sábado, 18 de dezembro de 2010

O Céu por Joselito e Mayre

Conversando com Mayre (http://mayre-reciclandoideias.blogspot.com) pelo Orkut, começamos a falar sobre céu, pecado e coisas afins, quando me surgiu a vontade de escrever sobre esse fenômeno. Propus dividir esse texto com a mesma, que aceitou de prontidão. Então...

Quando eu era pequeno queria ir para lá: o “céu”. Queria ir para aquele lugar que os adultos tanto falavam. Mas o incrível era que eu não queria ir para o céu por vontade própria. Criança não pensa em céu. Criança pensa em brincar e em brinquedo, criança pensa em doces, refrigerantes, pizzas e histórias contadas pelos mais velhos antes do sono. Criança brasileira pensa em ser jogador de futebol, piloto de avião, fórmula 1 ou algum super herói tipo homem aranha, mulher gato, maravilha ou super homem. Criança pensa em coisas que eu não consigo mais lembrar. Os mundos imaginários em que vivi, continham invariavelmente muita água, embora eu gostasse muito de galhos de árvores, onde Tarzan aparecia com seu grito peculiar: ÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔÔ. Então, “o céu pode esperar”. E podia. O mítico céu que o “Anjinho” da Turma da Mônica ajudava a compor ficava acima de nossas cabeças, era sempre azul e as nuvens serviam de cama para os anjos que nos olhavam caridosamente e nos protegiam quando necessário. Mas o céu não era lugar para vivos. Só mortos podiam requerer um espaço naquele lugar de harpas e anjos. Lembro que quando uma criança morria prematuramente alguns diziam logo que virou um “anjinho”, o que era assentido por todos os presentes. E, claro, por mais bonito que aquilo soasse, nenhum de nós, crianças daquele contexto, gostaríamos de virar “anjinhos”. O pecado nos aguardava mais à frente e, claro, gostaríamos de experimentá-lo, assim como experimentei meus primeiros cigarros às escondidas, entre outras ousadias com Ritinha no beco de casa. E de fato, o céu não foi uma opção para nós. Foi uma catequese familiar que o trouxe até nós. Nossos pais nos contaram desse lugar estranho que continuava a vida, depois do túmulo frio e cheio de significados para a própria vida que o olhava, tristonha. O Céu era a esperança da continuidade, o lugar misterioso onde a fé realizaria seu desejo infinito. Eu não sei se queria ir pro céu. Queria ficar ali, na Casa do Calafate com meus pais, para sempre, pois é assim que criança pensa: “para sempre”. Ouvindo suas histórias em noites frias e colchas de retalhos coloridos. E ficam para sempre todas as marcas de amor e de tristeza.

Depois fui vendo que esse negócio de “céu” não era uma coisa tão simples como morrer e ir para lá. Não existia apenas um céu. Aliás, cada céu impunha um modo de viver na terra. Um certo “céu” de um grupo poderoso impunha, digamos, uma dieta comportamental cuja receita trazia em seus muitos elementos a necessidade do indivíduo confessar seus pecados para outro indivíduo considerado menos pecaminoso que o mesmo. Além disso, impunha também como disciplina do denominado “cristão” que a pessoa tinha que, o que eles denominaram de, “comungar”. E, assim, os sacramentos foram criados e aqueles que não o seguiam foram marginalizados como “pecadores”, afastados que estavam do “caminho do Senhor”. Outros grupos criaram outros sacramentos e fórmulas para se chegar ao céu. Vestir gravata e paletó, não depilar as pernas, não fazer sobrancelhas e as mulheres, por conta de incitarem o desejo masculino – que nessa perspectiva é vítima, e não algoz, dos prazeres da carne – deviam usar roupas do pescoço ao tornozelo, cobrindo, inclusive, os braços. Outro grupo achou que num certo dia da semana não podiam fazer nada. Creio que deviam nem beber água nem mesmo comer, nem fazer necessidades fisiológicas. Aí o sacrifício ficaria completo em nome do “senhor” do sábado, e não do Senhor de todos os dias. Ora bolas. Evitando o desejo, prendendo o tesão dentro do corpo e blindando-o com orações fervorosas, com joelhos dobrados no chão, a fé, campo da pureza que se aproxima do divino, venceria o desejo, campo da impureza vinda do ser humano, frágil, carne que apodrece e desaparece. A história do ser humano seria, portanto, o longo e duro caminho de volta para o Senhor. A negação de desejos e necessidades que Deus possibilitou ao ser humano para aproveitar a boa e breve vida que Ele nos deu, é, nesse caso, condição sine qua non para o ser humano desfrutar a verdadeira vida que o aguarda no além, no “céu”.

O “céu” vai-nos aprisionando em vida e nos matando antes mesmo da morte chegar definitivamente. É como um regime rigoroso para emagrecer quem pesa apenas 30 kg. A gente vai vivendo no além, para o além, bem além de tudo o que nos foi dado como um jardim para desfrutar as belezas e dormir nas sombras das árvores, bebendo das águas limpas do rio. O céu é, na verdade, o anti-inferno. Não é o céu que vem primeiro: é o inferno! Criam o inferno para nos empurrar desesperadamente para o céu. Ou inferno ou céu. E não há saída para o ser humano: corre para Deus não por amor a Ele, mas como medo do diabo e das chamas ardentes queimando eternamente a nossa memória ameaçada. As religiões têm um forte poder de influência sobre nossa psique, pois seus conteúdos vêem de antigos mitos, fórmulas e estruturas arquetípicas da humanidade.

Voltando ao início dos tempos, visualizamos a imagem de Eva, a primeira mulher para judeus, árabes e mulçumanos, a lançar o pecado sobre a Terra, transformando-se na própria figura do mal. Eva não soube ou não quis frear o seu desejo. Cedeu à tentação da serpente e provou do fruto proibido por Deus. Gostando, logo convenceu Adão a experimentar também. Este, fraco por natureza, pois fora feito do barro, não resistiu à sedução da sua companheira. Contaminados pelo pecado, se autodescobriram, passaram a se enxergar como homem e mulher. Viram-se nus, se tocaram, perceberam suas diferenças anatômicas e sentiram sensações desconhecidas, mas altamente prazerosas e lascivas. Pronto! Estava criado o pecado da luxúria. E foi graças à Eva, e não a Deus, que o sexo passou a fazer parte das relações humanas. A partir daí foram estabelecidas as regras para se alcançar o céu, evitando o inferno. Fez-se conhecer uma lista infinita de atos proibidos e condenáveis. Em se tratando de sexo, estava terminantemente proibido praticá-lo com outro intuito que não a procriação. Ok. Era preciso povoar a Terra, ampliando a prole de Adão e Eva.

Mas por que não unir o útil ao agradável, por que dissociar o sexo do prazer? Se um sem o outro é o mesmo que goiabada sem doce, mar sem sol, boca sem sorriso, dança sem música! Sexo somente com orgasmo masculino, treinado para atingir o alvo. Um, dois, três e...FOOII! Ó, céus! Desse jeito ficou difícil alcançar o plano celestial.

Deus sádico, esse... Dá a faca, o queijo, mas não deixa comer. Barbaridade, Senhor!

Quase impossível dizer “seja feita a tua vontade” para todas as tuas vontades, porque as nossas vontades contrariam as tuas! Não nos deixa outra opção, senão pecarmos e depois escolhermos algum santo à altura do erro cometido para nos apegarmos e rezarmos, prometendo não voltar a reincidir! Promessas vãs, porque a depender do delito quase sempre o praticamos novamente.

E assim vamos vivendo na corda bamba, com um pé no céu e outro no inferno.

E quem haveria de querer viver para sempre no melancólico Jardim do Éden, vendo os dias passarem em brancas nuvens, ouvindo os mesmos sons e vendo a mesma paisagem bucólica? Nenhuma aventura, nenhum risco, sem poesia, sem canto, sem leitura, sem desejo proibido... Bendita seja Eva entre as mulheres!

Rosimayre Sousa de Oliveira e Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcias, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A BALA E A BA[LE]LA

Cada fala, cada discurso é, para mim, um convite a inserir-me nele, através, em primeiro lugar, do contexto imediato da fala e da memória discursiva acionada pelo evento discursivo, que provoca e evoca a emergência da compreensão constitutiva do objeto eleito, muitas vezes inconscientemente, apontando-o para formações discursivas específicas atravessadas pela história e pela ideologia. Lembrei-me de João Ubaldo Ribeiro quando, em seu "O Sorriso do Lagarto", brinca perversamente conosco. Brinca porque aciona nossa memória viciada em finais felizes, nos conduzindo a um possível happy end, com um crescente romantismo entre João Pedroso e Ana Clara. E, perversamente, João Ubaldo vai conduzindo-nos na trama até um ápice onde um tiro, apenas um tiro, e todo o romantismo desaba no corpo inerte de João Pedroso, levando ao chão a esperança de mundo demarcada na história de um homem e de uma mulher que, só faz sentido, porque já faz sentido na história pessoal de cada um de nós e de todos. E aquele tiro vindo de um assassino psicopata, mata não apenas João Pedroso, a luta da comunidade e a esperança da vitória dos pobres, mas também todos os leitores que, até aquele momento literário, eram cúmplices do casal controverso. Daquele trecho em diante, tudo parece ocorrer num tempo fugaz de um tiro, mostrando-nos que quem prevalece são os poderes político, econômico, científico e religioso. E assim, o lagarto, ou seja, o medo e a maldade sorriem. Tais poderes prevalecem sobre o bom senso, sobre a justiça, sobre a verdade, sobre a cultura e a luta da comunidade pela luz que deveria iluminar o espaço cotidiano.

