Os shopping's estão lotados neste final de 2009. Todas as propagandas relativas ao Natal adotam o Papai Noel como o patrono dos presentes, de uma bondade comercial, de uma objetividade lucrativa, de uma sensação consumista. O "bom velhinho", com seus trajes característicos, enfrenta o calor dos trópicos sem adaptar o vestuário, afinal, sem aquela roupa vermelha, que se destaca em qualquer multidão, papai Noel perde a sua identidade. Eu fico imaginando um velho, com um saco nas costas num calor infernal desses de Salvador. Deve ter perdido o juízo. Papai Noel é um louco! Não que eu seja contra um velhinho fazer "bondades", mas tenho certeza que um morador do Pólo Norte, teria sérios problemas de adaptação aqui nos trópicos, além de desdobramentos nada auspiciosos para a saúde, principalmente se não vestisse roupas adequadas ao clima soteropolitano. O calor deve ter cozinhado o cérebro do bom velhinho. Ainda bem que ele só aparece com sua insanidade de ano em ano, pelo menos é mais assíduo que os políticos.
O grande problema da aparição daquele velho vestido com roupas sufocantes é a promessa de presentes que ele traz com seu "rô, rô, rô, rô..." O Papai Noel não fala de reconciliação, nem de piedade. Não fala de solidariedade, nem de justiça. Papai Noel não fala de desprendimento, nem de perdão. Papai Noel nos envia às compras! Papai Noel pede pra gente comprar, consumir, e confunde felicidade com realização de desejos consumistas. Eu, que fui filho e agora sou pai, tenho certeza que o maior presente de um pai e uma mãe para o filho é a sua presença educativamente amorosa, seu contato profundo mediado pelo balanço, pela caminhada no parque, pelo ensino de um assunto de difícil compreensão para a garota, o garoto. Um abraço de um pai não precisa de um presente escondido nas costas para a realização do encontro. Se tiver presente, que seja, mas não é este que deve mediar o encontro e estabelecer os parâmetros para a relação entre ambos. Pode ser que o presente passe uma mensagem negativa. Pode ser que o filho entenda que ser pai e ser mãe é sempre sacrificar-se para atender a todos os desejos mesquinhos da criança, do adolescente, do jovem, que, assim, vai se tornando um tirano, um ego inflado de arrogância e prenhe de valores mesquinhos, que têm como horizonte o próprio umbigo, como alguns que conheço. O velhinho talvez não seja tão bom assim como a propaganda comercial aponta.
Mas eu acredito em outro Natal. Para lá de ser cristão. Eu li em algum lugar, onde o autor dizia que acredita em Cristo, apesar dos cristãos. Eu acredito em Cristo, apesar dos católicos, dos evangélicos, dos protestantes de modo geral. O Natal de Cristo, é nascimento. Natal, natalidade, nascimento, esperança. Eu acredito num Menino que nasceu enfrentando a morte, a rejeição da sociedade, a vontade do aborto que Herodes desejou promover, para que o poder continuasse contigo, para que o poder de decisão fosse sempre seu, para que o povo jamais tivesse acesso à emancipação plena de sua humanidade. Este Natal fala de justiça, de solidariedade, de partilha, de perdão, de reconciliação, de mudança de atitude perante um mundo consumista, que precisa provar que ama o outro pela mediação preponderante da mercadoria. O Natal de Cristo aponta para a última esperança: a do ser humano liberto dos demônios que o consomem e não permitem que ele se emancipe de todas as mazelas que o afastam de um mundo completamente diferente: o Reino de Deus. Jesus nasceu pobre e morreu como marginal. Em sua vida ele nos ensinou, na prática, o que era Natal. Foi para nascer outro ser humano que Ele nasceu. E o nascimento de Cristo não foi estático. Ele foi se encarnando na cultura do povo. foi apreendendo o seu jeito, foi compreendendo o seu sofrimento. Vestia-se como eles e trabalhava como eles. O que era destaque em Jesus não foi uma roupa chamativa, ou um riso particular, como uma marca de uma mercadoria. Foi o que ele fez enquanto viveu e a mensagem que deixou.
Jesus não teria problemas de adaptação com o calor de Salvador, afinal, na Palestina a "quintura" também é grande. Ele não era loiro de olhos azúis. Devia ser um cabloco queimado de sol, andarilho que era, devia ter os pés rachados. Se encarnado em nosso tempo Jesus fosse, tenho certeza que Ele moraria num lugar parecido com o Calafate. Talvez não tivesse tempo para jogar um dominó em Duzinho, mas passaria lá para dar uma boas risadas com a gente. O presente de Jesus não é uma mercadoria que a gente pode adquirir dividindo no cartão em trocentas prestações nos shopping's do mundo. O presente de Jesus é a possibilidade renovada todo Natal de podermos ser melhores do que fomos durante o ano anterior. Eu vou tentar dar esse presente para mim e para quem amo. Mas se você acredita em Papai Noel, pode encontrá-lo nos melhores shopping's da cidade. Adquira sua felicidade nas lojas dos shopping's e tenha o Natal que merece. Rô rô rô rô rô rô...
Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel