sexta-feira, 26 de março de 2010

A Ignorância Conveniente

Paulo Freire nos fala que não existe alguém tão sábio que não tenha suas ignorâncias e que haja alguém tão ignorante que não saiba de nada. Todo sábio sempre ignora alguma coisa importante, e todo ignorante sempre sabe algo relevante. Sapiência e ignorância se complementam, e é a ignorância que está na raiz da sabedoria. Nesse sentido a ignorância não é negativa. Ela é o vácuo que enseja a curiosidade, “inquietação indagadora”, vontade de conhecer, necessidade de saber; ela, a ignorância, exige o conhecimento como alívio momentâneo da curiosidade, seja ele pelo senso comum, pela ciência, pela filosofia, pelo mito, pela religião. Porém, a ignorância, do ponto de vista ético, tem um aspecto devastador: a conveniência. Foi assim com Lula, que não sabia de nada, que não percebeu nada sobre o mensalão, que nunca antes na história desse partido havia testemunhado uma “maracutaia”. É assim agora com o Papa Ratzinger, que “não sabia” dos casos de pedofilia envolvendo seus sacerdotes. A ignorância conveniente, que dá título a esta reflexão, é o resultado da hipocrisia e do cinismo que envolve pessoas e instituições, demonstrando que a verdade não os libertará, ao contrário: os aprisionará. 
As igrejas adoram umas ovelhas. Ah, como elas são ótimas para a gente salvar do pecado! As ovelhas não sabem, não pensam, não tem capacidade de escolher o caminho de sua espiritualidade. Elas são o motivo da existência de papas, bispos, pastores, obreiros, freiras, padres, “irmãos”. A verdade vos libertará de todo pecado. Entretanto, apesar dos esforços salvacionistas de toda essa legião da boa vontade, penso que quem precisa serem salvas do pecado não são as ovelhas, mesmo porque duvido que existam ovelhas em se tratando de humanos, mas os próprios religiosos, que cedem à tentação por poder, dinheiro, sexo. Vou fazer uma brincadeira lógica:


1. Todo padre é um homem.
2. Toda freira é uma mulher.
3. Todos os homens e mulheres têm desejos sexuais


Logo, todos os padres e freiras têm desejos sexuais.


Como desdobramento, os casos de pedofilia, tão comentados ultimamente, mas que rola há muito tempo nas catacumbas dos conventos e mosteiros, são sexualidades reprimidas em nome do Deus que a tudo criou, inclusive o desejo sexual. Como só posso falar de minha experiência, quando eu fico sem fazer sexo por três dias ou mais, começa a me dar um comichão (Fig. Desejo impaciente, vontade incoercível de fazer algo.) que me atrapalha o sono, o trabalho, me tira a concentração. Ah!!! Como é que um padre, homem como eu, consegue ficar a vida toda? Lá no dominó de Duzinho no Calafate e no Bar do Tetios em Jacobina, o pessoal diz, em seu legítimo e insubstituível senso comum, que isso “sobe pra cabeça”. O cara fica doido e começa a fazer esquisitices.

A hipocrisia machista, que oprime e exclui muitos homossexuais, é uma dessas perversidades sociais que geram outras perversidades pessoais no plano privado das instituições religiosas. O indivíduo que sente prazer no ânus, vê-se vigiado e rejeitado pela família, pelos amigos, pela sociedade. Alguns desses, de personalidade frágil, não conseguem “sair do armário” e fogem ou se escondem nas instituições religiosas. O caso de Lucas Terra, assassinado por ter presenciado dois bispos da Igreja Universal do Reino de Deus em relações íntimas, até hoje rolando nos tribunais. O “pobre” do seu pai luta por justiça até hoje. Mantendo-se firme em seu amor paternal. Ele precisa de nossa solidariedade. Agora, os casos envolvendo padres pedófilos da Igreja Católica, que o Papa Ratzinger afirma não ter tomado conhecimento, apesar das evidências concretas em contrário, como a carta enviada para o mesmo quando ainda era bispo. Hoje e sempre é preciso que nem o Papa, nem o Bispo, nem os superiores religiosos saibam de nada. As ovelhas tosquiadas, centenas de crianças, foram sacrificadas nessa máquina de hipocrisia que atropela a verdade que libertaria, se fosse conhecida publicamente, mas que ocultada, envia ao cárcere dos infernos todos esses cínicos e hipócritas que pregam a salvação espiritual das ovelhas inventadas por eles. Não é o comunismo, nem o socialismo que destroem a religião e a religiosidade, aliás, essas jamais serão destruídas. Quem está destruindo a igreja, como instituição, é a hipocrisia, o machismo, o cinismo de seus representantes.

A ovelha é uma criação simbólica. As igrejas precisam de ovelhas, pessoas que, por não acreditarem mais em suas forças, são orientadas a sentir necessidade de “alguém mais puro” que elas, mais próximas de Deus, por assim dizer, para entregarem-se confiantemente em suas mãos, que as guiarão para o paraíso, ou coisa parecida. Nesse momento, a pessoa deixa de ser homem/mulher, e se torna ovelha, pronta para ser guiada. Perde a autonomia, perde a criticidade, perde a vontade própria, e, para mim, vai sendo desumanizada. As ovelhas enviam suas crias para serem igualmente ovelhizadas, mas o pastor está mais para lobo mau e perdeu o interesse pela vovozinha, ou seja, pela beata piedosa que reza, de verdade, pela nossa salvação.

A ignorância é conveniente agora, quando a notícia “vazou”. Enquanto tudo permanecia em silêncio atrás dos muros altos das igrejas, as crianças continuariam sendo “tosquiadas” pela perversão sexual de alguns religiosos. Mas agora é preciso, antes de salvar as crianças feridas psíquica e fisicamente pelo resto dos seus dias, salvar a re-putação religiosa dos envolvidos e, para isso, a ignorância é bem conveniente. Eu conheço um sujeito que, em função dos tais acontecimentos afirma o seguinte: - Quando o padre ou o pastor disser: - “Vinde a mim as criancinhas”., Caia Fora!!!

Autoria: Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

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