João Ubaldo atira em nossa face a realidade mais crua do poder que opera sob a lógica do colonialismo e do patrimonialismo. Há pessoas donas de muitas terras, muitas águas, muitas riquezas. E, como afirma Peter Maclaren: Eles querem mais! E ainda tem pessoas que são donas, ou querem ser, de pessoas, o que é terrível. Temos uma pequena quantidade de brancos, ricos e heteros [muitos enrustidos], cuja arrogância nos espaços privados demonstra a mesma crueza dos antigos Senhores de Escravos do passado escravocrata da sociedade brasileira. Pisoteiam com palavras e ações àqueles a quem consideram inferiores. E esse fenômeno não se articula apenas no campo político, econômico e social, mas também no religioso, que recebe e incorpora elementos culturais específicos de nossa historicidade peculiar - embora negue em sua hipocrisia necessária - amalgamados em todas as relações sociais, cimentando um tipo de sociedade que se diverte com a criatividade que brota das desgracenças humanas criadas pelo modus operandi dessa mesma sociedade. A miséria nos distrai, nos relaxa e nos encanta. Há um humor exagerado que ridiculariza o nordestino, o pobre, o judeu, o homossexual, o louco, o miserável, o bêbado, o corno. E João Ubaldo devolve a sacanagem que fazem conosco, através do personagem de Ângelo Marcos, um político ladrão, homossexual enrustido, escondido “dentro do armário”, corno e mandante de assassinato, tirando toda vida que brotava a sua volta. O entorno desse personagem é árido e sua vida é oca. Sua arrogância e seu dinheiro não o fazem feliz, porque ele vive cercado pela mentira, e sustentando a mentira que é a vida de Ana Clara, ou seja lá o que isso signifique naquele contexto preciso.
E tudo isso gera medo. Medo gestando medo, numa sociedade que aborta a vontade de nascer outro modelo de sociedade. Os policiais atiram a esmo, ceifando vidas de Norte a Sul da Bahia. Desde uma criança que se prepara para dormir com seu amado pai, que teve a infelicidade de morar num bairro pobre onde os policiais interpretam como “lugar de marginais”, e tal interpretação permite a ação letal de atirar à esmo, até a morte sistemática de milhares de jovens envolvidos com o mundo do crime. Quem é aquele sujeito atrás da farda? Ninguém? Aquele que era geralmente desaparece quando coloca aquela farda. Há idéias que vestem aquele sujeito, junto com aquela farda, aquela pessoa que era comum, que sorria e que sonhava, que temia e que orava, que perdoava um pequeno deslize e não matava o seu vizinho por bobagem, agora é outro naquele contexto histórico e ideológico que a farda militar simboliza. Não se trata apenas de uma farda, mas de um símbolo de poder, de uma indumentária sacerdotal que dá àquele que a veste o ritual quase sagrado de prender, arrebentar e matar, sem o ônus da responsabilidade, pois a farda, atravessada por processos históricos de significação da polícia na sociedade brasileira, representa a autoridade inquestionável assegurada pela instituição histórica e socioantropológica do “desacato a autoridade”. Uma extensa memória discursiva do autoritarismo vem no enunciado: "- Você sabe com quem está falando?"

Há muitos policiais bem preparados, e muitos deles são honestos e têm senso de justiça. São bons pais e bons amigos e são muito bem representados pelo personagem do Capitão Nascimento. Mas, como ele mesmo afirma no Tropa de Elite II, “o sistema é foda”. O sistema de idéias, valores e crenças amalgamados na cultura colonialista que nos deixa marcas profundas em nosso modo de pensar e de agir, são reforçados por uma educação informal, assistemática, embora bastante eficaz, que torna aquele jovem humilde que freqüentou a catequese e o grupo de jovens no algoz que dispara o tiro que mata. Quem dispara não é apenas um sujeito neutro, pertencente a uma instituição neutra que busca a ordem nos parâmetros da Lei. O tiro que mata vem de longe. Foi disparado faz mais de 500 anos, desde Portugal, atravessando o tempo e o espaço, até ultrapassar a janela do quarto que matou o garoto que desejava ser Mestre de Capoeira. O policial que disparou foi o autor, o co-autor e o mediador da morte do inocente. A bala que saiu tecnicamente da sua arma, já vinha disparada por idéias, crenças, hábitos, comportamentos e atitudes marcadas pela discriminação e pelo preconceito que a nossa história herdou, preservou e desenvolveu. Não foi só um policial que atirou. Também foram co-autores desse crime: Eu, nós, vós, tu, eles, você (s), o sistema educacional baiano e brasileiro; o sistema de saúde; a nossa conivência e naturalização da morte; as religiões que dizem amém para tudo e celebram a morte ou a riqueza milagrosa - "para os que têm fé" - como a salvação dos pobres; o corporativismo das instituições; o Governo do Estado da Bahia, a Secretaria de Segurança Pública, o Fantoche de Prefeito de Salvador e o indivíduo fardado que atirou.

Quem está combatendo os pequenos e médios traficantes do Rio de Janeiro não é o Estado que, sensível, atende o clamor da sociedade, principalmente dos favelados amaldiçoados pelo tráfico, alimentado, inclusive, por artistas e famosos. Mas é o Grande Capital que se utiliza do braço armado do Estado para retirar os obstáculos aos interesses de maximização do lucro que a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 representam. É preciso entender que a função da polícia numa sociedade capitalista é a preservação e a defesa do Capital, amalgamada com os outrora “capitães do mato”. O cidadão é mero adereço ideológico de discurso público. Muito embora o disparo possa ser feito à esmo, a bala tem uma direção certa: aqueles para os quais não existe acesso à justiça, à saúde e educação pública de qualidade razoável, à moradia decente e infraestrutura básica como transporte, lazer e esporte, entre outros. Muito improvavelmente a bala atingiria um garoto branco dos edifícios de luxo e condomínios fechados de Salvador. A bala disparada não é simplesmente uma relação de dedo com gatilho, mas de idéias e crenças com atitudes e convicções construídas social e historicamente. Afirmar, portanto, que a bala foi disparada à esmo é BA[LE]LA.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

OS GOVERNOS MAIS MAL EDUCADOS DO BRASIL: JACQUES WAGNER E JOÃO HENRIQUE


Informação divulgada no grupo de Macaúbas, grupo do qual faço parte, afirma que o Governo da Bahia é o que menos investe em Educação básica. Vou utilizar em sala de aula para reflexões, já que eu também ensino Políticas Educacionais. Isso a gente percebe nos hábitos, atitudes e comportamentos das pessoas. Por exemplo: quando você chega na Rodoviária de Salvador, lá pelas cinco horas da manhã, sem aquele movimento de pessoas e automóveis, percebe o quanto aquela "região" está suja e fedorenta. A Rodoviária de uma cidade deveria ser um lugar bem bonito, aprazível ao olhar, cartão de visitas de uma cidade. Mas os prefeitos não percebem isso. Já dizia o ditado popular: a 1.ª impressão é a que fica. E se assim o é, fico com a má impressão de Salvador, cidade suja, cheia de papelões, plásticos voando, "esgotões", lonas velhas formando uma espécie de favela peculiar na passarela que dá acesso ao Iguatemi. (não vou nem falar da Estação Iguatemi, é covardia). Na música "A Banda" Chico Buarque nos avisa que a lua que viva escondida surgiu e a rosa que vivia fechada se abriu e a cidade toda se enfeitou pra ver a Banda passar cantando coisas de amor... Ora, A banda é a metáfora de um projeto que une a todos num movimento educativo permanente, festivo, convidativo. A "cidade toda" se enfeita, porque onde existem pessoas educadas, há atitudes, hábitos e comportamentos voltados para a preservação do bem público; onde vivem pessoas educadas a rosa se abre porque as pessoas cuidam dos seus jardins e praças; onde existem pessoas educadas há sensibilidade, e, as pessoas contemplam a beleza ao seu redor e se aprazem com o belo, percebendo, inclusive, a lua e seu prateado, pois "não há ó gente, ó não, luar como esse sertão”.

Mas o governo da Bahia participa dessa sujeira quando não garante os recursos e os projetos voltados para essa educação do cidadão no espaço público, não somente as crianças, mas de todos os indivíduos. Nesse estado baiano de coisas os professores ganham um salário indecente e são tratados por prefeituras, órgãos do Estado, secretários e secretárias de educação, de finanças e de planejamento, e até pelos Programas de formação de professores da PAFOR da Universidade do Estado da Bahia, como profissionais de segunda classe. O que se economiza com educação agora se gasta com limpeza urbana, saúde pública, dragagem de rios, despoluição das águas, reforma de parques e jardins, entre tantas outras ações visando, inutilmente, sanar as consequências de hábitos, atitudes e comportamentos de gente mal educada.

