórico-social. A geração e a gestação têm como semente, a palavra, o discurso, a ação, que, através do diálogo, engendra, nos velhos humanos, novos humanos para um novo mundo em gestação no ventre do mundo velho. É uma gestação conflituosa, e, por vezes, contraditória, o que exige bom acompanhamento pré-natal. É preciso refletir a direção que a gente toma, para que não haja complicações nos momentos da concepção; é preciso escolher com cuidado a(s) metodologia(s) a ser(em) adotada(s) e os princípios que irão orientar todo o processo, para que bactérias oportunistas de autoritarismo velado no organismo fecundante não causem infecção generalizada, levando a óbito a universidade que desejamos que renasça nesse processo político instaurado agora em greve.

Nesse sentido, a depender da direção adotada, a intervenção educativa pode contribuir para a “natalidade”, ou para a “mortalidade”, de homens e mulheres que, no horizonte da emancipação, podem nascer deles mesmos ou morrerem neles mesmos. É preciso que a vida seja o sentido de toda a greve, não a morte.

[...] o novo começo inerente a cada nascimento pode fazer-se sentir no mundo somente porque o recém-chegado possui a capacidade de iniciar algo novo, isto é, de agir. Nesse sentido de iniciativa, todas as atividades humanas possuem um elemento de ação e, portanto, de natalidade. Além disso, como a ação é a atividade política por excelência, a natalidade, e não a mortalidade, pode constituir a categoria central do pensamento político, em contraposição ao pensamento metafísico. (ARENDT, 2004, p. 17) 

Todo espaço é pedagógico quando há duas ou mais pessoas ensinando e, ao mesmo tempo, aprendendo. A greve é um espaço pedagógico e pode ser vista como uma “maternidade”, um “berçário” de novos humanos a partir de interações desencadeadas sistemática e intencionalmente, ou o seu contrário: um lugar de mortalidade, do desperdício do ser humano no espaço e no lugar da vida que continua na cultura. O grande desafio que se apresenta é o seguinte: Como iniciar algo novo no velho a partir e após esta greve? Ou como afirma Boaventura de Sousa Santos: “Como fazer falar o silêncio sem que ele fale, necessariamente a linguagem hegemônica que o pretende fazer falar?” (SANTOS, 2001, p. 30). Bem, em se tratando de humanos, não há fórmulas racionalizantes que, ao invés de emancipar e fazer nascer, regulam, controlam e fazem morrer. De qualquer forma, tenho convicção de que há movimentos interativos que favorecem – a partir da criação de campos de interlocução, baseados em princípios éticos e democráticos – a manifestação súbita da novidade que, devido à condição da pluralidade, pode surgir de qualquer sujeito, em qualquer lugar, a qualquer momento, e pode contagiar o coletivo dos homens e mulheres. Creio ser este o caso desta greve. Greve contágio, que te pega no campo da indignação e te educa para a emancipação construída coletivamente.

Do desafio acima apresentado, nasce outro, a ele intrinsecamente ligado: que tipo de conhecimento pode ser acionado na Pedagogia e na prática educativa para que o novo humano surja do velho? Segundo Boaventura de Sousa Santos (2001), todo ato de conhecimento é uma trajetória de um ponto A, que designamos por ignorância, para um ponto B, que designamos por conhecimento. A partir das categorias emancipação/regulação ele compreende o conhecimento, conforme abaixo ilustrado,  que eu fiz uma pequena modificação:

GREVE EMANCIPAÇÃO 
                  A (Outro como objeto)                                  B (Outro como sujeito)
         Ponto de ignorância                                           ponto de saber
             COLONIALISMO                                                      SOLIDARIEDADE
                                                          

GREVE REGULAÇÃO
(CAOS)                                                                               B (ORDEM)
Ponto de ignorância                                                            ponto de saber

Santos (2001) afirma que “(...) Estamos tão habituados a conceber o conhecimento como um princípio de ordem sobre as coisas e sobre os outros que é difícil imaginar uma forma de conhecimento que funcione como princípio de solidariedade.” (p. 30). Somente este conhecimento-emancipação pode fazer nascer o outro como sujeito nascendo de uma “gestação” político-pedagógica, de si mesmo e dos outros, que se engravidam na troca sincera das palavras, o diálogo, a dialogicidade. O ser humano nasce do gozo partilhado sinceramente na palavra respeitosa e na ação solidária. Abrir mão de uma perspectiva entranhada em tradições patrimonialistas e autoritárias se faz necessário, pois nessa, o “gozo” é alcançado via “estupro”. (Trecho retirado do artigo parcialmente modificado “Os desdobramentos do programa todos pela alfabetização: “natalidade” e “mortalidade” humana em Ourolândia – Bahia”)

Pois é colega: e assim meu pensamento arendtiano, mesclado com o humanismo crítico Paulo freiriano, além do socorro de Boaventura de Sousa Santos. Discordo do seu “caos”. Lembrei-me de uma singular professor Georgehocoama, quando ele afirmava que o caos não existia. Para ele, não podia existir caos pelo simples fato de que tudo estava sistematizado pela humanidade no mundo contemporâneo. E o que não está, é porque inexiste. Se o mundo é uma criação humana, não pode haver caos, pois tudo passa a existir dentro de uma coerência humana, seja em senso comum, seja na interpretação científica das coisas. Quando você afirma que “é muito caos para pouca greve”, está contradizendo a própria pluralidade que Hannah Arendt acentua e que você aponta. Essa pluralidade é “natural” e desejável, pois, como afirmei de outra vez, o consenso que se constrói sem conflito é, no mínimo, suspeito. A participação de tantos atores – que bom! – com seus interesses e suas estratégias de poder geram, imprescindivelmente, o conflito, o embate, o debate, o contraditório, tão evitado nos espaços instituições da universidade que frequentamos. É por isso que a greve que ora se desenrola tem características reconhecidamente de emancipação, e não de regulação. Um fluxo de poder em forma de indignação veio à tona e expôs “as veias abertas da universidade” e derrubou a máscara de um governo que pousava de democrático, mas não passa de um intransigente e autoritário interlocutor.

Esta é uma greve-emancipação! Predominantemente. Uma greve que deseja o Outro como sujeito e não como objeto. Uma greve que deseja seres políticos ativos, disputando a palavra, o seu micro poder, o espaço político da revelação do que estava escondido debaixo do tapete. Eu creio nesta greve e nos seres humanos que nela entram para serem mais, sempre mais. Eu creio neste greve que fortalece nosso braço político: nossa Associação Docente da UNEB e espero que tal braço continue se fortalecendo num processo ininterrupto onde, todos nós, neste caos aparente, vá repensando e reconstruindo essa universidade para que ela seja o exemplo vivo e concreto de que educação emancipa, qualifica, melhora o humano para o serviço à sociedade a que pertence.

 Joselito  do Zé, da Nair, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Com o auxílio de
ARENDT, Hanna. A condição humana. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24. ed. São Paulo/SP: Paz e Terra, 2002.
SANTOS, Boaventura de S. A crítica da razão indolente: Contra o desperdício da experiência. Para um novo senso comum. A ciência, o direito e a política na transição paradigmática. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001.