terça-feira, 1 de dezembro de 2009

SENNA E OS SEM-NADA



É Senna. É duro.
É tão duro ver um muro de concreto
diante da vida da gente.
Pensa, como é difícil
ter que suportar
tantos muros que nos cercam
nos exigindo a linha reta
nos proibindo a tangente.

É triste e doloroso
lutar como um leão por um prato de arroz
com farinha e feijão.
Sou humano:
e já tem tanto alimento
estocado.

É duro ter de aguentar
tantos defeitos mecânicos:
a fome, o despejo,
o latifúndio,
a miséria
o desemprego.

Que nos atira fora da pista
que nos cospe fora da vida
nos lançando contra a violência
concreta de um muro
de mentiras e preconceitos.

Joselito Manoel de Jesus, Professor, Poeta e Corredor de rua

Um comentário:

  1. Este poema eu fiz quando da morte inesperada e trágica de Airton Senna, um cara que muitos brasileiros aprendeu a amar e respeitar. Mas o poema responde à forma como a mídia espetacularizou a morte dele. Penso que, enquanto muitas crianças e muitos jovens morrem tragicamente pelas mãos de uma polícia assassina e de um governo omisso, negligente e incompetente, ninguém preocupa-se com os mesmos, nem denuncia a máquina social assassina e psicopata que se alimenta de gente, principalmente se essa gente for pobre, negra, mulher, homossexual, índio - que jovens de classe média alta podem queimar sem a devida punição. Os Sem-Nada clamam por justiça, por verdade, por solidariedade, por amor.
    Esse poema vai ao encontro desses clamores.
    Eu não quis melhorá-lo. Deve ficar assim para sempre, como poema que gritou em meu ser e precisou ser pronunciado dessa maneira, com essas precisas e preciosas palavras.
    Joselito

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joselitojoze@gmail.com