Segundo o relatório:

A Bahia é o estado da federação com o menor investimento público por aluno da educação básica ao ano: R$ 1.766,94. Paraíba e Amazonas aparecem em seguida, com R$ 1.802,39 e R$ 1.868,07, respectivamente. Na outra ponta, o Distrito Federal é a unidade da Federação com o maior investimento: R$ 4.834,43, seguido por Roraima, com R$ 4.365,37 gastos anualmente, por estudante. Os dados fazem parte do relatório do movimento Todos pela Educação, divulgado nesta quarta-feira, 1º. A entidade criou cinco metas de acesso e qualidade da educação no Brasil e acompanha os resultados periodicamente.

A meta cinco refere-se justamente ao investimento público na educação básica. A entidade defende que o país invista 5% do Produto Interno Bruto (PIB) na área, patamar que deve ser atingido ainda este anomantido até 2022. Os dados mostram que em 2009 o país aplicou 4,3% do PIB no setor. O relatório aponta que, mantido o ritmo de crescimento dos últimos anos, o percentual não será atingido. O estudo também traz análises sobre o acesso da população de 4 a 17 anos à escola, a alfabetização das crianças até 8 anos de idade, o aprendizado adequado dos alunos por série e a conclusão do ensino médio até 19 anos.

De acordo com a análise, o gasto educacional por aluno não tem relação com a região do país ou com a renda média da população do estado. Os recursos públicos investidos em cada estudante cresceram nos últimos anos, mas ainda variam muito de acordo com a unidade da federação: 12 estados investem menos do que a média nacional – R$ 2.948 ao ano por aluno.

Confira abaixo os valores por estado:

Estado Valor investido por aluno/ano


1. Distrito Federal R$ 4.834,43
2. Roraima R$ 4.365,37
3. Amapá R$ 3.729,39
4. Espírito Santo R$ 3.687,37
5. Mato Grosso do Sul R$ 3.481,96
6. Acre R$ 3.269,33
7. Sergipe R$ 3.111,59
8. Tocantins R$ 2.946,82
9. São Paulo R$ 2.930,56
10. Rio de Janeiro R$ 2.773,33
11. Ceará R$ 2.759,14
12. Goiás R$ 2.691,80
13. Mato Grosso R$ 2.510,95
14. Minas Gerais R$ 2.445,80
15. Rondônia R$ 2.410,95
16. Rio Grande do Sul R$ 2.369,02
17. Paraná R$ 2.301,10
18. Pernambuco R$ 2.157,11
19. Piauí R$ 2.120,53
20. Alagoas R$ 2.070,23
21. Santa Catarina R$ 2.052,57
22. Rio Grande do Norte R$ 2.038,18
23. Maranhão R$ 2.033,48
24. Pará R$ 2.006,35
25. Amazonas R$ 1.868,07
26. Paraíba R$ 1.802,39
27. Bahia R$ 1.766,94

http://ba.tmunicipal.org.br/prefeitura/macaubas/publicacao/
http://freire.com.br/pm/macaubas
http://contaspublicas.freireinformatica.com.br/macaubas

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

PARA MIM EDUCAR É...

1. Enfrentar desafios e, a partir destes desafios é que nos tornamos profissionais qualificados.
2. Ensinar a respeitar, agir, e interagir dentro e fora da sala de aula
3. É preciso ter muita experiência e um pouco de paciência, muita cautela, para ter bons resultados etc.
4. Formar cidadãos conscientes, críticos e autônomos.
5. Formar cidadãos críticos e atuantes na sociedade.
6. Formar cidadãos críticos e que busquem o seu lugar no espaço.
7. Relacionar conhecimentos diversos de modo que o educando consiga absorver o máximo de conteúdos.
8. Ensinar a fazer de maneira correta.
9. Ensinar a viver.
10. Um princípio de grande importância para a construção de seres humanos capazes de entender e viver no mundo real.
11. Transmitir possibilidades de conhecimentos e opções de um desenvolvimento maior da mente de cada indivíduo, levando-os a uma mudança de atitude na sociedade em que vive.
12. Reproduzir conhecimentos.
13. Compromisso e aprendizado do alunado, garantindo ao mesmo um futuro progressor dentro das normas educacionais e proposital do educador
14. É o mecanismo utilizado pela sociedade para transmitir o conhecimento para as gerações vindouras (mais jovens)
15. Transmitir os bons aprendizados para que se obtenham bons resultados.
16. Ensinar, passar experiências que os outros não passaram e assim compartilhar conhecimentos.
17. Processo contínuo de troca de experiências
18. Questionar, buscar descobrir o novo, ter uma visão mais ampla de determinada situação.
19. Estar sempre aberto a questionamentos, buscando compreendê-los e esclarecê-los. É também sempre uma maneira de buscar novos conhecimentos.
20. Fazer com que as pessoas aprendam e discutam normas de comportamentos estabelecidos na sociedade, e também atribuir conhecimentos e, consequentemente, torná-los mais críticos.
21. Mediar certos preceitos e atitudes comportamentais.
22. Instruir o educando conteúdos e métodos necessários para um bom desenvolvimento intelectual e relacionamento social.
23. Formar conhecimento e esse transmitir.
24. Dar subsídios para o desenvolvimento moral e intelectual do indivíduo.
25. Transmitir conhecimentos aos mais jovens.
26. Passar para outras pessoas o que aprendi, não só como educadora, mas também como ser humano, procurando saber o que meu colega passou no seu dia a dia, suas dificuldades, aprendendo ainda mais.
27. Mediar o conhecimento

Neste universo de 27 pessoas, é possível e necessário sistematizar e levantar dados relevantes para a discussão que desencadearei nesta disciplina: Filosofia da Educação. E por que não começarmos a partir da ZONA DE DESENVOLVIMENTO REAL DOS EDUCANDOS sobre o que seja EDUCAÇÃO?
No item 10, um (a) educando (a) afirmou que educação é “construção de seres humanos capazes de entender e viver no mundo real.” Uma questão filosófica logo se impõe: O que é mesmo o “mundo real”? Há uma afirmação subjacente aí: Se há um mundo real, há mundos imaginários. O termo “mundo real” sugere um mundo supostamente verdadeiro onde todos devem se submeter e adaptar. Os colonizadores espanhóis e portugueses trouxeram o tal “mundo real” para os indígenas e fizeram, a ferro e fogo, com que eles fossem adaptados a tal visão de mundo eurocêntrica e antropocêntrica, negando o mundo que os índios construíram em sua rede de relações interativas, em sua atividade cultural cotidiana. Muitas nações indígenas foram dizimadas em função disso. O filme “A Missão”, com Robert Deniro, é um exemplo desse massacre. Por isso pergunto: todos veem o mundo da mesma maneira? É como afirma o ditado popular “Cada cabeça um mundo”? Assim como essa pessoa afirmou que educar é construir humanos, será que o mundo também não é construído por nós? O mundo é como a gente enxerga ou nos enxergamos o mundo que queremos enxergar? Nossa visão pessoal e social do mundo pode ser modificada? Ou naturalmente ela é modificada em função da dinâmica de nossa existência pessoal e social? Gilberto Gil tem uma música, “Parabolicamará” que afirma o seguinte:
Antes mundo era pequeno / Porque Terra era grande
Hoje mundo é muito grande / Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena parabolicamará
Ê volta do mundo
Antes longe era distante / Perto só quando dava
Quando muito ali defronte / E o horizonte acabava
Hoje lá trás dos montes den'de casa camará
Ê volta do mundo
Ê ê mundo dá volta

O autor faz uma diferença entre “Terra” e “mundo”. Se “mundo” não é “Terra”, O que é mesmo “mundo”? Na contemporaneidade, com a introdução das tecnologias digitais e do desenvolvimento das comunicações e transportes “Terra” “Hoje mundo é muito grande porque Terra é pequena...” Qual a relação da tecnologia com o tamanho, a expansão do mundo? E a construção de seres humanos? Há uma afirmação nas entrelinhas nesta afirmação explícita. Se for preciso construir o ser humano, através de processos educativos, significa que o ser humano não nasce humano, por isso precisa ser construído. É verdade. Esta é uma primeira noção. Marx e Engels afirmam, no seu livro “A Ideologia Alemã”, que a natureza humana é uma segunda natureza. Vigotski afirma que é pela mediação social e cultural que o ser que nasce da espécie homo sapiens é tornado humano, passando do biológico para o sócio-histórico. Daí se conclui uma primeira versão sobre o que é educação, adotando como ponto de vista privilegiado a dimensão do seu processo de humanização: Educar é o processo de transformar o homo sapiens em ser humano. Esse processo é uma construção permanente. (1.ª conclusão). Entretanto, o termo “ser humano” é ainda muito abstrato. É necessário precisar tal noção. Que características definem o ser humano? Há seres desumanos? Assim como o ser humano é construído ele pode ser desconstruído? Assim como o homo sapiens é humanizado ele pode ser desumanizado? Como isso ocorre? Que características um ser desumanizado tem? Bem, alguns tentaram precisar o que seria esse ser humano. Vamos ver: Formar cidadãos conscientes, críticos e autônomos; Formar cidadãos críticos e atuantes na sociedade; Formar cidadãos críticos e que busquem o seu lugar no espaço.

