quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

SINAL DE LUTO

No horário marcado
uma mochila se atrasa 
os ponteiros se agitam
e agoniam um  peito.
O tempo corrói
uma alma que dói
aflita no parapeito.


A janela nervosa
esperando a esquina
suspender a cortina
e acabar o suspense
e  o tempo, calado,
prosseguiu os seus passos
pra encontrar o desfecho
na avenida à frente.


A paciência passou dos limites
e desceu as escadas,
esqueceu as sandálias
e foi desprevenida.
O coração? Não deu tempo
 foi na mão, não no peito
e sangrou na avenida.


O pranto respondeu à dor nua
a criança esgotou o tempo
no meio da rua
e olhos ambulantes
lavaram o asfalto
com lágrimas cruas.


Uma mãe em estado de choque
o olhar perdido na rua da morte
Uma dor impiedosa
atropelava sua sorte.


O sinal fechado
em sinal de luto
o trânsito em silêncio...
A criança atirada no absoluto
e a dor, insolúvel no pranto, 
continua latejando
num canto triste do tempo. 


Autoria: Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Um comentário:

  1. Eu não penso o poema para escrevê-lo. Ele vem, não sei de onde. Quando eu trazia trouxas de roupa, trouxas maiores que eu, menino raquítico e amarelo, da casa de minha tia Lourdes do IAPI, para minha mãe lavar, quase fui atropelado duas vezes. Um dia fiquei me tremendo tanto que fiquei um tempo enorme sem poder juntar as peças de roupa que caíram no meio da Avenida San Martin, por conta de um risco de atropelo. Ninguém queria saber dos perigos que uma criança de 12 anos corria ao levar uma trouxa daquele tamanho pra casa. Os filhos de Nair e de Zé eram filhos de ninguém. Podiam morrer à vontade, pois não fariam falta. Talvez esse poema seja isso: uma síntese de uma dor contida em mim, que dificilmente o tempo apagará.

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joselitojoze@gmail.com