sábado, 6 de março de 2010

Religiões: Católica, Marxismo, Capitalismo

A Bahia - digo a Bahia de modo bem abstrato, pois creio só conhecer direito meu bairro, e olhe lá! - está cheia de comunistas que vivem como burgueses, bem adaptados às benesses capitalistas. Os comuna querem carro do ano, com direção hidráulica e ar condicionado. Querem ir ao shopping e assistirem cinema americano, além de darem uma passadinha com os filhos no Macdonald's. Nunca vi um comunista burguês levar seus filhos na periferia da cidade para lhes ensinar o quanto são privilegiados nessa sociedade que eles insistem em chamar "de classe".  Os socialistas do PT, por exemplo, acederam ao poder e esqueceram de onde vieram. Agora são "dirigentes do Estado." Chique. Eu nunca vi um comunista abrir mão de pequena parte de suas posses e partilhar com os miseráveis. Não. Isso é assistencialismo e corrói a força revolucionária do proletariado e diminui a tensão que o capitalismo produz. Evidente, não vivemos numa sociedade da informação. Vivemos, ou melhor, sobrevivemos no duro capitalismo dos bancos públicos (Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil) e privados e seus financiamentos gulosos, que retiram do pobre iludido, através da propaganda enganosa, os parcos recursos que lhe sobram. A mais-valia nunca valeu tanto! Mas o que me incomoda são posicionamentos tidos como "progressistas", "revolucionários", que julga os outros a partir de suas crenças. É isso mesmo, crenças. O marxismo deixou de ser ciência há muito tempo para tornar-se uma crença, uma religião, que, como dizia Marx, é o ópio do povo. Este posicionamento parte do pressuposto de que o socialismo é a única saída para a humanidade, "o caminho, a verdade e a vida". No socialismo teríamos democracia, Teríamos? Ou por conta das forças contra-revolucionárias haveria um partido único e um discurso único? No socialismo o "pão" seria dividido corretamente pelo poder estatal. Seria? Ou, herdando a cultura patrimonialista da história de nossos ancestrais, o Estado, representado por pessoas comuns e suas fraquezas habituais, utilizaria o pão como propriedade privada para controlar o comportamento de alguns e obter vantagens pessoais através da corrupção? Ou será mesmo que alguns sociólogos descobriram cientificamente que a corrupção é uma marca singular do capitalismo tardio?     

Quem não é capitalista nem socialista tem de ter um discurso proselitista para poder escapar da vigilância discursiva dos marxistas, ou qualquer denominação mais à direita ou à esquerda. Tem uns caras que enchem o saco da gente com suas balelas de revoluções, de mudanças benfazenjas para todo o corpo social através da ruptura histórica que o tal "socialismo' trará. Para não ficar chateado, adoto o mesmo discurso, e o pobre coitado sai com a sensação de que conseguiu converter mais alguém para sua religião. Fica feliz, deixa de me atazanhar com suas pseudo-teorias e vai atazanar a vida de outro. De qualquer forma fico pensando no socialismo real. Não trouxe justiça, não trouxe felicidade, não trouxe democracia, não trouxe emancipação. Ao contrário: concentrou o poder nas mãos de poucos, assassinou muita gente, não realizou a socialização dos bens e produziu, com o capitalismo, a tensão destruidora da vida humana na terra, uma das maiores perversões políticas da história, ao lado do Teocentrismo da Idade Média. Esse socialismo que foi implantando na antiga URSS e no Leste Europeu eu não desejo nem para meus conhecidos socialistas de araque. Jorge Amado, um pouco antes de morrer, deu uma entrevista ao Jô Soares na qual falou algo que concordo plenamente. Segundo ele, prefereria morrer no regime capitalista que no regime socialista, pois no primeiro ele morreria como herói e, no segundo, como traidor da nação e dos seus interesses socialistas emancipatórios. Faço aqui um pequeno desconto para Cuba. Tem os defeitos da maioria dos regimes socialistas, mas trouxe possiblidades emancipatórias para muitos cubanos, nos limites do cerco imposto pelo perverso Estados Unidos da América, que, por seu lado, impõe sua religião capitalista com armas, soldados e dinheiro da mais-valia retirada da América Latina e do mundo.


Religião, religação. Capitalismo e socialismo, ideologias que esperam fiéis, que desejam multidões se curvando aos seus pés. Idéias que, apesar de serem produzidas pelos seres humanos, se tornaram senhoras deles, fazendo-os escravos de sua crenças e matando em nome delas, assim como a Igreja Católica o fez em nome de um idelogia que eles inventaram e deram o nome de "deus". O "deus " de lá eles! Tem muitos nichos de idades médias por aí adentro. Tem muita gente boa disposta a matar em nome do que eles chamam de convicções e que eu chamo de fanatismo religioso. Fato é que nenhuma dessas "religiões" trouxe paz e felicidade. A tensão entre deus e o diabo, socialismo e capitalismo, produziu muitos cadáveres, lágrimas, vinganças e sentimentos nada nobres que os acompanham. Toda religião exige um sacrifício magnífico: a católica, o sacrifício da cruz; o capitalismo, o sacrifício da coletividade social; o socialismo, o sacrifício do sujeito individual. Todas três são sistemas de hipocrisia que se alimentam de seus próprios desdobramentos históricos. Não podem ser abandonados pelos fiéis. Essa blasfêmia não é admitida muito menos perdoada.

[...]Você que inventou esse Estado, que inventou de inventar toda a escuridão
Você que inventou o pecado esqueceu-se de inventar o perdão.
Apesar de você amanhã há de ser outro dia...(Chico Buarque de Holanda)
Autoria: Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

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