Ser humano é um “cidadão crítico”. Cidadão é um termo velho. Vem desde a antiguidade clássica e sendo retomado com a ascensão da burguesia na França e na Inglaterra entre o fim do período medieval e o início da modernidade. Recomendo, para leve aprofundamento – assim, quando vocês falarem em “cidadania” terão uma certa precisão e cuidado em seu uso – a leitura do texto de Esther Buffa – nada de gracinhas com o sobrenome da autora – Educação e cidadania burguesas, encontrado no livro Educação e cidadania: quem educa o cidadão? Publicado pela editora Cortez. Hoje é usado alhures para não dizer nada, afinal, quais as características de um cidadão? Cidadão, habitante da cidade, com direitos e deveres. Mas, os educandos não se contentam que educar seja apenas formar o tal do “cidadão”. Eles anexam o adjetivo “crítico” ao termo dirigente da afirmação. Se o cidadão precisa ser crítico é porque a cidade onde ele vive é cheia de problemas que ele precisa perceber, analisar e tomar uma posição diante dos fenômenos que o envolvem enquanto membro da urbe (morador da cidade). Ser crítico exige que ele seja consciente. Vamos então, destacar as características apontadas pelas três afirmações acima para o cidadão, discutindo-as:

CONSCIENTE – Significa que o indivíduo controla o que pensa e como age. Será? Bem, Freud vem questionar profundamente essa ideia iluminista de que a razão antropocêntrica vai nos conduzir ao ápice da emancipação humana. Ele introduz a noção de inconsciente também no controle de nossas ações, investigando a origem de muitos problemas sociais a partir da Psicanálise. “O Mal-Estar na Civilização” é um livro que reflete tais indagações do autor de Viena. O ser humano não é apenas razão, sapiência. Ele é também loucura, demência. Buda já dizia que você pode travar uma luta contra mil exércitos, mas a maior luta que você trava é contra você mesmo. E é verdade.

AUTÔNOMO – Se o ser humano não é apenas sapiens, mas também demens, quais as possibilidades e os limites da construção de sua autonomia? O que vocês entendem por autonomia? Ser autônomo é não precisar de ninguém? Repetindo a pergunta de Newton Duarte: “aquilo que o indivíduo aprende por si mesmo é superior, em termos educativos e sociais, àquilo que ele aprende por meio da transmissão de outras pessoas...?” (DUARTE, 2003, p.09) O indivíduo aprende sozinho, sabe sistematizar sozinho o conhecimento, selecionar os conteúdos a serem estudados, programar o currículo etc.?

CRÍTICO – Ser crítico é ser cri cri? Não. Ser crítico é discorrer sobre um objeto, um assunto, de forma aprofundada, sistematizada e tratada teoricamente, pois sem teoria se instala o caos do “achismo”. Vamos estudar esse problema mais aprofundadamente em Paulo Ghiraldelli Júnior (2002)

Vamos retomar então a 1.ª conclusão: Educar é o processo de transformar o homo sapiens em ser humano. Esse processo é uma construção. O ser humano a ser educado deve ser um cidadão “consciente, crítico e autônomo”.
Alguns licenciandos assim se definiram o que é educar:
Relacionar conhecimentos diversos de modo que o educando consiga absorver o máximo de conteúdos; Ensinar a fazer de maneira correta; Ensinar a viver; Transmitir os bons aprendizados para que se obtenham bons resultados; Fazer com que as pessoas aprendam e discutam normas de comportamentos estabelecidos na sociedade, e também atribuir conhecimentos e, consequentemente, torná-los mais críticos.

Bem, o educando não absorve. Absorver é função de papel, não de ser humano em situação de aprendizagem. Primeiro porque o ser humano aprende em processo de interação, causado por desequilíbrio cognitivo, segundo Jean Piaget. Eu discordo de que o educando deva aprender “o máximo de conteúdos”. A gente estressa as crianças com uma quantidade enorme de conteúdos, muitos irrelevantes para o desenvolvimento de sua inteligência cognitiva e emocional. Toda aprendizagem é um processo, não de simples transmissão de conteúdos, informações e conhecimentos da cabeça do educador para a cabeça do educando, mas um processo complexo, uma aventura intelectual através do diálogo interativo entre educador e educando. Por outro lado, educar não é apenas “ensinar da maneira correta”, pois a maneira errada também faz parte de uma aprendizagem significativa. O erro é fundamental no caminho para a aprendizagem e para a descoberta. Embora eu concorde com o sentido de “maneira correta”, não como “a maneira única”, mas como reconhecendo a importância do ato educativo que exige, como afirma Libâneo, um alto grau de organização e sistematização, através do planejamento permanente da atividade educativa.

Um abraço afetuoso: Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

ENTENDO QUE A FILOSOFIA...

1. Traz conhecimentos de concepções abstratas de várias ideologias.
2. Constitui uma forma peculiar do ser humano expressar a sua visão do mundo e do que o cerca.
3. Faz parte da vida de cada indivíduo, que está presente no cotidiano do ser humano.
4. São várias maneiras de pensar determinados assuntos.
5. É uma ciência que explica os fatos pela razão.
6. É a arte da reflexão. A partir daí constrói-se a crítica.
7. Dá-nos embasamento teórico para o raciocínio da nossa vivência social
8. É a reflexão da própria existência e o entendimento a partir do pensamento do todo.
9. É a arte de saber, o retrato da sociedade, mostrando diferentes pensamentos de cada pessoa em relação ao modo de vida e de ver a vida.
10. Não se limita apenas à maneira de falar, mas sim a concepção diferente do mundo em que vivemos.
11. É a ciência que estuda os pensamentos teóricos.
12. É a arte de pensar criticamente, analisar e valorizar o natural em suas perfeitas e desiguais dimensões.
13. É de fundamental importância para os indivíduos, pois o estudo da mesma nos torna pessoas críticas e conscientes.
14. É a ciência que estuda as diferentes formas de pensar.
15. É uma reflexão das circunstâncias desenvolvidas na sociedade, baseada num determinado ponto de vista.
16. É um método de filosofia, quer dizer: pensar e refletir concepções de várias maneiras de discutir.
17. É necessária para a formação social do homem.
18. Permite-nos questionar, refletir, descobrir, indagar.
19. É um dos caminhos que nos leva a compreender determinadas situações, por um lado mais crítico.
20. É um meio pelo qual os pensamentos são expressos de forma diferente (das ciências por exemplo), tornando-nos capazes de refletir com diferentes óticas sobre determinados assuntos.
21. A Filosofia abre os olhos da mente.
22. Discute conceitos, atitudes e comportamento dos indivíduos em seu meio.

Bem, vocês revelam, em seu conjunto, uma noção próxima do que seja Filosofia: Filhos e Filhas da Sabedoria. A Filosofia, como revelou poeticamente um ou uma de vocês, “abre os olhos da mente”. E esse abrir os olhos da mente não é uma questão sobrenatural, nem uma mágica, nem mesmo um dom pessoal. É uma questão, sobretudo, histórica e antropológica. A filosofia surge quando as explicações mitológicas se enfraquecem. Quando os deuses falam os homens calam e se satisfazem com as explicações mitológicas. Mas, num determinado momento da sociedade grega, os mitos vão perdendo a força explicativa e os seres humanos vão sendo obrigados a elaborar respostas para compreenderem os desafios do mundo a partir de si mesmos, de suas potencialidades cognitivas que, naquela época, foi denominado de “razão”. “Decifra-me ou devoro-te”. Então, os seres humanos que se encontravam na Grécia, tiveram a feliz coincidência histórica de nascerem gênios naquele preciso momento, tais como Sócrates e seus pupilos: Aristóteles e Platão, entre outros menos conhecidos, que influenciaram decisivamente o pensamento em todo o Ocidente, chegando até nós. O ser humano, como senhor de sua razão, construiria o “admirável mundo novo .” Essa herança que nos foi transmitida pelo pensamento filosófico clássico, é preciso ser compreendida para que possamos entender o nosso próprio tempo contemporâneo. A Filosofia é um tipo de reflexão das circunstâncias sociais. É um tipo de pensamento, mas não qualquer tipo. O pensamento filosófico exige como um de vocês aponta: método de filosofia, quer dizer: pensar e refletir concepções de várias maneiras de discutir. Existem, de fato, diferentes métodos de se chegar ao conhecimento. A maiêutica de Sócrates, o método dialético, a escolástica, a hermenêutica, a fenomenologia, entre outros, são caminhos que a inteligência filosófica cria e aperfeiçoa para alcançar o conhecimento, a busca inesgotável da verdade. Esses métodos permitem-nos questionar, refletir, descobrir, indagar, analisar dados e sistematizá-los de forma singular e com relativo rigor que o pensamento institucionalizado exige. Portanto, filosofar, não é falta do que fazer. É trilhar o caminho com certo rigor para se alcançar algum saber e provar do seu sabor em forma de sabedoria. É preciso relembrar, porém, como já fiz em sala de aula, que a Filosofia não é uma ciência. Toda Ciência tem seu objeto específico. A Filosofia não. Todo e qualquer objeto é objeto da filosofia, inclusive a ciência, que dá origem a uma disciplina filosófica: a Filosofia da Ciência. Inclusive sugiro a leitura de “Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras”, de Rubem Alves, publicado pela editora Loyola.

Para estudos e reflexões sugiro uma visitinha ao seguinte endereço eletrônico:





CREIO QUE O PAPEL DA FILOSOFIA NO ENSINO DA GEOGRAFIA

1. É desmistificar a idéia do aceitável e única idéia a ser aceita por determinados grupos da sociedade, que a grande massa política ou não, tenta forçar-nos indiretamente a crer que essa tal idéia seja válida.
2. É a reflexão do ensino e o papel educacional da Geografia em sala de aula.
3. É de muita valia para o crescimento profissional e intelectual de todos os docentes.
4. É o ensino e seu conhecimento como o papel da escola, ponto principal.
5. Comunga com aspectos físicos e humanos: a reflexão.
6. Ajudará-nos a uma melhor compreensão.
7. É de explicar algumas teorias dos estudos da ciência geográfica.
8. É trazer os diferentes posicionamentos filosóficos existentes no conteúdo de Geografia e fazer com que se veja a realidade de uma sociedade por diversos aspectos, sejam eles culturais, sociais, dentre outros.
9. É discutir sobre os grandes filósofos e seus pensamentos, que possibilitam o desenvolvimento social.
10. Possibilite-nos uma nova forma de ensino, e uma nova percepção da educação.
11. Tem como refletir sobre as relações sociais desenvolvidas no cotidiano, no espaço do aluno.
12. Ajudará a compreender algumas teorias geográficas.
13. É possibilitar a interação de forma positiva na compreensão da ciência humana.
14. É muito importante para a vida do indivíduo que pretende ser um grande professor.
15. É o de reforçar na mente dos futuros educadores o quanto é inútil exercerem seus papéis (no futuro) sem levarem em conta os diferentes pontos de vista que englobem o passado, o presente e, possivelmente, o futuro do pensamento na educação.
16. Permitirá visualizar o mundo geográfico de forma crítica.

Bem, as afirmações em vermelho, itens 2, 4 e 10, confundem, de certa forma, Filosofia da Educação com Didática, o que é bastante compreensível, pois a maioria nunca estudou Didática. A Filosofia da Educação reflete sobre o ensino, seus fundamentos filosóficos e seus princípios teóricos, auxiliando-nos e orientando-nos nas escolhas que fazemos quando planejamos a nossa prática educativa, seja ela na escola, seja em outra instituição educativa de caráter formal ou mesmo informal. Todo projeto político-pedagógico de uma instituição educativa, por exemplo, precisa de fundamentação filosófica, exigindo concepções de ser humano e de mundo que serão acionados e valorizados pela instituição educativa que seguirá as diretrizes do projeto político pedagógico. No planejamento participativo proposto por Danilo Gandin e Ângelo Dalmás, por exemplo, o projeto político pedagógico é composto pelos seguintes elementos:

Referencial – é tomada de posição, expressa o rumo, o horizonte, a direção;

• Marco situacional - questiona onde estamos e como vemos a realidade
• Marco político ou filosófico – concepção de homem e de sociedade;
• Marco operativo ou pedagógico – concepção pedagógica escolhida para operar na escola.

Definir bem o marco filosófico de um projeto é de fundamental importância para a prática educativa no contexto do planejamento participativo, pois saber que tipo de ser humano desejamos, para que tipo de mundo, é uma resposta complexa que exige um processo permanente de reflexão e discussão, caso contrário caímos no espontaneismo que degrada e corrompe a prática educativa.

Outra coisa importante está na afirmação de que cabe à Geografia “desmistificar a idéia do aceitável e única idéia a ser aceita por determinados grupos da sociedade, que a grande massa política ou não, tenta forçar-nos indiretamente a crer que essa tal idéia seja válida.” Esta afirmação refere-se ao papel da filosofia na desmistificação das ideologias presentes nos processos sociais, culturais e políticos. A ideologia faz parte de qualquer relação humana, por isso, concordo com a afirmação acima, haja vista que devemos combater as ideologias que querem se impor como as legítimas e únicas justificáveis, marginalizando diversas culturas que não correspondam ao padrão imposto. A discussão na área de currículo, do multiculturalismo, por exemplo, traz contribuições importantes para se pensar esse fenômeno desde que o mundo é mundo. O combate à discriminação e às várias formas de preconceito deve começar na família e continuar na escola. Vejam um exemplo concreto:

Lembro de uma história relatada por uma aluna que tive lá em Malhada de Pedras, há 30 km de Brumado. Ela me falou que, quando foi estagiar, a professora, antes de abandonar a sala nas mãos da mesma avisou-lhe sobre um garoto que era o “capeta”, que tomasse cuidado, “jogasse duro” em cima daquele “peste”. A estagiária percebeu que toda vez que o garoto entrava na sala de aula os outros coleguinhas ficavam repetindo: “- Oi o fio do corno! Oi o fio do corno!” A partir de então, ela resolveu investigar aquela história e descobriu que a mãe do garoto havia supostamente traído o pai e que este último havia dado uma surra nela com o cabo de um guarda-chuva em plena praça pública. Claro que, numa cidade pequena, todo mundo ficou sabendo e, com certeza, nos bares, nas esquinas, no trabalho, nas barbearias, nos lares a conversa devia ser em tom de chacota, como se aquele fosse o primeiro e o último corno de Malhada de Pedras. A repetição das crianças na escola era um reflexo desse desenrolar dos fatos nas famílias a que pertenciam. Fiquei pensando. Eu, que sou um adulto, se meus pais se separassem iria sofrer bastante. Imagine isso para uma criança e da forma como foi a separação? Além disso, o pobre garoto revivia, de segunda a sexta-feira, no lugar que deveria ser acolhedor e educativo, a repetição daquela tragédia pessoal e familiar em forma de chacota dos coleguinhas. Que escola mal educada! Que escola hipócrita! Que professora (a regente) mais sem eira nem beira!

A estagiária acolheu o garoto e sua dor. Convocou os pais dos demais coleguinhas para uma reunião e relatou a gravidade da situação, exigindo que aquela “brincadeira” fosse cessada. Não me lembro mais o fechamento desta história, mas sei que alguém teve uma atitude de educador perante aquela situação. Uma professora agiu como educadora e retirou mais um empecilho da vida de um garoto que não era “capeta” algum. Aquele menino apenas se defendia com as armas que possuía daquela memória dolorosa de sua vida, que ele queria mandar para o esquecimento definitivo. Se uma situação parecida acontecer contigo, seja um educador, não deboche, nem desdenhe do sofrimento alheio. Lembre-se da diferença entre instruir e educar.

Por isso que a Filosofia exerce um papel importante de DESCONSTRUÇÃO. Desconstruir verdades estabelecidas e tidas como as únicas possíveis; desconstruir crenças que se julgam mais próximas de Deus, em contraposição às demais crenças julgadas como próximas de satanás. O povo de santo fez ontem (21/11/2010) uma passeata, aqui em Salvador, contra a discriminação religiosa, reagindo contra tais vontades de poder, imposição e controle sobre as crenças alheias. Aliás, a própria Filosofia discute isso. O mito de Adão e Eva contrapõe-se ao mito de Lúcifer. Adão e Eva são criaturas. Criados para desfrutar a vida eternamente, vivendo em simbiose com o meio ambiente, contemplando a beleza do jardim criado para puro deleite. Rubem Alves afirma que todo político deveria, antes de tudo, ser um jardineiro. Alguém que sonha com jardins para o povo. O destino de Adão e Eva era igualar-se a Deus, fazer-se semelhante, para, sentados na assembléia dialogarmos alegremente com o Todo Poderoso sobre os mistérios da existência e filosofarmos alegremente com o Senhor de tudo o que há. Mas o mito de Lúcifer traz a ganância pelo poder que não lhe pertence. Lúcifer não quer igualar-se a Deus, quer ocupar o lugar Dele. Quer ser o senhor e julgar, desse ponto de vista, o bem e o mal, o certo e o errado. Não é isso que as religiões cristãs fazem com as demais? Se Deus criou a diversidade e a pluralidade, quem somos nós para negarmos? Se Deus nos permitiu o desfrute do gozo, quem somos nós para o reprimirmos? Se Deus criou as águas cristalinas, os oceanos e florestas, quem somos nós para destruirmos e não gozarmos todos os dias as oferendas da terra?

E alguém disse que a Filosofia da Educação “Tem como refletir sobre as relações sociais desenvolvidas no cotidiano, no espaço do aluno”. A Filosofia da Educação é isso mesmo. Seu papel é ajudar vocês, não a simplesmente decorarem e saírem arrotando postulados filosóficos, mas olhar cuidadosamente para o seu cotidiano escolar e ver, porque as vezes olhamos e não vemos, os princípios que os regem, as crenças que sustentam determinadas relações sociais, os efeitos provocados, os preconceitos, as discriminações, os exemplos de solidariedade, os conteúdos emancipatórios e refletir sobre eles no processo de construção do espaço e do próprio humano nesse processo, que é total, ou seja: é econômico, é cultural, é social, é religioso, é político, é educativo, é lazer e esportes.

O papel da Filosofia da Educação “é o de reforçar na mente dos futuros educadores o quanto é inútil exercerem seus papéis (no futuro) sem levarem em conta os diferentes pontos de vista que englobem o passado, o presente e, possivelmente, o futuro do pensamento na educação.” Exato. A história e a historicidade nos fornecem elementos cruciais para entendermos determinados movimentos sociais, que perpassam a escola e reproduzem iniqüidades sociais. É preciso sempre estar se perguntando sobre esse humano que está sendo permanentemente gestado no ventre da sociedade, passando pela escola básica. Ele vai continuar poluindo e desmatando? Ele vai continuar agindo muito mais pelo instinto arrogante que pela reflexão humilde? Ele vai continuar explorando o outro e tentando “se dar bem” utilizando o velho “jeitinho brasileiro”? Ele vai continuar tentando alcançar o mérito do diploma com o mínimo de esforço possível? Que é o ser humano?

Um abraço afetuoso: Joselito da Nair do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel, ou Joselito Manoel de Jesus

domingo, 21 de novembro de 2010

Educador/Educandos: Diálogos em Filosofia da Educação III

PENSO QUE A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO...
1. Procura entender a educação desde o cerne do pensamento.
2. Sugere métodos qualificados na arte de educar.
3. É uma maneira para que todos nós possamos discutir em conjunto observando o ponto de vista de cada um.
4. Dará a contribuição necessária para o processo ensino/aprendizagem.
5. Dará melhor suporte para trabalharmos em sala de aula, pois busca um conhecimento com criticidade.
6. Vai me auxiliar na compreensão de tal universo tão complexo.
7. Mostre-nos múltiplas visões de como agir em determinadas situações educacionais tomando como base filósofos do passado e atribuindo a essas idéias os problemas do presente.
8. Dará-nos subsídios necessários para entendermos a educação de forma crítica e analítica.
9. Busca conhecer a realidade do aluno, bem como aprimorar os conhecimentos do mesmo, relacionados ao seu meio social.
10. Ajudará a sermos melhores alunos na disciplina.
11. É importante para rever as teorias educacionais.
12. É uma forma crítica do nosso conhecimento.
13. Estuda vários conceitos educativos.
14. Consiste na especulação e discussão de aspectos educacionais
15. Vai ajudar-me a compreender melhores maneiras de como atuar em prol da minha comunidade e na área da educação
16. Ajudará a entender as formas de transmitir os conhecimentos adquiridos ao longo do curso.

A Filosofia, como filha da sabedoria, não poderia deixar de abordar a educação como um objeto de estudo, pensando seus métodos, seus propósitos, as concepções de ser humano e de mundo que influenciam os projetos políticos pedagógicos e os planejamentos desencadeados nos processos educativos. E, realmente, A Filosofia da Educação procura “entender a educação desde o cerne do pensamento”. Eu compreendo essa afirmação do seguinte ponto de vista: A filosofia da educação busca investigar e compreender os fenômenos desde as suas raízes. Tem um filósofo conhecido, Dermeval Saviani , que afirma que a Filosofia tem de ser radical, rigorosa e de conjunto. Radical porque deve ir até as raízes do fenômeno. Rigorosa porque toda investigação filosófica deve ter um rigor metodológico; e de conjunto porque para compreender qualquer objeto de estudo é preciso examiná-lo em suas relações, em seu contexto específico e amplo, que o delineia no conjunto de tudo o que ocorre e o faz ter sentido no contexto social, histórico, político, cultural e econômico que o engendra.

A Filosofia da Educação realmente “sugere métodos qualificados na arte de educar.” Mas não apenas isso. A Filosofia da Educação pensa a Educação em seus fundamentos mais profundos. Problematiza as concepções de ser humano e de mundo tidos como ideais, desmascarando as ideologias que sustentam todas as concepções, pois não há concepção de educação que não seja ideológica. A ideologia não é boa nem má, ela é intrínseca a toda concepção humana. Bakhtin , um renomado estudioso da linguagem, afirma que todo signo é ideológico. Mesmo quando vocês está em silêncio, em determinada situação, você está sendo ideológico.

Outras duas contribuições de vocês também são muito importantes para se pensar a filosofia da educação na prática educativa. Foram as seguintes:
 uma maneira para que todos nós possamos discutir em conjunto observando o ponto de vista de cada um.” e...

“Mostre-nos múltiplas visões de como agir em determinadas situações educacionais.”
Essas duas afirmações ressaltam o papel da filosofia na formação do professor que, sendo educador, não se coloca no status de “Dono da Verdade” e distribui a fala em sala de aula, “observando o ponto de vista de cada um.” Vivemos numa sociedade plural, que existe um multiculturalismo crítico, desconstruindo pretensas uniformidades que marginalizam os outros, destruindo-os simbolicamente. É o caso dos evangélicos que discriminam os religiosos do candomblé, ou dos heteros, ou que acham que são heteros, que discriminam os homossexuais, entre outras. Evidentemente que cada um faz sua escolha de fé, e de jeito de viver, estar no mundo. Por isso mesmo é que devemos respeitar o Outro em sua diversidade cultural, tornando a sala de aula um espaço laico, onde o multiculturalismo impere, ao invés da verdade única, imposta e controlada por um grupo de pessoas. Por isso mesmo é preciso procurar a Filosofia da Educação para fundamentar nossa prática educativa na escola e na sala de aula pois ela nos “dará subsídios necessários para entendermos a educação de forma crítica e analítica.” Entendendo crítico não como algo negativo, mas como um posicionamento bem fundamentado sobre determinado assunto/objeto de estudo. E analítico, vem de análise, que é a compreensão do todo pelo exame de suas partes.
Outra coisa bonita que percebi nas manifestações de vocês foi a seguinte:
"Vai ajudar-me a compreender melhores maneiras de como atuar em prol da minha comunidade e na área da educação"
Muito bonito isso. Alguém que está se formando pensando, não em si mesmo, não olhando para seu umbigo, nem seguro em sua vaidade pessoal, mas na comunidade a qual pertence. Uma ideia assim deve ser valorizada. Precisamos olhar para o outro, e não fugir dele(a). Nossos irmãos, nossos parentes, nossos vizinhos. Pois se a gente não ama quem está próximo, como a gente vai amar quem está longe? O amor é feito de olhar. Você deve olhar bem para o (a) Outro(a), olhar demoradamente, reduzindo ao máximo o pré conceito para tentar enxergar melhor, com certo e possível carinho pelas fraquezas que todos nós temos. Eu, Joselito, penso que, se o conhecimento nos afasta do outro ele é maldito. O conhecimento deve nos emancipar de nossos demônios, elevando o outro à sua condição de ser mais, nunca menos. Uma Filosofia da Educação para a emancipação, para a alegria e felicidade que todas as pessoas merecem. E, EU NÃO QUERO QUE VOCÊS SEJAM APENAS “melhores alunos na disciplina”. QUERO QUE VOCÊS SEJAM MELHORES PESSOAS A VIDA INTEIRA!!!

O que vocês pensam disso?

 Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Educador/Educandos: Diálogos em Filosofia da Educação IV

MINHA EXPERIÊNCIA HUMANA FAZ-ME PERCEBER, DO PONTO DE VISTA FILOSÓFICO O SER HUMANO...

 1. Está disposta a sofrer ou aceitar mudanças adquiridas pela vida.
2. Que o ser humano é um ser pensante e cheios de dúvidas em determinados assuntos, nos quais tem uma inteligência, pois vai em busca de tirar suas dúvidas para não ficar confuso.
3. O ser humano é burro.
4. Busca o conhecimento, para assim saciar suas dúvidas diante dos mitos apresentados diariamente.
5. É um ser complexo, devido estar em constante mudança.
6. O ser humano necessita “abrir” mais a mente para os problemas e tentar buscar possíveis soluções em conflito.
7. É um ser que pensa.
8. Desenvolve questionamentos que podem contribuir com sua experiência de vida.
9. O homem difere dos outros animais.
10. Tem um conhecimento útil.
11. Aprenda a filosofia da educação pensando rigorosamente sobre os fenômenos educativos.
12. É um ser capaz de compreender a si e o mundo ao seu redor.
13. Que só sei que nada sei.
14. O ser humano é capaz de superar limites, os quais ele mesmo desconhece.
15. Que o ser humano é uma espécie única porque só ele é capaz de viver ou morrer pela sua ânsia ou desejo por respostas e aprender com as perguntas que ele mesmo propõe.


Evidentemente que tem coisas óbvias, embora, se não me engano, Oscar Wilde afirme que o óbvio não existe. Há uma disposição em aceitar as mudanças que a vida em sua dinâmica impõe? A afirmação primeira aponta algum sofrimento nesse processo. É uma discussão longa, que vem desde quando a modernidade começou a se instaurar. Qual a capacidade do ser humano, adaptado à vida no cultivo da terra, ao tempo natural (tempo de preparar a terra, tempo de semear, tempo de colher, tempo de dormir, de acordar) de se adaptar aos novos processos e relações que a modernidade começava a impor? Há, realmente, algum sofrimento nisso. Quem tem sua vida organizada, seu mundo conhecido e rotineiro, e, repentinamente, precisa mudar rapidamente em função de múltiplos fatores, sente a perda do lar, do conhecido e aceito intimamente. E nossa experiência nos ensina que o ser humano, dentre todos os animais, não se contenta em adaptar-se ao mundo, como os demais animais. Ele, O ser humano, não gosta de ficar confuso. Busca respostas para sua existência e começa a filosofar: “Porque a vida? E porque a consciência da vida?” (Karl Popper). Como homo sapiens o ser humano quer transformar o que existe em função do que entende como seu bem-estar. E a sua relação com a natureza adquire um caráter histórico e antropológico imprescindível.

Através do trabalho o ser humano transforma a natureza e cria, pela tecnologia, coisas fabulosas e impensáveis de uma geração para outra. Mas, como afirmou um de vocês: “o ser humano é burro”. De fato. Foi o cineasta e ator Charles Chaplin que afirmou, não necessariamente com as mesmas palavras, que o ser humano inventou aviões, submarinos, máquinas fenomenais de guerra, produtos incríveis, entre outros. Mas não conseguiu aprender ainda a simples arte de amar. Por isso, embora o ser humano seja inteligente do ponto de vista cognitivo, por outro lado, do ponto de vista emocional, ele ainda é burro, entendendo-se “burro” como ignorante. E a nossa escola pública e privada ainda negligencia a inteligência emocional, a dimensão afetiva que nos caracteriza, em última instância, como seres humanos. Parafraseando Descartes, poderíamos elaborar outra máxima filosófica: Amo, perdôo, cuido, respeito, logo existo. E essa é uma questão filosófica das mais relevantes: é o ser humano um ser contraditório? Está fadado eternamente a viver entre o sapiens e o demens, entre o bem e o mal, Deus e o diabo? A nossa experiência humana mostra claramente essa contradição de um ser que, ao mesmo tempo que luta pela ecologia, pela vida, pela caridade e pelo perdão, capaz de doar a própria vida em nome de uma causa nobre, também é capaz de destruir a natureza em nome da mesquinhez do capital. Também é capaz de matar impiedosamente, até os próprios familiares; capaz de abusar sexualmente de crianças indefesas, roubando merendas de crianças carentes das redes públicas municipais de ensino, como os prefeitos do Estado da Bahia que foram presos recentemente na operação “carcará”, e das mais nefastas loucuras. Uns duvidam da existência de Deus e afirmam que ou Deus é bom ou ele é onipotente. Pois se ele é bom e deixa acontecer tantas coisas ruins é porque não tem onipotência ou, se for onipotente, e, portanto, pode tudo, mas deixa acontecer tantas coisas malévolas, é porque não é bom. (Arnold Toinbee, historiador inglês)

É Kant quem pergunta: Que é o homem? Que devo fazer? Que me cabe esperar? Esse humano apresenta uma ânsia “para assim saciar suas dúvidas”. “É uma espécie única porque só ele é capaz de viver ou morrer pela sua ânsia ou desejo por respostas e aprender com as perguntas que ele mesmo propõe.” Por isso, no pensamento filosófico, o ser humano necessita “abrir” mais a mente para os problemas e tentar buscar possíveis soluções em conflito. Como diria um personagem de novela, encarnado pelo ator José Wilker (Novela Renascer), “é justo, é muito justo, é justíssimo”. Muitas vezes a gente pensa dialeticamente e age metafisicamente. A gente procura evitar o conflito, procura dar um jeitinho diplomático em tudo, mas não elimina as perversidades e iniqüidades sociais que, por isso mesmo, se tornam crônicas. Vejam um trechinho da poesia de Marina Colasanti sobre isso...

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma. (1972) Sugiro visita ao site http://www.releituras.com/mcolasanti_eusei.asp

Um bom exemplo é o cotidiano de nossos lares. Quando nossa mãe vai envelhecendo, e não consegue mais lavar roupas, a gente não discute a injustiça que isso representa, uma pessoa que já contribuiu tanto para a nossa vida, ainda tendo que limpar nossas sujeiras? Ao invés de refletirmos sobre isso recorremos ao mercado e ao fetiche da mercadoria: compramos uma máquina de lavar de marca “da boa” e, mercadologicamente, “resolvemos” paliativamente, nossas injustiças. E, quando a gente pensa que sabe alguma coisa, a Filosofia nos ensina “que só sei que nada sei.” Ora, se Sócrates que foi Sócrates, disse isso, quem somos nós para, arrogantemente, utilizar o saber como status e indicador de hierarquização social? O saber deve ser captado como sabor. É aí que ele fica gostoso.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Orai e Vigiai no Espelho de Si Mesmo.

Percebo, na sociedade contemporânea, um movimento estranho ao processo de humanização: uma desumanização crescente que caminha rumo à barbárie em função de atitudes desrespeitosas para com o Outro. Hoje, 15/11/2010, o noticiário mostrou o episódio em que jovens de classe média alta de São Paulo, em plena Avenida Paulista, atacaram brutalmente outros jovens motivados por homofobia. Há pouco, uma jovem estudante de direito incitava os paulistas a afogarem nordestinos, por esses serem culpados da eleição de Dilma para Presidente da República. São atitudes alimentadas ideologicamente e passadas de geração a geração, pois preconceito, embora não seja matéria escolar, é conteúdo social que possui uma eficácia pedagógica impressionante. Nós aprendemos e gostamos – ou aprendemos porque gostamos? – a sermos preconceituosos. E transformamos tal aprendizado em atitudes hostis com qualquer outro que nos seja estranho.

Na base parafrástica de Sartre, do “o inferno é o outro”, vamos experimentando nazismos e paulistanismos possíveis, dominados por idéias xenófobas, que vão matando os outros, seja simbolicamente, seja de fato. Edgar Morin nos avisa que muitas vezes pensamos que somos donos de nossas idéias, mas, ao contrário, elas é que são nossas donas, elas, as idéias, são quem nos dominam e nos controlam e, dominados por certas idéias, a loucura e a insensatez aparecem como sintomas de uma sociedade que não pensa sobre seus próprios pensamentos. Há idéias que nos têm que nem pensamos em pronunciá-las. Escondemo-las de nós mesmos empurrando para o inconsciente. Mas esquecemos que somos controlados mais pelo inconsciente do que pelo consciente, por isso, o importante e imprescindível papel da psicanálise. Jesus fez uma espécie de psicanálise quando perguntou ao endemoninhado qual o nome daquele que afligia aquela alma. E ele(s) respondeu (ram): “Legião é o meu nome, porque somos muitos”. (MARCOS, 5: 8-9). É preciso saber os nomes das muitas idéias que nos dominam, para que possamos exorcizá-las de nós. Inveja, preconceito, xenofobia, homofobia, racismo, misoginia e tantas idéias medíocres sobre negros, mulheres, homossexuais, nordestinos, nortistas, crianças, jovens, portadores de deficiência física e mental, ricos, baixos, altos, feios, cabeleireiros, bailarinos, africanos, moradores de favela, entre tantas e tantas idéias que, embora endemonizem os outros, é o próprio demo agindo em nós.

Caso comecemos uma nova caça às bruxas, começaremos matando nordestinos, negros, homossexuais, favelados, indígenas, moradores de rua, travestis, ladrões, portadores de deficiência, judeus, não-cristãos, ateus, entre outros. Depois de ser feita a “limpeza”, enfim descansaremos em paz na sociedade que sempre sonhamos... Será? Não. Porque haverão outros estranhos e forasteiros para queimar na “fogueira santa”. Os neonazistas espalhados pelo mundo se juntarão aos neoinquisidores e aos talibãs e recomeçarão nova matança. Estudos genéticos serão feitos para comprovar a pureza do sangue de alguns brancos. Mulheres que tiverem problemas de menstruação e outras que forem estéreis, benzedeiras, Mães de Santo, serão queimadas vivas, pois serão consideradas aberrações, bruxas contemporâneas. As vezes a gente pensa só nos lemas da Revolução Francesa: Igualdade, liberdade, fraternidade. Bonito. Mas até a decapitação de Robespierre não podemos esquecer que houve um grande e cruel derramamento de sangue inocente. Pessoas que apenas eram injustamente acusadas de conspirar contra a nova ordem, perdiam suas cabeças nas guilhotinas francesas. Os filhos da antiga burguesia foram sistematicamente abandonados e pereceram prematuramente. Agora há outros Outros. Os imigrantes latinos, africanos, indianos e mulçumanos não são manos. Mesmo os que foram “batizados” e os proselitistas são tratados como seres inferiores. Hélio Pólvora, Escritor, Membro da Academia Baiana de letras, um senhor elegante de cabelos grisalhos, revela, no jornal A Tarde do dia 13/11/2010, na página 6 do Caderno 2, como foi tratado por uma garçonete americana. Diz ele:

Certa vez, em San Francisco, esqueci-me que não estava no Brasil e chamei uma garçonete assim: “Psiu!” Foi o bastante para que ela, uma loura magra de cabelo trançado e ancas estreitas, estourasse: - My name is not Psiu! I’m not a cat, do you understand? Please, call me waitress!” (Não me chamo Psiu. Não sou gato, entende? Queira chamar-me de garçonete). E, com ar escarninho, de fundo desprezo, resmoneou alto: - These mexicans! (Mexicanos duma figa). Fui à forra: - See here, waitress. I’m not Mexican. I came from a country more down southward. (Olhe aqui garçonte. Não sou mexicano. Vim de um país mais ao sul)
Certamente que esta garçonete concorda com a forma utilizada pela estudante de direito paulista, modificando apenas o conteúdo. Poderia ser assim: - Façam um favor aos EUA, matem um mexicano afogado na fronteira ou dentro dela. E assim vamos nós. Nordestinos, mexicanos, africanos, mulçumanos, sempre haverá alguém para bode expiatório. Sempre haverão candidatos para a “fogueira purificadora” da humanidade, de certa humanidade desumana.

Jesus nos fala que devemos orar e vigiar para não cairmos em tentação. Orar, sim. Pois há forças maiores que o próprio ser humano, forças silenciosas sustentadas em idéias de caça às bruxas, cultivadas em cada um de nós. Há idéias malévolas que insistem em nos controlar. Por isso, perdidos nesse antropocentrismo da barbárie, precisamos de Alguém Maior, de um Ser Superior onde nos apegamos para não sufocar em nosso próprio vômito. Mas não podemos esquecer que devemos fazer a nossa parte. Há uma margem de manobra de nossas ações e, por isso, além de orar, devemos vigiar. E o que é esse “vigiar’? É olhar e tecer sobre a vida dos outros, “os pecadores”? Não. É vigiar a nós mesmos. E não há outro caminho senão pensarmos sobre os pensamentos que residem em nós, que habitam nossa alma e que não confessamos nem para nós mesmos. Vigiar é olhar no espelho o reflexo de nós mesmos: Reflexão. É essa margem que nos cabe. Ver a imagem que se projeta, pois pode ser que, surpreendemente, possamos ver no espelho a estudante paulista ou a garçonete americana falando com outras palavras as mesmas idéias. Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

terça-feira, 2 de novembro de 2010

"Abra o ventre seu Brasil!"

Ninguém descobriu o Brasil, nem Pedro Álvares Cabral, nem os índios, nem Maurício de Nassau, nem os “Dons” dos Pedros e os cambau. O Brasil nunca existiu antes. Talvez agora é que esteja sendo descoberto. O Brasil não foi descoberto por uma razão óbvia: não existia Brasil para ser descoberto. No universo, tem um planeta semelhante ao nosso, com rochas, água, animais e vegetais de todos os tipos e variedades. Desejamos descobri-lo, e espichamos nosso olhar para os lugares possíveis. Quando encontrarmos, daremos um nome a ele, talvez parecido com terra ou com renovação, depende do sentido que o momento da descoberta vai ensejar. O Brasil, não foi descoberto. Foi inventado. E até hoje acontece isso. Inventamos esse pedaço de chão de 8 milhões de metros quadrados com muito suor, com enfrentamentos, batalhas, crenças, desejos, sapiência, loucura, corrupções, crimes organizados, política, religião, futebol, cerveja, favelas, engarrafamentos, cultura. O Brasil é tudo isso e muito mais. Esse conjunto de coisas, aparentemente desconexas e mosaicas, vai-se amalgamando dentro de um contexto de sentido amplo capitalista. E o Brasil vai sendo descoberto todos os dias, em cada esquina, em cada banca de jornal e revista, em cada centímetro redondo preenchido de cimento, pensamento, asfalto, sentimento.

O Brasil é um fluxo desigual de forças sudestinas e nordestinas, sulistas e nortistas. Ele, o país, vai e vem, sobe e desce. Sua demografia caminha em busca de humanidade, de sobrevivência, de trabalho, de dignidade. Somos um país que anda, que procura, que enfrenta o próprio país, ou melhor, uma parte do país que quer ser país sozinho. Eu vou descobrindo esse país, e tentando entendê-lo e estendê-lo. Suas fronteiras internas não estão apaziguadas, nunca estarão. O Nordeste se ergue e, sem ser convidado, amplia suas fronteiras São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul adentro. Os Nordestinos penetram tais fronteiras como “penetras”. Trabalham muito, ganham pouco e são discriminados. Os paulistas vem para a Bahia, por exemplo, em outras condições. Vem como chefes, consultores, donos de pousadas e hotéis nos lugares privilegiados do turismo, entre outras atividades em posições privilegiadas. Foi o historiador Cid Teixeira que, numa entrevista dada a uma revista, declarou que temos uma visão da Bahia for export. Vemos a nós mesmos com os olhos dos outros. O mito da preguiça do baiano, por exemplo, é construído por esse olhar de fora, que não compreende nosso modo de produzir nossa existência e, amparado em sua pretensa superioridade cultural, nos marca simbolicamente com o selo da preguiça. Por isso que eu admiro a construção poética de Chico César, paraibano e nordestino - pois há baianos, paraibanos e outros da região que não são nordestinos - quando ele canta recitando: "(...) A tinta pinta o asfalto enfeita a alma motorista, é cor na cor da cidade, batom no lábio nortista. E o olhar vê tons tão sudestes e o beijo que vós me nordestes arranha-céu da boca paulista." Quem construiu Brasília nos braços e na esperança de uma vida melhor? Quem deixou o aconchego da família perdido na distância e doído na saudade para construir São Paulo? Quem foi para o Norte no ciclo da borracha e ficou perdido para sempre na floresta? Foram os paulistas "legítimos", que herdaram de suas raízes européias a capacidade de trabalho e empreendimento? Nãooooo! Foram baianos, paraibanos, pernambucanos, cearenses, piauenses, sergipanos, alagoanos, entre outros nordestinos. E como nossa gente pode ser definida como preguiçosa e indolente? E o Brasil vai sendo tecido por gente de todos os lugares do Brasil e do mundo.

Segundo o professor Cid Teixeira não há apenas uma baianidade. Há várias. Eu concordo. Temos as baianidades soteropolitanas, tanto de São Tomé de Paripe quanto a de Cajazeiras e a da Vitória. São baianidades soteropolitanas bem diferentes. Temos a baianidade do Recôncavo, a do Oeste da Bahia, que é bem outra, a do Norte, lá pelos lados de Juazeiro. Temos também a baianidade de Jacobina e a baianidade de Porto Seguro. E temos também a baianidade que se decompôs, que é a baianidade de fronteira, como lá em Cândido Sales, onde não se torce nem para o Bahêêêêa, nem para o Vitória, mas para o Fluminense, Palmeiras, Flamengo, entre outros. Essa baianidade mantém uma relação superficial com Salvador, dirigindo-se para Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, São Paulo, Recife, Maceió, entre outras capitais, seja para resolver problemas de saúde, seja para procurar trabalho e esperança. A Bahia não chega às suas fronteiras, deixando-as cruzar os limites estaduais em busca de socorro em outros Estados, como órfãos que constroem suas identidades com os recursos culturais oferecidos pelo abandono. Ou pode ser que eu esteja enganado. Talvez esses baianos de fronteira desejem ardentemente cruzar definitivamente a linha imaginária que separa um Estado do Outro e assumir alegremente uma nova identidade geopolítica. Quem sabe?

O bom disso tudo é que a gente pode aprender sempre, observando os fluxos que ocorrem e que embelezam o nosso processo civilizatório inacabado, em permanente acabamento. Não podemos esquecer que esse fluxo também, e principalmente, é forjado no conflito, na feiúra, no enfrentamento, no posicionamento crítico que desvela as mazelas dos preconceitos, discriminações e operações de poder nocivas ao ser humano em sua plenitude, como a que aconteceu recentemente, conforme o contundente texto de José Barbosa Junior, cujo título pode bem ser: “Cale a boca, Nordestino!”, criticando a recente divulgação do ódio contra os nordestinos pela estudante de Direito, Mayara Petruso, que fez a seguinte declaração no twitter: "Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!". O Brasil deve sempre ser descoberto, há milhões de coisas a serem descobertas, pois a invenção do nosso povo não para, a criação de nossa gente “abre o ventre do mundo” – com pedido de permissão de expressão cunhada por Angélica, poetisa maior da PJMP (Pastoral da Juventude do Meio Popular) – e vai parindo, com alegria e dor, novas gentes e novas identidades multicolores geradas nesse ventre verde-amarelo.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel